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O Supremo Tribunal israelense suspendeu nesta quarta-feira (19) a ordem de detenção administrativa contra o preso palestino Mohammed Allan, que está em greve de fome há dois meses. O palestino continuará hospitalizado.

O destino de Allan tem atraído há vários dias a atenção da opinião pública palestina e pôs em dificuldade o governo de Israel, que está consciente do risco de uma nova onda de violência em caso de morte do palestino. O país, porém, não quer demonstrar que pode ceder a uma chantagem.

“Devido à condição médica na qual está o peticionário, ele vai seguir em cuidados intensivos”, declarou o tribunal em uma sentença.

“Isso significa que, por enquanto, diante de seu estado de saúde, a ordem de detenção administrativa não está ativa”, informa o comunicado da corte.

A sentença indica ainda que o palestino de 31 anos deve receber tratamento igual a qualquer outro paciente.

“Sua família e seus amigos poderão visitá-lo normalmente”, explicou o tribunal.

“Quando seu estado se estabilizar, se Allan quiser ser transferido a um outro hospital, ele deverá fazer a demanda às autoridades. Em caso de dificuldade ou desacordo, será possível recorrer ao tribunal”, acrescenta a sentença.

Cérebro atingido

Allan, em greve de fome há dois meses, recuperou a consciência na terça-feira (18) e deu 24 horas a Israel para que resolva seu caso, sob pena de rejeitar qualquer líquido ou cuidado médico, informou a associação de prisioneiros palestinos.

Ao despertar, depois de vários dias em coma, Allan disse a seus médicos que continuará em greve de fome até conseguir sua libertação e que, “se não houver uma solução para seu caso em 24 horas, pedirá que cessem todos os cuidados médicos e deixará de beber água”, informou em comunicado a associação que o apoia.

Um dos advogados de Allan, Jamil al-Khatib, observou que, “de acordo com o último relatório médico, o cérebro [de seu cliente] foi atingido” devido à sua greve de fome.

Chezy Levy, diretor do hospital onde está Allan, confirmou a lesão cerebral.

“Mohammed começou gradualmente a perder contato com seu ambiente, suas palavras não eram coerentes, o que pode indicar um problema com o cérebro”, disse à imprensa.

“O dano em si não põe sua vida em perigo, mas faz parte de um contexto geral que coloca sua vida em perigo”, ressaltou.

Um médico do hospital de Ashkelon, onde o palestino está internado, informou na segunda-feira (17) que o detento provavelmente não sobreviveria se retomasse a greve de fome depois de sair do coma.

Até o momento ele se negava a receber tratamento médico e a ser alimentado, mas bebia água. Caso deixe de beber água, seus dias estarão contados.

Advogado

Allan, um advogado de 31 anos que a Jihad Islâmica -movimento considerado “terrorista” por Israel- apresenta como um de seus integrantes, foi detido em novembro do ano passado e iniciou a greve de fome em 18 de junho para denunciar a renovação de sua detenção administrativa.

Este dispositivo de lei permite às autoridades israelenses deter palestinos por um período de seis meses, renovável, sem a necessidade de uma acusação legal.

A Jihad Islâmica advertiu que, se Allan morrer, o grupo vai considerar quebrada a trégua vigente com Israel.

O destino do advogado mobilizou a opinião pública palestina e aumentou as pressões internacionais sobre as condições carcerárias em Israel.

Para evitar o risco de que uma morte possa provocar uma crise nos territórios ocupados, o Parlamento israelense aprovou uma lei no fim de julho que permite alimentar à força um detento em greve de fome.

O governo de Israel poderia aplicar esta nova legislação pela primeira vez no caso de Allan. Mas a prática é criticada por organizações de defesa dos direitos humanos, que a consideram algo próximo à tortura. A associação que representa os médicos israelenses é contrária à opção.

Na segunda-feira (17), o governo israelense propôs a libertação de Allan se ele aceitasse um exílio de quatro anos. Mas o advogado do palestino rejeitou categoricamente a oferta.

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