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O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte (à esquerda) e o ministro do Interior Matteo Salvini em coletiva de imprensa em Roma, em 14 de janeiro de 2019. Salvini defendeu nesta quinta-feira (8) a antecipação das eleições nacionais na Itália
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte (à esquerda) e o ministro do Interior Matteo Salvini em coletiva de imprensa em Roma, em 14 de janeiro de 2019. Salvini defendeu nesta quinta-feira (8) a antecipação das eleições nacionais na Itália| Foto: Vincenzo PINTO / AFP

O governo populista da Itália chegou à beira do colapso na noite desta quinta-feira (8), quanto o vice-premiê Matteo Salvini pediu novas eleições e disse que os dois membros da coalizão de governo não têm mais a maioria no Parlamento.

"Vamos dar novamente a escolha aos eleitores, o mais rápido possível", disse Salvini, que notificou o primeiro-ministro Giuseppe Conte sobre a sua vontade e de seu partido.

A bola está com o presidente Mattarella

A dissolução do primeiro governo totalmente populista da Europa Ocidental não é definitiva, e as decisões sobre a dissolução do parlamento dependem do presidente da Itália, que, segundo os especialistas, reluta em empurrar a nação para um período de campanha durante o verão, que costuma ser monótono. Conte não renunciou e, em vez disso, disse que Salvini era responsável por uma crise do governo - e teria que explicar suas razões aos eleitores.

Mas a jogada de Salvini parece marcar um ponto de virada na relação desgastada entre os dois partidos populistas divergentes - um com tendência à esquerda que tem perdido popularidade nesses 14 meses no poder, e o outro alinhado à direita e que praticamente cooptou o governo com a força da personalidade de Salvini.

Salvini, que também é ministro do Interior, empurrou o governo para a corda bamba não apenas por causa das diferenças com o Movimento Cinco Estrelas, mas em uma tentativa de ganhar maior poder e talvez se tornar primeiro-ministro. Novas eleições poderiam consolidar a guinada da Itália para a direita, com a Liga de Salvini formando um novo governo com um partido menor mais à direita.

Mas o presidente italiano Sergio Mattarella não indicou como gostaria de prosseguir. Roberto D'Alimonte, professor de ciência política na Universidade Luiss Guido Carli, disse que Mattarella poderia resistir a dissolver o parlamento durante um período em que deveria estar em recesso, e no momento em que o governo está se preparando para lidar com uma crucial lei de orçamento. Mattarella também poderia tentar ver se outros partidos conseguem formar uma maioria temporária como forma de evitar a necessidade de novas eleições.

"Salvini está apostando - não há dúvida de que ele está apostando", disse D'Alimonte. "Se ele perceber que não vai conseguir antecipar as eleições, ele vai recuar" e continuar com a coalizão.

A Liga na liderança

Um governo liderado pela Liga seria menos turbulento do que o que governou a Itália nos últimos 14 meses - nesse período os membros da coalizão se enfrentaram por projetos de infraestrutura, trocaram insultos e pressionaram o outro lado com alegações de corrupção. Os jornais italianos documentaram as tensões como um reality show, relatando que em alguns períodos Salvini e o líder do Movimento Cinco Estrelas, Luigi Di Maio, não estavam falando um com o outro.

Na quinta-feira à noite, Conte disse que não cabe ao ministro do Interior - Salvini - convocar o parlamento ou provocar uma crise.

"Caberá ao ministro do Interior, em seu papel de líder da Liga, explicar ao país e justificar aos eleitores que acreditaram na perspectiva de mudança as razões que o levaram a interromper as coisas antes do tempo", Conte disse.

Nas eleições para o Parlamento Europeu em maio, a Liga selou seu lugar como o partido mais popular da Itália, ganhando 34% dos votos, o dobro do conquistado nas eleições nacionais do ano anterior. Desde então, a Liga continuou a crescer em popularidade, mesmo depois da divulgação de uma gravação de áudio vazada que supostamente mostra um aliado de Salvini discutindo um esquema de financiamento secreto com russos em um hotel em Moscou.

Salvini rejeitou todas as acusações de irregularidades e continuou em modo de campanha, traçando um itinerário de verão para eventos em cidades de praia do sul da Itália. Em um desses eventos, na noite de quarta-feira, Salvini falou quase melancolicamente sobre os primeiros meses da coalizão, mas disse: "Não nego que nos últimos três meses algo mudou, algo se rompeu".

Di Maio disse na noite de quinta-feira que Salvini havia derrubado o governo porque "colocou as pesquisas eleitorais à frente dos interesses do país".

Se houver novas eleições, é quase certo que o Movimento das Cinco Estrelas perderá terreno. Antes de ganhar o poder, o partido anti-establishment tornou-se uma força rebelde, fazendo campanhas contra a corrupção e promessas de proteção ambiental, e prometendo colocar as importantes decisões internas do partido em votação pela internet. Mas, no governo, o partido foi ofuscado pelo estilo forte de Salvini: uma mistura de hostilidade a migrantes e opositores, sempre tuitando sobre sua vida cotidiana, lembrando o presidente Trump.

O estopim da crise

As tensões entre a Liga e o Movimento Cinco Estrelas têm sido constantes desde o início da coalizão há 14 meses. Mas nesta semana, as tensões foram exacerbadas pelo debate sobre um projeto de infraestrutura - uma ferrovia entre Turim, na Itália, e Lyon, na França.

A Liga, com sua base no norte industrial do país, apoiou o acordo. Mas membros do Cinco Estrelas dizem que o projeto custará muito caro e também causará riscos ambientais. Depois que os dois partidos se dividiram em uma votação na quarta-feira sobre o projeto, Salvini disse que não estava interessado em ficar no governo para manter "as cadeiras aquecidas".

"O que vai acontecer nas próximas horas?" ele perguntou.

"A Itália precisa de certezas e de escolhas corajosas e compartilhadas", diz um comunicado da Liga e de Salvini divulgado nesta quinta-feira. "É inútil seguir adiante com 'nãos', adiamentos, bloqueios e brigas cotidianas. Cada dia que passa é um dia perdido. Para nós, a única alternativa a este governo é dar a palavra aos italianos com novas eleições", continua o comunicado.

O vice-primeiro-ministro Luigi Di Maio disse que está pronto para ir às eleições, mas pediu aos legisladores que deem aprovação final a uma lei que reduziria drasticamente o número de assentos no Parlamento. Luigi Zingaretti, líder da oposição do Partido Democrata, disse estar "pronto" para uma nova votação.

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