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Nesta foto de 7 de janeiro, Rahaf Alqunun é acompanhada por oficiais da migração tailandesa e do Alto Comissariado da ONU para Refugiados no aeroporto internacional de Bangcoc | AFP
Nesta foto de 7 de janeiro, Rahaf Alqunun é acompanhada por oficiais da migração tailandesa e do Alto Comissariado da ONU para Refugiados no aeroporto internacional de Bangcoc| Foto: AFP

Nesta sexta-feira (11), uma jovem saudita que fugiu de sua família alegando que temia ser morta teve asilo concedido no Canadá, disse uma autoridade na Tailândia. 

A decisão de dar abrigo a Rahaf Mohammed Alqunun, de 18 anos, encerrou um drama de quase uma semana que destacou o poder das mídias sociais de chamar a atenção para seu caso e reverter os planos iniciais das autoridades tailandesas, que iriam deportá-la de volta ao Kuwait, onde Rahaf passava férias com a família quando fugiu.

Saiba mais: ONU acolhe jovem saudita que alega ter fugido de abusos da família

O Canadá está “encantado” de receber e dar asilo à adolescente, afirmou nesta sexta-feira o premiê canadense, Justin Trudeau. Rahaf embarcou, na noite desta sexta, em um voo da companhia aérea Korean Air de Bangcoc, na Tailândia, para Seul, na Coreia do Sul, onde tomaria um voo a Toronto, no Canadá, segundo o chefe da imigração tailandesa, Surachate Hapkarn.

"Concedemos asilo a ela. Estamos encantados por fazê-lo porque o Canadá é um país que leva em conta até que ponto é importante defender os direitos do indivíduo e das mulheres no mundo todo", afirmou Trudeau.

O apelo de Rahaf para o status de refugiada também ressaltou as severas restrições que as mulheres na Arábia Saudita enfrentam. Sob as estritas leis de guarda do reino, as mulheres adultas devem obter permissão de um guardião do sexo masculino para viajar para o exterior, casar ou ser libertada da prisão. Em alguns casos, o consentimento de um homem também é necessário para trabalhar. 

Rahaf, que foi detida pelas autoridades tailandesas, fez uma barricada em seu quarto e exigiu uma reunião com representantes do Alto Comissariado da ONU para Refugiados. 

Usando o Twitter, Rahaf documentou o impasse em tempo real, atraindo dezenas de milhares de seguidores. Um grupo informal de ativistas e amigos reforçou sua campanha nas mídias sociais usando a hashtag #SaveRahaf e conseguiu evitar a deportação. Ela foi admitida na Tailândia na segunda-feira, enquanto a ONU processava seu pedido. 

O chefe do departamento de imigração da Tailândia, Surachate Hakparn, disse que Rahaf partiria em um voo que a levaria a Toronto. 

“Hoje Rahaf recebeu o status de refugiada”, disse ele a repórteres. 

A agência de refugiados da ONU coordenou com as autoridades canadenses para reassentá-la lá, e ela estará sob os cuidados da Organização Internacional para as Migrações assim que chegar, acrescentou. 

Vários outros países, incluindo a Austrália, disseram que poderiam receber Rahaf como refugiada. 

Rahaf, de Hail, no noroeste da Arábia Saudita, disse que temia ser morta se fosse forçada a voltar para sua família. Seus amigos disseram que ela sofria abuso nas mãos deles. 

O pai e o irmão de Rahaf, que negaram qualquer acusação de abuso, viajaram para a Tailândia e tentaram encontrá-la, mas Hakparn disse na sexta-feira que ela havia recusado a reunião. 

Rahaf desativou sua conta no Twitter na sexta-feira. Vários apoiadores, incluindo a jornalista Sophie McNeill, que esteve em contato com a jovem durante o caso, disseram no Twitter que ela estava bem, mas havia recebido ameaças de morte. 

“Rahaf temporariamente suspendeu sua conta no Twitter porque ela estava recebendo algumas ameaças de morte muito sórdidas e muito reais. Não tenho certeza quando ela voltará”, tuitou Phil Roberston, diretor da Human Rights Watch na Ásia e pediu ao Twitter que fechasse essas contas. 

O destino original da jovem era a Austrália, onde ela esperava se juntar a outras mulheres que fugiram da Arábia Saudita. 

De acordo com o The New York Times, autoridades tanto do Canadá quanto da Austrália entrevistaram Rahaf como parte do processo de repatriamento. Segundo Surachate, citado pelo jornal, a jovem preferiu o Canadá. 

As relações entre o Canadá e a Arábia Saudita pioraram nos últimos meses depois que Ottawa pressionou o reino saudita pela libertação de ativistas de direitos humanos. A Arábia Saudita retaliou expulsando o embaixador canadense e cortando negócios bilaterais.

Rota de fuga

A Tailândia, que não é signatária da Convenção de Refugiados de 1951, tem um histórico contraditório sobre a maneira como lida com os requerentes de asilo. O país assinou tratados internacionais de direitos humanos que impedem a deportação de pessoas para lugares onde corram sérios riscos. 

O país tem servido como uma popular rota de fuga para desertores norte-coreanos, que geralmente são deportados para a Coreia do Sul. No entanto, em 2015, as autoridades deportaram cerca de 100 muçulmanos uigures de volta à China, provocando reação de grupos de direitos humanos e dos Estados Unidos. 

Mais recentemente, Hakeem al-Araibi, 25 anos, um ex-jogador de futebol do Bahrein que havia recebido o status de refugiado na Austrália depois de se manifestar contra um oficial do Bahrein, foi detido no final de novembro na Tailândia. Ele tinha viajado ao país para a sua lua de mel. 

Marise Payne, ministra de Assuntos Externos da Austrália, disse na quinta-feira que manifestou preocupação com a detenção do jogador junto às autoridades tailandesas durante sua viagem ao país. 

“O governo tailandês está certamente ciente da importância deste assunto para a Austrália”, disse Payne a repórteres.

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