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Manifestante atira pedra em veículo da polícia durante protestos em Santiago, Chile, 24 de outubro de 2019
Manifestante atira pedra em veículo da polícia durante protestos em Santiago, Chile, 24 de outubro de 2019| Foto: Martin BERNETTI / AFP

Novos casos de violações de direitos humanos aplicadas a manifestantes no Chile foram revelados ainda na madrugada de quarta-feira, 23. De acordo com uma das 31 reclamações judiciais abertas pelo Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) do país, três homens e um menor de idade de 14 anos teriam sido presos pelos policiais e "'crucificados' na estrutura metálica da antena" da delegacia da região de Peñalolén, bairro de Santiago, segundo documento adquirido pela imprensa chilena.

O caso ocorreu na madrugada de segunda-feira, quando o grupo foi acusado de roubo. Spray de gás de pimenta e golpes também foram utilizados nos detidos. O INDH confirmou em sua conta no Twitter que os homens foram amarrados na estrutura metálica e que uma ordem de afastamento judicial havia sido emitida contra os policiais, para que não se aproximem das vítimas, sem especificar o número de agentes envolvidos no caso.

A instituição dos Carabineros (nome dado à Polícia militar chilena) confirmou a existência da investigação, mas disse que não poderia se manifestar e nem "confirmar algo que está sendo investigado, até que saia o resultado". A polícia reiterou que há diversas denúncias de violações de direitos humanos e que por serem "investigações diferentes, os procedimentos também são distintos", o que, de acordo com a instituição, também impossibilita a emissão de um único posicionamento que sirva para todos.

Uma outra investigação em aberto se refere às acusações feitas ainda na terça-feira de que a estação de metrô Plaza Baquedano, em Santiago, desativada desde o início dos protestos, está sendo utilizada pela polícia como centro de tortura e agressões físicas. Uma perícia inicial com dois delegados e uma integrante do INDH não encontrou provas das acusações, mas mesmo assim a investigação foi aberta.

O INDH também denunciou em reclamações formais nove casos de violência sexual praticada por policiais em detidos, incluindo em um menino que estava acompanhado do tio. Seis pessoas foram obrigadas a ficar nuas e realizar agachamentos nas delegacias, enquanto duas mulheres foram ameaçadas de estupro por policiais e militares. Uma outra foi tocada nas partes íntimas.

Nem os funcionários do próprio instituto ficaram ilesos de ataques da polícia, que disparou jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo contra um grupo de três observadores do instituto, ainda no fim de semana. De acordo com o INDH, eles estavam devidamente equipados, com coletes e capacetes amarelos que levam o nome do instituto.

Após sessão na Comissão de Direitos Humanos do Senado nesta quinta-feira, 24, o diretor geral dos Carabineros, Mario Rozas, garantiu que há "protocolos de atuação" que garantem o encaminhamento das investigações referentes às ações dos policiais. Rozas também negou o uso da palavra "repressão", reiterando que a polícia utiliza o termo "controle da ordem pública" para justificar sua atuação na contenção dos protestos, incluindo o uso de balas de borracha contra manifestantes, que faz parte de um protocolo padrão.

No último balanço divulgado na tarde de quinta-feira pelo INDH, 2,6 mil pessoas estão detidas em todo o país desde o dia 18, entre elas quase 300 crianças e adolescentes. Do total de 584 pessoas feridas, 245 foram por armas de fogo. O instituto abriu 59 ações judiciais, sendo cinco delas por casos de homicídios cometidos pelas forças policiais e do Exército chileno, que também trabalha nas ruas desde o decreto de estado de emergência em diversas regiões do país.

Segundo dados oficiais, os embates já deixaram 18 mortos, mas de acordo com o INDH, há casos subnotificados de mortes provocadas pelos agentes.

O aumento das denúncias e o apelo feito a ex-presidente do Chile e alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, inclusive em forma de convite do presidente Sebastián Piñera, fez com que a ONU enviasse na quinta-feira uma missão ao país para investigar os casos.

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