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O bairro operário 23 de Enero fica próximo ao centro da capital. Ali, o sucateamento de ruas e prédios se contrapõe à redução da criminalidade | Célio Martins/Gazeta do Povo
O bairro operário 23 de Enero fica próximo ao centro da capital. Ali, o sucateamento de ruas e prédios se contrapõe à redução da criminalidade| Foto: Célio Martins/Gazeta do Povo

Entrevista

Na parte alta da região norte de Ca­­racas fica o "Chávez criou um mundo paralelo"

Instituto de Estudos Su­­periores de Administração (Iesa), uma escola voltada a empreendedores. Alguns dos professores da instituição vieram das universidades mais renomadas da Venezuela, como o economista Carlos Machado Allison.

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  • Conheça as principais características da região

Caracas - Do Palácio de Miraflores, sede do governo, no centro velho de Ca­­racas, veem-se enormes blocos de edifícios deteriorados e um amontoado de casas de tijolos à vista sobre os morros no lado oeste da cidade. Ali fica um dos enclaves da resistência à tentativa de golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez em 2002. Trata-se de 23 de Enero, um bairro operário com mais de 100 mil habitantes e que está servindo de laboratório para a revolução so­­cialista do governo Hugo Chávez.

Como a Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, o 23 de Enero se localiza bem perto de lugares ri­­cos da capital venezuelana. A principal linha do metrô tem uma estação, a Agua Salud, a poucos metros da comunidade. A diferença mais evidente em relação ao bairro carioca está na solução do problema da violência.

A polícia bolivariana se instalou em inúmeros locais do bairro. Várias missões socialistas atuam na região, incluindo professores de esportes cubanos. Em cada bloco foi criada uma comuna, organização de moradores que controla a comunidade.

Um dos destaques do trabalho coletivo são as rádios comunitárias. "Não transmitimos apenas informação. Atuamos também na conscientização das pessoas. É uma emissora alternativa que busca reforçar a concepção revolucionária", diz Izabel Aldano, jovem apresentadora da Rádio Arsenal FM, do movimento Ale­­xis Vive, um dos mais atuantes do bairro.

As comunas organizaram os chamados "abastos", pequenos armazéns para fornecer produtos de primeira necessidade aos mo­­radores. Carne, feijão e leite trazidos de fábricas recém-expropriadas são vendidos a preços 50% in­­feriores ao praticado no mercado.

O maior trunfo da organização, e que está rendendo votos ao governo, é a redução da criminalidade. "Hoje nossas crianças po­­dem circular sem perigo", conta Digna Villarroel, moradora do bairro há 15 anos. Por meio de trabalho voluntário, as crianças são incentivadas a não consumir drogas, a praticar esportes e a frequentar a escola.

O governo contribuiu na instalação de vários equipamentos públicos, como bibliotecas, centros culturais e de saúde.

Os moradores iniciaram uma criação de peixes em enormes tanques de plástico e planejam implantar um banco popular para oferecer microcrédito. Há ainda um projeto em andamento para a construção de uma fábrica de blocos de cimento.

Mas nem tudo é uma maravilha. Muitos dos blocos e ruelas são imundos. Há entulhos por toda parte e os prédios, construídos nos anos 1950 e 1960, estão deteriorados. Sucatas de carros antigos se amontoam nos pátios. Os grupos de desempregados proliferam.

Apesar do apoio maciço ao governo socialista, não há unanimidade. "Não defendo Chávez. Esse governo é de todo mal. Dis­­tribui ajuda a quem não gosta de trabalhar", critica Naudy Aran­­guren, motorista aposentado do transporte coletivo que mora no 23 de Enero faz 40 anos.

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