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Casal de libaneses inspeciona sua casa, destruída pela explosão em Beirute| Foto: JOSEPH EID/AFP

A explosão em Beirute ocorreu no pior momento possível – em meio ao colapso econômico e à pandemia do coronavírus – e reflete as dificuldades do Líbano, afirma o professor de história e estudos culturais Habib Malik, da Universidade Americana do Líbano. Para ele, o país foi sequestrado pelo grupo xiita Hezbollah, que tem grande influência sobre o atual governo e impede que o país faça reformas necessárias.

Para Malik, o fato de haver uma quantidade enorme de produtos inflamáveis em uma área tão populosa é um dos exemplos da má gestão. Ele acredita que agora a revolta da população, que já tomava as ruas antes do incidente, vai aumentar. "As pessoas não aguentam mais esse governo e quem controla isso, o Hezbollah", afirma. Confira a entrevista.

Qual o significado dessa explosão para o atual contexto político do Líbano?

Essa explosão deixa claro todos os problemas do Líbano. Primeiro de tudo, uma quantidade enorme de produtos químicos guardada em uma região populosa e importante de Beirute. Segundo, mostra a corrupção da classe política, que permite essa situação, recebendo dinheiro para isso. Esse incidente resume a corrupção e o fato de o Líbano estar preso no conflito entre Israel e Irã (aliado do Hezbollah).

O país enfrentava protestos antes da explosão. O incidente agrava a situação?

Sem dúvida. Essa explosão ocorre em um dos piores momentos possíveis. Estamos lutando contra a pandemia do coronavírus, contra o colapso econômico e financeiro. E estamos sob um governo completamente ineficiente e controlado pelo Hezbollah. O Hezbollah sequestrou o Líbano e está se beneficiando do empobrecimento do país. Eles não querem que o governo faça reformas.

As manifestações contra o governo devem continuar?

Não vão parar. Elas pararam no inverno e na primavera em razão do vírus. Agora, as pessoas nem estão pensando no vírus, mesmo num momento em que os números estão subindo. Tudo porque temos todos esses problemas. As pessoas não aguentam mais esse governo e quem controla isso, o Hezbollah. Eu diria que cerca de 70% das pessoas hoje estão contra o governo e contra todo esse processo político, com esse envolvimento do Líbano com o Irã. Se a população continuar indo para as ruas, haverá um impacto.

Por que o Líbano chegou a essa situação de colapso econômico e social?

Porque por muitos anos o Líbano foi controlado por uma máfia de políticos criminosos que basicamente pegava o dinheiro de doações internacionais para ajudar o país, colocava no bolso e deixava muito pouco para o país. Então, há uma infraestrutura ruim e poucos resultados. Era empréstimo e roubo. Depois, foram aos nossos bancos. Disseram que os bancos precisavam emprestar dinheiro ao governo. Por meio do Banco Central, os bancos emprestaram dinheiro do povo para o governo, dinheiro de pessoas como eu, como qualquer libanês. E eles continuavam roubando. Fomos vítimas de um cartel organizado que roubou o país sistematicamente por anos.

O senhor mencionou bastante o Hezbollah. Que papel esse grupo tem na situação atual?

O Hezbollah sempre esteve protegendo esse cartel que controla o Líbano. É de interesse deles que o Líbano seja dependente da corrupção daqueles que eles controlam para que consigam continuar com seus esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro. Quanto mais empobrecidos e dependentes os libaneses estiverem, mais eles aceitarão qualquer coisa, a aproximação com Irã, com a China. É um exemplo claro de um parasita que vive da miséria de seu hospedeiro.

O Brasil tem uma grande comunidade libanesa. De que forma a comunidade internacional pode ajudar na reconstrução do país?

Temos realmente muitos amigos e parentes no Brasil. A comunidade libanesa nos ajudou muito ao longo dos anos. Eu diria que o Líbano foi sequestrado pelo Hezbollah, pelo Irã e por essa classe política criminosa. Se os libaneses no Brasil e no exterior quiserem ajudar o Líbano, eles devem criar fundos fora do Líbano que eles mesmos controlem. Um fundo sério para as futuras gerações do Líbano, evitando de qualquer maneira que o governo ou partidos políticos tenham acesso a isso. E aí o dinheiro e o apoio poderiam ir diretamente para escolas, universidades, hospitais e ONGs que sejam de fato responsáveis.

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