Washington - Primeiro chefe de Estado da América Latina a se encontrar com o presidente dos EUA, Barack Obama, após sua posse em janeiro, o presidente Luis Inácio Lula da Silva desembarca hoje à noite em Washington para, nas palavras do próprio Lula, pedir que "os EUA mudem seu olhar sobre o país e sobre a América Latina". O presidente brasileiro pedirá ainda a Obama que deixe de lado a antiga (e anacrônica) abordagem que separa a região entre aliados e inimigos políticos, com ênfase no combate ao crime organizado, e passe a adotar uma postura mais cooperativa voltada para o combate à miséria e pelo desenvolvimento da região.
Tanto um país quanto outro enfrentam uma crise econômica sem precedentes, cujos reflexos no relacionamento comercial e de investimentos bilateral deverão roubar boa parte do tempo da agenda de discussões. Mas ainda que as relações entre Brasil e EUA amarradas durante o governo do presidente George W. Bush e especialmente pelo subsecretário do Departamento de Estado para a região, Thomas Shannon, ainda no cargo sejam consideradas boas pelo governo brasileiro, o fato é que anos de guerra ao terror distanciaram os EUA da América Latina.
"Apesar de modestas melhoras nos últimos dois anos, as relações dos EUA com os países das Américas continuam no seu ponto mais baixo desde o fim da Guerra Fria", afirma Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, um dos mais influentes centros de estudos do continente em Washington. "Obama precisa da cooperação de Brasil e México para lidar com praticamente todos os desafios da região e que vão de uma ação coordenada para conter a crise econômica, reverter mudanças no clima até o combate ao narcotráfico ou a ampliação da parceria energética."
O que significa que, desta vez, a conversa de Lula com Obama irá bem além do já antigo pleito pelo fim das barreiras tarifárias ao etanol brasileiro ou à redução dos subsídios agrícolas que afastam os produtos agropecuários brasileiros do mercado norte-americano. Até porque, com um Congresso de maioria democrática francamente protecionista num momento de crise, tanto um quanto outro apelo têm pouca chance de serem atentidos no curto prazo.
Mas Lula encontra na Casa Branca um presidente mais receptivo à idéia de que o Brasil se tornou um líder regional inegável.