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Crise

Lula reafirma que Brasil não reconhecerá eleição em Honduras

Presidente brasileiro admitiu porém possibilidade de mudança de visão quanto ao reconhecimento de Porfírio Lobo

Presidente Lula ao lado de outros líderes em encontro da Cúpula Ibero-Americana | Reuters
Presidente Lula ao lado de outros líderes em encontro da Cúpula Ibero-Americana (Foto: Reuters)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou nesta terça-feira, em Estoril, Portugal, que não reconhecerá a vitória de Porfírio "Pepe" Lobo à presidência de Honduras na eleição realizada no domingo.

Valendo-se de frases fortes sobre a crise na América Central, o chefe de Estado brasileiro foi duro ao responder ao apelo do recém-eleito para que o Brasil aceite o resultado do pleito. "Não, não, não!", afirmou, reiterando: "Peremptoriamente não!".

Na declaração, entretanto, Lula admitiu a possibilidade de mudar de ideia "se algo novo acontecer".

As afirmações foram feitas antes mesmo do término da Cúpula Ibero-Americana, em Estoril, e tinham como foco o regime de exceção, mesmo que não tenha mencionado o nome do presidente de facto, Roberto Micheletti.

"Não dá para fazer concessão a golpista", argumentou. "Honduras desrespeitou o princípio mais elementar, o da volta à normalidade democrática de seu país."

Lula disse ainda que "o golpista agiu cinicamente" ao dar "um golpe no país e convocar uma eleição". "Ele não tinha direito de convocar uma eleição", prosseguiu.

Para o brasileiro, sua posição - apoiada por parceiros regionais como a Argentina e a Venezuela - tem como objetivo evitar a criação de um precedente.

"Nós conhecemos a América Central, nós conhecemos a América Latina. E a gente não pode compactuar com um golpe dessa natureza, que finge que não aconteceu nada", reafirmou. "Se isso prevalecer, a democracia correrá sério risco na América Latina e a na América Central."

Embora parecesse bater o martelo em relação a Pepe Lobo, Lula abriu a perspectiva de reverter sua opinião. Ao "peremptoriamente não", adicionou um "por enquanto" minutos depois. "Eu não posso decidir agora sobre uma coisa que pode acontecer daqui a um, dois ou três meses", ponderou. "Se acontecer alguma coisa, vamos decidir sobre a coisa nova que vai acontecer. Por enquanto, a posição brasileira é de não aceitação do processo eleitoral em Honduras."

A declaração abre a possibilidade de um entendimento, e vai na linha do que afirmou o assessor da presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, no domingo. Ele havia sugerido que, se Pepe Lobo se dirigir à Organização dos Estados Americanos (OEA), o cenário pode mudar.

A oscilação do governo brasileiro também reflete o dilema dos países ibero-americanos sobre a crise em Honduras. Temas centrais das discussões em Estoril, o golpe e a eleição expuseram as profundas divergências dos chefes de Estado e de governo e impediram a divulgação de consenso sobre o tema.

Em um "comunicado especial", que não estava previsto e nem foi assinado pelos países, Portugal, na posição de presidente da cúpula, não desceu do muro: condenou o golpe, mas não fez juízo de valor sobre as eleições e pediu a "abertura de um diálogo nacional em Honduras".

José Sócrates, primeiro-ministro português, detalhou sua postura a jornalistas brasileiros. "A ambiguidade é uma arma política", filosofou, deixando claras as diferenças: "Muitos queriam reconhecer. Muitos não queriam falar nada".

"A declaração é propositadamente ambígua em algumas partes, para que uns possam ler de uma forma, outros possam ler de outra."

José Luís Zapatero, presidente de governo da Espanha, juntou-se à conversa, sorriu e limitou-se a dizer: "A diplomacia brasileira é brilhante. Vai encontrar uma solução".

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