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Ministério da Economia da Argentina, em Buenos Aires, 14 de agosto de 2019. O presidente Mauricio Macri anunciou aumento de salário e corte de impostos para melhorar o cenário econômico após vitória de seu rival esquerdista nas primárias no fim de semana
Ministério da Economia da Argentina, em Buenos Aires, 14 de agosto de 2019. O presidente Mauricio Macri anunciou aumento de salário e corte de impostos para melhorar o cenário econômico após vitória de seu rival esquerdista nas primárias no fim de semana| Foto: JUAN MABROMATA / AFP

Em uma tentativa de salvar a sua candidatura à reeleição, o presidente argentino Mauricio Macri anunciou nesta quarta-feira (14) um pacote de medidas econômicas, focado especialmente na classe média.

Nenhuma pesquisa eleitoral previu uma derrota tão grande para Macri nas primárias do dia 11. A chapa de Alberto Fernández e de sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner, teve uma vitória contundente, levando 47% dos votos - mais do que os 45% necessários para vencer em primeiro turno a eleição de outubro.

Após a vitória da chapa kirchnerista, o peso argentino atingiu mínimas recordes. Em uma cartada para melhorar o cenário econômico e ao mesmo tempo reconquistar votos, Macri anunciou medidas que incluem o congelamento do preço da gasolina, aumento do salário mínimo, bônus para trabalhadores e incentivos a pequenas e médias empresas. "Macri combate populismo com medidas populistas", disse à Gazeta do Povo Vinicius Vieira, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. "Do ponto de vista do cálculo eleitoral, isso faz todo sentido, mas distancia ainda mais a Argentina de um caminho viável nos próximos anos".

Populismo x populismo

Resta saber se Macri tem tempo suficiente para uma virada nessas dez semanas. "Acho que Macri só tem chances caso consiga persuadir os eleitores a respeito da superioridade de seu populismo em relação à versão peronista", comentou Vieira.

Ainda é cedo para saber se as medidas de Macri serão convertidas em votos a seu favor, na opinião de Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM. Ela disse à Gazeta do Povo que as medidas "são uma tentativa de mostrar que ele tem sensibilidade ao recado das urnas" e de dar uma resposta imediata à economia.

Mas se as medidas anunciadas podem trazer inicialmente uma sensação de bem-estar econômico entre os eleitores, já que o dinheiro deles passa a render mais, pode prejudicar a recuperação da economia no longo prazo, dizem os especialistas.

Para Vinicius Vieira, a receita para o populismo econômico - oferecer benesses no curto prazo que complicam a estabilidade econômica no futuro - quando usada tanto pela esquerda quanto pela direita "não deu muito certo em nenhum lugar do mundo". Segundo o professor, um resultado melhor é alcançado com uma estratégia de longo prazo de incentivos para que o país invista, por exemplo, mais em tecnologia e produtos de valor agregado. "Coisas que não dão votos em nenhum lugar do mundo", pondera.

O que difere a adoção de medidas populistas por Macri da abordagem populista da chapa kirchnerista/peronista? Vieira relembra que tanto governantes de esquerda quanto de direita pelo mundo já optaram por medidas econômicas semelhantes para atingir objetivos econômicos de curto prazo na economia por pressão de eleitores.

A campanha de Macri precisa manter os votos da sua base da direita liberal, mesmo após anunciar medidas intervencionistas. "Quem tem aversão ao kirchnerismo e é a favor de uma posição mais liberal na economia vai continuar a votar no Macri pois vê nele o menos pior", pontuou Vieira.

Para conquistar eleitores entre aqueles que não votaram nas primárias e aqueles que votaram em outros candidatos, principalmente eleitores de Fernández/Kirchner, Macri apostou em mecanismos que satisfazem esse grupo, como congelamento do preço de combustíveis e aumento de salário, e que acabam tendo apelo também em outras classes, incluindo aqueles que são favoráveis a uma política mais liberal.

Denilde acredita que, mesmo assim, Macri deve continuar mostrando a diferença entre ele e o kirchnerismo durante a campanha. "Ele continuará falando que há diferenças de postura. O discurso dele foi de que [sair da crise] é mais difícil do que pareceu e que é preciso haver equilíbrio entre demandas sociais e ajuste fiscal", disse a professora. "Ele vai continuar mostrando que um governo kirchnerista aumentaria as dificuldades econômicas e aumentaria a crise".

Além de apontar para as incertezas do futuro com um governo kirchnerista, uma estratégia de campanha que pode ajudar Macri a reverter a desvantagem é focar nas questões do passado de Cristina Kirchner, comentam analistas. "Se ele bater na questão da corrupção, dos processos judiciais que Cristina Kirchner enfrenta, acho que ele tem chance de pelo menos levar a disputa para o segundo turno", aposta Vieira.

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