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O ditador venezuelano Nicolás Maduro afirmou nesta segunda-feira (4) que uma operação marítima frustrada por seu regime no domingo tinha como objetivo matá-lo. Segundo autoridades chavistas, oito pessoas foram mortas por forças de segurança na ação, e dois americanos foram presos.

A oposição aponta contradições nos relatos do incidente e considera o caso uma encenação do regime socialista.

O que disse Maduro

"O objetivo central [da operação] era matar o presidente da Venezuela [...] tentar me matar", alegou Maduro, segundo a imprensa local. Ele acusou a Colômbia e os Estados Unidos pela operação.

"Temos as provas de que esse grupo foi treinado em território colombiano", disse o ditador, sem mostrar evidências. "Um ataque terrorista em meio a uma pandemia, enquanto nosso povo descansava, enquanto nosso povo está em quarentena", continuou.

No domingo, a administração de Maduro afirmou que interceptou uma invasão marítima de mercenários e ex-militares, que teriam tentado entrar no território venezuelano vindos da Colômbia a bordo de lanchas para derrubar o regime. Diosdado Cabello, líder da Assembleia Nacional Constituinte, governista, disse que oito pessoas que supostamente participavam da operação foram mortas e outras duas foram presas.

Na segunda-feira, oito novas prisões relacionadas ao caso foram feitas, segundo autoridades. Maduro afirmou em rede nacional de televisão que dois americanos, Luke Denman e Airan Berry, foram presos e mostrou o que seriam seus passaportes e documentos.

O que teria ocorrido

Segundo o jornal local Efecto Cocuyo, uma embarcação foi avistada na madrugada de domingo em Macuto, norte da Venezuela, a cerca de 35 quilômetros de Caracas. Os moradores chamaram a polícia e os oficiais viram que não se tratavam de pescadores e pediram apoio das Forças Especiais da Polícia Nacional Bolivariana (Faes).

Um intenso tiroteio teve início às 3:50. Algumas horas mais tarde, o ministro do Interior do regime, Néstor Reverol, denunciou que o caso era uma tentativa de "invasão por via marítima" para provocar um golpe de Estado.

O plano, segundo Reverol, teria o objetivo de "aumentar a espiral de violência, gerar caos e confusão e com isso conduzir a uma nova tentativa de golpe de Estado". A manobra seria parte da chamada "Operação Gedeón", da qual participariam grupos dissidentes antichavistas, a maioria da Guarda Nacional.

O americano Jordan Goudreau, militar aposentado e dono da companhia de segurança Silvercorp USA, publicou um vídeo no domingo se declarando responsável pela invasão, ao lado de Javier Nieto, dissidente militar venezuelano.

Goudreau disse ao Washington Post em entrevista por telefone que buscou apoio do governo americano para os seus esforços mas não teve sucesso. Ele alegou ainda que discutiu a possibilidade de cooperação com a oposição Venezuela, mas a oposição se afastou. A assessoria do líder opositor Juan Guaidó negou que ele tenha relações com o ex-militar americano.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, aliado de Maduro, acusou Guaidó de contratar "mercenários" com recursos da Venezuela bloqueados pelos EUA para realizar a invasão de domingo. "Mercenários contratados fecharam contratos de US$ 212 milhões com dinheiro roubado da estatal petroleira venezuelana PDVSA", disse Saab em entrevista transmitida pela televisão estatal nesta segunda-feira.

Saab mostrou uma foto de um suposto contrato para a ação militar com assinaturas de Goudreau e de Guaidó, inicialmente divulgada por uma jornalista venezuelana que mora em Miami.

O que dizem EUA, Colômbia e oposição

O governo da Colômbia negou qualquer participação. Autoridades dos Estados Unidos, que não quiseram ser identificadas, disseram à Reuters que o governo americano não tem envolvimento com o incidente. Outra fonte disse que agências de inteligência americanas não têm relação com qualquer incursão militar na Venezuela.

No domingo, o gabinete do presidente interino da Venezuela e líder da oposição ao chavismo, Juan Guaidó, se manifestou sobre os acontecimentos por comunicado. "O regime busca desviar a atenção para um suposto ato na costa do estado de Vargas, cheio de inconsistências, dúvidas e contradições, das quais presumimos duas versões: uma encenação fabricada ou um ato criminoso manipulado pela ditadura para continuar a perseguição contra o governo interino, a Assembleia Nacional e as forças democráticas", afirmou o comunicado.

O texto ainda faz referência a outros atos de violência registrados nos últimos dias na Venezuela, como um motim em penitenciária de Guanare que deixou 47 mortos e 75 feridos, no sábado (2), segundo cifras extra-oficiais.

Nesta segunda-feira, o gabinete de Guaidó divulgou um comunicado negando alegações de que Guaidó teria contratado a empresa de segurança Silvercorp para derrubar Maduro, afirmando que o governo interino "não tem relação com nenhuma empresa do ramo de segurança ou defesa" e que "não temos relação ou responsabilidade alguma por acionar a empresa Silvercorp e seu representante".

Uma reportagem do Infobae questiona a credibilidade da versão das autoridades venezuelanas. Segundo a jornalista Sebastiana Barraez, especialista em assuntos militares, a ação não chegou a ser uma incursão militar e não houve invasão. O que teria ocorrido é que um grupo de militares aposentados da Guarda Nacional tentou entrar no país para tomar posição, porque fazem parte de um movimento de pequenos grupos que planejam dar início a uma rebelião militar, afirma a reportagem.

Rocío San Miguel, presidente do Controle Cidadão para a Segurança, Defesa e Força Armada Nacional, disse que a Venezuela "está exposta a níveis alarmantes de guerra psicológica e terrorismo de Estado. Já não é possível saber o que é verdadeiro ou falso. Isso só acontece em Estados totalitários"

Maduro frequentemente acusa países adversários de tentarem derrubar o seu governo - acusações que são consideradas infundadas por seus opositores. O seu governo não é reconhecido como legítimo por dezenas de países, incluindo Brasil, Colômbia e Estados Unidos. No entanto, Maduro segue no poder com apoio das forças armadas e de alguns países, entre eles Rússia e China.

A Venezuela passa por uma grave crise política, econômica e social, agravada recentemente pelas medidas impostas para combater a pandemia de coronavírus no país.

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