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Manifestante jogam coquetéis Molotov durante confrontos com policiais nos arredores de um posto de comando da Guarda Nacional em Cotiza, no norte de Caracas, em 21 de janeiro de 2019 | FEDERICO PARRA/AFP
Manifestante jogam coquetéis Molotov durante confrontos com policiais nos arredores de um posto de comando da Guarda Nacional em Cotiza, no norte de Caracas, em 21 de janeiro de 2019| Foto: FEDERICO PARRA/AFP

Membros de uma unidade da Guarda Nacional Bolivariana, um dos quatro braços das Forças Armadas da Venezuela, publicaram vários vídeos nas redes sociais na madrugada desta segunda-feira (21), afirmando que estavam dispostos a apoiar a população para “restabelecer o laço constitucional” no país e convocando outros militares a se manifestar contra o regime de Nicolás Maduro.

“Senhores, aqui está a Guarda Nacional”, diz o autor do vídeo ao filmar pelo menos dez guardas no comando de Cotiza, no norte de Caracas. “Povo da Venezuela, aqui se une [a Guarda Nacional] para restaurar o laço constitucional. Você quer isso? Nós também. Já basta. Nós vamos apoiá-los".

Os vídeos começaram a circular vertiginosamente nas redes sociais. Moradores dos arredores, segundo o jornal venezuelano El Nacional, iniciaram manifestações para mostrar apoio à atitude do grupo de militares.

Mas não demorou muito para haver uma reação do regime. Agentes da Força de Ações Especiais (FAES), do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) e alguns soldados das Forças Armadas Nacionais (FAN) isolaram o comando da Guarda Nacional na unidade de Cotiza, onde estava o grupo rebelde. Ao mesmo tempo, os manifestantes civis foram repelidos com bombas de gás lacrimogêneo.

Ainda pela manhã, as Forças Armadas comunicaram que o grupo de militares havia sido detido e que “o armamento roubado” havia sido recuperado. Segundo o site Efecto Cocuyo, por volta das 8h (10h no horário de Brasília) 14 homens se entregaram, na presença de um fiscal militar. Eles foram presos e levados à base militar Forte Tiuna.

Mesmo após a detenção dos militares, as manifestações continuaram nos arredores da unidade da Guarda Nacional em Cotiza.

Manifestantes protestam em frente à sede da Guarda Nacional Bolivariana em Caracas, Venezuela, em 21 de janeiroYURI CORTEZ/AFP

“Sempre alerta, desde o amanhecer, uma vez detectada a ação de um grupo de assaltantes, começamos com o contra-ataque para neutralizar os atos de traidores à Pátria, que sem sucesso tentaram contra a Paz da República”, tuitou o presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) e número dois do chavismo, Diosdado Cabello.

Um manifestante mostra uma bala de borracha durante confrontos com policiais nos arredores de um posto de comando da Guarda Nacional em Cotiza, no norte de Caracas, em 21 de janeiro de 2019YURI CORTEZ/AFP

Os integrantes do grupo rebelde estão prestando depoimento às autoridades do regime chavista, inclusive a organismos de inteligência e ao sistema de justiça militar. Cabello, em mais um tuíte, disse que os detidos “já estão confessando detalhes” e que “a primeira coisa que disseram foi que lhes ofereceram mundos e fundos e os deixaram sozinhos, que haviam sido enganados”. Todas as suas mensagens foram retuitadas pelo perfil oficial de Maduro.

O peso das Forças Armadas

O presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, também pelas redes sociais, afirmou que os acontecimentos no comando da Guarda Nacional em Cotiza foram “uma mostra de um sentimento generalizado que impera dentro da FAN”. Ele também enfatizou que o legislativo se compromete a dar “garantias necessárias” para os membros das Forças Armadas que contribuam com a restauração da democracia no país.

Na semana passada a Assembleia Nacional aprovou um projeto de lei que prevê anistia para presos políticos e funcionários do governo que ajudem a “restabelecer a ordem constitucional”. A iniciativa tem como objetivo mobilizar militares de média e baixa patente contra Maduro, uma demonstração de que a oposição entende a importância das Forças Armadas na sustentação do regime.

Como lembrou o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Jorge Ramalho da Rocha, em entrevista recente à Gazeta do Povo, os militares seguem apoiando Maduro e participando ativamente do regime, inclusive controlando setores importantes da economia venezuelana. Mas o hiato entre os salários e as condições de vida dos oficiais superiores e os dos sub-oficiais, praças e soldados, que estão mais próximos à realidade da população local, são um desafio para o regime, como ilustrado no episódio de Cotiza.

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