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Uma multidão foi às ruas da Cidade do México para celebrar a vitória de Obrador nas eleições presidenciais neste domingo (1) | PEDRO PARDOAFP
Uma multidão foi às ruas da Cidade do México para celebrar a vitória de Obrador nas eleições presidenciais neste domingo (1)| Foto: PEDRO PARDOAFP

Foi uma das eleições mais violentas na história recente do México. 48 pré-candidatos ou candidatos foram assassinados, um número significativamente maior do que o registrado no pleito anterior, em 2012, quando dez políticos morreram. Diminuir o número de assassinatos no país era uma das principais promessas de campanha do atual presidente mexicano Enrique Peña Nieto, mas durante o seu mandato (2012-2018), o problema piorou (18%, segundo o Sistema Nacional de Segurança Pública). Agora quem promete resolvê-lo é o presidente eleito nesta domingo (1), Andrés Manuel López Obrador, um esquerdista que já foi conhecido por ser “um comunista com instintos cubanos” no início de sua carreira política. 

A ligação com a esquerda na América Latina o manteve longe do poder - até agora. Nas eleições de 2006 ele concorreu à presidência pela primeira vez. Perdeu por uma margem apertada e, alegando fraude eleitoral, acampou e bloqueou ruas no centro da Cidade do México. No pleito seguinte, em 2012, perdeu para Nieto. Mas foi o próprio governo do atual presidente que deu a Obrador o que ele precisava para vencer as eleições de 2018: escândalos de corrupção e uma crescente taxa de homicídios renderam ao esquerdista os “votos de castigo”, a partir de uma retórica de campanha em que ele se apresentava como um candidato antissistema. 

“A melhor coisa que aconteceu para López Obrador foi a administração de Peña Nieto”, disse Carlos Bravo Regidor, analista no Centro de Estudos e Investigação Econômica do México, em entrevista ao Washington Post.

Leia também: Violência, corrupção e relações com os EUA: os três desafios do futuro presidente mexicano

Com esse argumento, López Obrador conseguiu um feito histórico: se elegeu com mais de 50% dos votos, tornando-se o primeiro esquerdista a assumir o poder no país desde a transição democrática, há mais de 30 anos, e o primeiro eleito que não faz parte de um dos principais partidos do país desde 1929. 

Sua ascensão ao cargo também marca uma vitória para a esquerda na América Latina, que vinha colecionando sucessivas derrotas nos últimos anos, a exemplo do que ocorreu na Colômbia, na Argentina e no Brasil. 

Congresso 

A eleição de López Obrador é também uma conquista para o seu novato Movimento pela Regeneração Nacional. Sob a sigla Morena, o partido, junto com o PT (Partido dos Trabalhadores) e o ES (Partido Encontro Social), deve ganhar a maioria dos assentos nas duas casas legislativas. Até a manhã desta segunda-feira, a coligação já havia assegurado pelo menos 54 cadeiras no Senado e 212 na Câmara de Deputados, segundo dados do Instituto Nacional Eleitoral

A maioria absoluta no Congresso vai garantir que López Obrador consiga colocar em andamento suas propostas de governo. Entre elas, a revisão do programa de reformas implementado pela gestão de Peña Nieto, que vai desde a centralização do sistema de ensino até a liberalização da indústria energética que abriu as portas do setor para empresas privadas. Essas iniciativas foram bem recebidas por instituições financeiras e investidores, mas agora correm o risco de serem revistas pelo presidente eleito. 

Mercado financeiro 

Antes deste cenário ser apresentado, analistas apontavam que o mercado financeiro mexicano não deveria sofrer com a eleição de López Obrador, na expectativa de que o novo presidente alinhe sua administração mais ao centro assim que assumir o poder, segundo noticiou a Reuters. Entretanto, analistas da agência de classificação de risco Moody’s disseram ao jornal La Vanguardia que sua tranquilidade estava condicionada a que o Morena não conseguisse maioria absoluta no Congresso. 

No início da manhã desta segunda-feira, o peso mexicano registrou uma pequena desvalorização de 1,04%, seguida da confirmação de que López Obrador havia conquistado 53% dos votos. A bolsa mexicana iniciou a semana com uma queda de 0,78%.

Já prevendo um alvoroço de investidores, López Obrador disse em um breve discurso de vitória que em seu mandato “haverá liberdade empresarial, de expressão, liberdades civis e políticas”. Disse ainda que o novo governo “manterá a disciplina fiscal e respeitará os tratados e contratos assumidos antes”. 

Segundo afirmou o economista Marco Oviedo, da Barclays, em entrevista ao Infobae, a moeda poderá se manter em torno dos níveis atuais, mas o mercado está de olho em Obrador e o que pode vir a ser o governo. 

Alguns jornais internacionais dizem que a estratégia de López Obrador está mais parecida com a do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva do que com o venezuelano Hugo Chávez.

Relação com Trump 

Em outra mensagem dada nesta segunda-feira, López Obrador afirmou que tem como objetivo manter o acordo comercial do Nafta, e que buscará um diálogo franco com os Estados Unidos. O presidente norte-americano, Donald Trump, ameaça romper o acordo “calamitoso” se não houver uma renegociação. Os outros signatários, México e Canadá, concordam que o pacto firmado em 1994 precisa ser revisto. 

Apesar do clima cordial sobre o trato comercial, um assunto mais sensível deve pautar as relações entre os mandatários de EUA e México: a migração na fronteira. Quando Trump era candidato, ele prometeu construir um muro na fronteira entre os dois países e ainda afirmou que os vizinhos pagariam pela construção. O atual presidente assegurou que o México não faria uma coisa dessas e o desentendimento sobre o assunto fez com que Peña Nieto cancelasse a viagem a Washington que pretendia fazer no início deste ano. 

López Obrador tampouco parece que vai ceder à demanda do presidente norte-americano. Conforme lembrou o Washington Post, no ano passado ele havia dito que “o muro e a demagogia do patriotismo não combinam com a dignidade e a humanidade do povo americano”. 

Some-se a isso o fato de que, no ano passado, López Obrador lançou um livro chamado “Oye, Trump” (“Escuta aqui, Trump”, em tradução livre), em que critica a influência dos EUA no México e defende direitos dos migrantes. O presidente eleito também já disse que Trump é “errático e arrogante”.

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