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Na Colômbia, grupos armados impõem quarentena e matam quem desobedecer
| Foto: Pixabay

Numerosos grupos armados na Colômbia estão cometendo assassinatos e outros abusos contra civis para impor suas próprias orientações contra a propagação da Covid-19, denunciou a Human Rights Watch em um informe publicado nesta semana.

Segundo a ONG de direitos humanos, pelo menos nove assassinatos foram cometidos, vinculados às restrições impostas por grupos armados, como o Exército da Libertação Nacional (ELN), as Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC) e dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Em 26 de abril, um grupo de dissidentes das Farc matou três pessoas e feriu outras quatro no departamento de Cauca em um parque público. Um promotor e um funcionário da Defensoria Pública que investigaram o caso disseram que eles foram atacados porque estevam descumprindo as medidas de isolamento impostas pelo grupo armado. Outro caso é o de um líder comunitário de Putumayo que foi morto por membros de um bando chamado La Mafia depois de enviar uma carta a autoridades denunciando a repressão que sua comunidade estava vivendo.

A Human Rights Watch revelou também que os criminosos usam panfletos e mensagens no WhatsApp para intimidar as pessoas e alertar sobre os toques de recolher, quarentenas, restrições de circulação e de abertura dos comércios que eles mesmos impõem à população. Essa prática foi identificada em pelo menos 11 dos 32 departamentos da Colômbia: Arauca, Bolívar, Caquetá, Cauca, Chocó, Córdoba, Guaviare, Huila, Nariño, Norte de Santander y Putumayo.

Um dos panfletos distribuídos em abril por membros do ELN em Bolívar, no norte da Colômbia, anunciava que eles se sentiam "forçados a dar baixas humanas para preservar vidas" porque a população não "cumpriu as ordens de prevenção contra a Covid-19". O panfleto indicava também que "apenas granjas, drogarias e padarias podem trabalhar", esclarecendo que os demais deveriam cumprir o "isolamento" em suas casas. Em outros casos, os criminosos ameaçavam multar quem os desobedecesse.

"Em várias comunidades da Colômbia, grupos armados impuseram violentamente suas próprias regras para impedir a disseminação do Covid-19", disse José Miguel Vivanco, diretor da Human Rights Watch nas Américas. "Esse controle social brutal reflete as falhas históricas do estado em estabelecer uma presença significativa em áreas remotas do país que permita proteger as comunidades em risco".

A ONG alertou também que o cerco montado por esses criminosos está dificultando o acesso de algumas comunidades pobres a alimentos e insumos básicos.

"Os brutais e draconianos 'castigos' impostos por grupos armados para impedir a disseminação da Covid-19 expõem indivíduos em comunidades remotas e pobres de toda a Colômbia a serem atacados e até mortos, se deixarem suas casas", acrescentou Vivanco. "O governo [da Colômbia] deve intensificar seus esforços para proteger essas comunidades, garantir que elas tenham acesso adequado a comida e água e proteger sua saúde dos efeitos da Covid-19".

Em maio, o ELN negou que esteja forçando a população a cumprir com medidas restritivas por causa do novo coronavírus e afirmou que o bloqueio armado está sendo realizado pelo próprio governo colombiano e suas agências de inteligência.

Com um salto de mortes e casos nos últimos dias, as autoridades colombianas voltaram a impor quarentena em algumas cidades onde a situação epidemiológica é mais grave, como Bogotá e Medellin. O país, com cerca de 50 milhões de habitantes, tem mais mais de 6.000 mortes por causa da Covid-19 e quase 160 mil casos. Em Bogotá, forças policias e soldados estão patrulhando as ruas.

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