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Interferência russa

Não determinamos em relatório se Trump cometeu ou não crime, diz procurador

O procurador especial Robert Mueller após pronunciamento sobre a investigação da interferência russa nas eleições americanas de 2016, no Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em Washington, 29 de maio
O procurador especial Robert Mueller após pronunciamento sobre a investigação da interferência russa nas eleições americanas de 2016, no Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em Washington, 29 de maio (Foto: MANDEL NGAN / AFP)

O procurador especial dos Estados Unidos Robert Mueller afirmou que o relatório conduzido por ele sobre a suposta interferência russa na última eleição presidencial americana não determina se o presidente Donald Trump cometeu ou não um crime. Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (29), Mueller disse que um presidente no posto não pode ser acusado, o que iria contra a Constituição do país. "Se tivéssemos a confiança de que o presidente não cometeu um crime, nós teríamos dito isso", afirmou.

Ele sugeriu, porém, que a Constituição prevê outro procedimento neste caso - uma referência à eventual abertura de um processo de impeachment pelo Congresso.

Mueller disse que o relatório escrito "fala por si só" e que o escritório especial para a apurar o caso será oficialmente fechado. Com isso, ele também disse que deixará o Departamento de Justiça. Mueller já ocupou anteriormente o comando do FBI.

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Ele também afirmou que não acha adequado falar mais sobre o caso à imprensa, por isso não aceitaria perguntas dos jornalistas. O relatório, de mais de 400 páginas, foi concluído em março, após uma investigação de quase dois anos. Ainda segundo Mueller, nenhuma eventual fala dele no Congresso trará material além do que já consta no documento.

Esse foi o primeiro pronunciamento público do procurador especial desde que começaram as investigações, há mais de dois anos.

Integrantes do Partido Democrata, de oposição a Trump, discutem a possível abertura do processo de impeachment, mas a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e outros líderes importantes do partido resistem em apoiar a ideia, pelo menos por enquanto.

Mueller é o centro de uma disputa entre o governo e os democratas, que pressionavam o procurador a depor sobre as apurações, além de divulgar a íntegra de seu relatório - uma versão editada do documento foi entregue a parlamentares em abril pelo secretário de Justiça dos EUA, William Barr, mas não agradou a Mueller.

Diante das investidas dos democratas, Trump disse que barraria todas as intimações da Câmara - de maioria oposicionista.
Indicado ao cargo pelo presidente, Barr afirmou em abril que discordava de teorias jurídicas usadas por Mueller ao analisar se o presidente obstruiu ou não a Justiça durante as investigações.

A equipe do procurador, por sua vez, avalia que a versão do relatório divulgada pelo secretário não traduz fielmente a interpretação de Mueller sobre os acontecimentos dos últimos anos, numa tentativa de aliviar a pressão sobre Trump às vésperas da corrida presidencial de 2020.

O presidente já postou em suas redes sociais nesta quarta uma resposta a Mueller dizendo que nada mudou e que o caso está encerrado.

Obstrução de justiça

Durante entrevista coletiva no mês passado, Barr afirmou que o procurador especial listou em seu relatório dez episódios que mostram autoridades policiais americanas lutando para fazer avançar as apurações contra Trump e seus aliados mas, segundo o secretário, esses fatos não constituíram obstrução "por uma questão de lei".

Desde então, o Partido Democrata trabalha para explorar principalmente as evidências de que Trump teria cometido obstrução de Justiça durante as investigações.

A equipe de Mueller concluiu que não houve conspiração da parte do presidente e de integrantes de sua campanha com a Rússia para interferir na disputa de três anos atrás - o que foi confirmado pelo procurador na coletiva desta quarta.

A questão de obstrução de Justiça, porém, causou discussões. Mueller indicou que a investigação não concluiu que o presidente cometeu crime, mas também não o isentou. Ele delegou a Barr a decisão final sobre o assunto e o secretário afirmou que realmente não era possível concluir que o presidente havia obstruído a Justiça.

2017

- Maio
Trump demite o diretor do FBI James Comey, menos de dois meses depois de ele anunciar uma investigação da agência federal sobre os laços entre a Rússia e a campanha presidencial do republicano. Robert Mueller é apontado como procurador especial, responsável por tocar a investigação

2018

- Novembro
Donald Trump demite o secretário de Justiça Jeff Sessions, que comandava o departamento responsável por cuidar da investigação
- Fevereiro
Robert Mueller indicia o ex-chefe da campanha de Trump, Paul Manafort. Ele viria a ser preso

2019

- Maio
Robert Mueller fala pela primeira vez publicamente sobre o relatório
- Abril
Versão editada do documento entregue ao Congresso afirma que não houve conspiração da campanha de Donald Trump com o Kremlin
- Março
Robert Mueller entrega ao secretário de Justiça, William Barr, relatório final sobre possível interferência russa

Com informações de Estadão Conteúdo e Folhapress.

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