• Carregando...
Presidente Vladimir Putin, da Rússia, escuta o presidente americano Donald Trump falar durante coletiva à imprensa, após a cúpula de Helsinque, na Finlândia | BRENDAN SMIALOWSKI/AFP
Presidente Vladimir Putin, da Rússia, escuta o presidente americano Donald Trump falar durante coletiva à imprensa, após a cúpula de Helsinque, na Finlândia| Foto: BRENDAN SMIALOWSKI/AFP

Nem a Fox News, emissora de TV alinhada ao ideário republicano nos EUA, ficou ao lado do presidente americano, Donald Trump, nesta segunda-feira (16). Horas depois de uma entrevista concedida ao lado do russo Vladimir Putin, em que o republicano colocou em dúvida as conclusões da inteligência americana sobre a interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016, as manchetes de todos os jornais e emissoras do país falavam do "choque" e "reprovação" de membros do Congresso e do governo quanto às declarações de Trump. 

"Há um consenso crescente de que ele lançou o país debaixo do ônibus", afirmou o correspondente da Fox News John Roberts, citando uma expressão popular americana para indicar uma traição. 

Leia também: ï»¿Trump avalia encontro com Putin: ‘Foi um bom começo’

Trump afirmou nesta segunda que Putin deu uma "poderosa negativa" à acusação de intromissão no processo eleitoral americano e disse que não havia motivos para duvidar do mandatário -poucos dias depois de o Departamento de Justiça denunciar agentes de inteligência russos sob essa exata acusação. 

Repercussão não foi boa

As declarações, bem como a amigável postura de Trump para com o mandatário russo, repercutiram mal nos EUA, inclusive dentro do partido e do governo do republicano.  O consenso é que o presidente colocou muitos republicanos em uma posição difícil antes das eleições parlamentares de novembro, que determinarão qual partido controlará a Câmara quanto o Senado.

Uma das manifestações mais incisivas contra Trump veio do chefe da inteligência nacional dos Estados Unidos, Dan Coats. Em uma rara nota, o conselheiro do presidente americano reafirmou as conclusões de agências governamentais sobre a interferência do Kremlin na disputa de 2016.  Ele disse que:

Nós temos sido claros em nossas avaliações sobre a intromissão russa nas eleições, e de seus esforços contínuos e generalizados para minar nossa democracia. Continuaremos a fornecer informações diretas e objetivas em apoio à nossa segurança nacional.

"Eu não sei nem o que dizer. Ele prefere considerar a palavra da KGB [agência de espionagem russa] à do FBI", afirmava um estupefato comentarista na CNN Philip Mudd, que foi diretor da CIA e do FBI. 

Mesma postura foi tomada pelo general Michael Hayden, que foi diretor da CIA e da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) nos últimos anos do governo do republicano George W. Bush (2001-9). “Ele essencialmente confessou ao mundo que acredita mais em Putin mais do que nas agências de inteligência americanas.” 

Trump se defende

A caminho de Washington, o presidente americano usou as redes sociais para reafirmar que "tem grande confiança" nas forças de inteligência do país.  "Mas eu também reconheço que, para construirmos um futuro melhor, não podemos nos centrar exclusivamente no passado. Na condição de duas das mais poderosas potências nucleares do mundo, precisamos nos dar bem", escreveu Trump. 

Estratégia diplomática mal avaliada

A estratégia diplomática, porém, não foi bem avaliada pelos colegas de partido. "Foi uma oportunidade perdida para responsabilizar a Rússia pelo que fez em 2016", disse o senador Lindsey Graham, que costuma ser um defensor de Trump no Congresso. 

Até mesmo políticos não acostumados a criticar Trump em público o fizeram. É o caso do presidente da Câmara, o republicano Paul Ryan. “O presidente precisa entender que a Rússia não é aliada dos Estados Unidos”, disse ele. 

Ele afirmou que não há nenhuma dúvida que a Rússia interferiu nas eleições americanas de 2016 e continua a minar a democracia nos Estados Unidos e no mundo. “Os EUA devem se focar em responsabilizar a Rússia e por fim a seus vis ataques à democracia.” 

Leia também: ï»¿O que está em jogo na cúpula Trump-Putin

Outro crítico da postura de Trump em relação à Rússia foi o senador republicano John McCain. Ele disse à NBC News que “foi uma das atuações mais vergonhosas de um presidente americano na história.” Ele qualificou o encontro como um “erro trágico”. 

O senador, que disputou a eleição para a Casa Branca em 2008, afirmou que qualificar a entrevista coletiva que se seguiu à reunião como uma “derrota patética” é ser demasiado generoso. "O presidente Trump provou ser não apenas incapaz, como também não estava disposto a enfrentar Putin. Os dois pareciam estar falando do mesmo roteiro. Trump fez uma escolha consciente de defender um tirano contra as justas perguntas de uma imprensa livre e dar a Putin uma plataforma incontestável para espalhar propaganda e mentiras ao mundo."

Outro senador republicano, Jeff Flake, disse em sua conta no Twitter que “nunca pensou que veria o dia que um presidente americano subisse ao palco com o presidente russo e culpasse os Estados Unidos pela agressão russa. Isto é vergonhoso.”

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]