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Foram autores alemães, ao monitorarem suas posições no ranking da Amazon, os primeiros a perceber que alguma coisa estava errada.

De repente, a Amazon estava informando que poderia levar até 11 dias para entregar alguns títulos mais antigos —algo inconcebível, já que há décadas existe um sistema em que os distribuidores garantem entregas em até 24 horas.

Uma explicação para isso só surgiria mais tarde, quando a unidade alemã da empresa Bonnier Media Group escreveu aos seus autores e agentes para se desculpar pelos atrasos.

A Bonnier, um dos maiores grupos editoriais da Alemanha, disse manter negociações com a Amazon a respeito de como dividir os lucros com seus livros eletrônicos. Os atrasos pareciam ser uma tática destinada a forçar a editora a oferecer um valor maior à Amazon.

Assim como seus colegas nos EUA que sentiram o peso da influência da Amazon, os agentes literários alemães ficaram irritados. "Acima de tudo, isso diz respeito ao futuro do mercado", disse Matthias Landwehr, agente literário que representa muitos autores afetados.

Até agora, ao contrário dos EUA, onde a Amazon tem desencorajado clientes a comprar livros novos e pré-lançamentos da Hachette, ao impossibilitar encomendas e pré-encomendas, as táticas na Alemanha envolvem apenas atrasos na entrega de livros mais antigos do catálogo de editoras controladas pela Bonnier Media Group.

Mas, na Europa, onde a influência de gigantes norte-americanos da internet já é profundamente malvista, a Amazon pode enfrentar todo tipo de regras e resistências não encontradas nos EUA. Outros países europeus, como a França e o Reino Unido, não parecem ter sido afetados pelas medidas da Amazon. As vendas de livros da Hachette no site francês da Amazon não parecem sofrer restrições. Nem outras editoras alemãs importantes enfrentam problemas.

Ainda assim, muitos no mundo editorial alemão afirmam que a Amazon usou as negociações com os selos da Bonnier para mandar um recado.

"Eles estão sendo usados para dar um exemplo. E a Amazon conta com o fato de que as editoras não estão autorizadas a trocar informações", disse Landwehr, fazendo referência a potenciais problemas antitruste para as editoras caso elas comparem dados. "Mas, se elas acabarem por mudar as condições existentes para uma editora, isso causaria um efeito dominó."A Amazon não quis se pronunciar.

Neste ano, legisladores franceses aprovaram aquela que ficou informalmente conhecida como "lei anti-Amazon", que proíbe empresas on-line de oferecerem frete grátis além do desconto máximo de 5% para livros vendidos no país.

Na Alemanha, a companhia foi alvo de ataques no ano passado por empregar imigrantes. Funcionários da Amazon em dois dos maiores centros de distribuição enfrentam dificuldades para se sindicalizar.

Os livros na Alemanha são considerados tão indispensáveis pela sociedade que as editoras têm permissão para determinar os preços pelos quais os varejistas podem vender todos os novos títulos, inclusive best-sellers e e-books. A lei também tem por objetivo assegurar a sobrevivência de uma rede bem-sucedida de livrarias.

No entanto, em um país onde os horários do comércio também são controlados de perto pelo governo, os alemães estão se acostumando à facilidade de encomendar livros a qualquer hora e recebê-los em casa.

O negócio de encomenda de livros na Alemanha cresceu 4% no ano passado, chegando a € 2,7 bilhões (R$ 8,4 bilhões).

A Amazon controla mais da metade desse mercado, com um faturamento de € 1,9 bilhão (R$ 5,9 bilhões). A empresa tem presença ainda maior no mercado de e-books, apesar das tentativas de editoras locais de criar uma plataforma alternativa de código aberto. As vendas de e-books na Alemanha cresceram 200% entre 2012 e 2013, e especialistas acreditam que esse número só tende a subir.

A associação alemã de livreiros pediu que os legisladores adaptem as leis antitruste ao mercado digital e permitam que as editoras trabalhem juntas.

Enquanto a Amazon recebe uma fatia de 50% de todos os livros impressos que vende na Alemanha, o valor usado para os livros eletrônicos garante à empresa apenas 30% sobre o preço de venda. A Amazon parece estar apostando no seu poderio para conquistar uma fatia maior.

Joscha Sauer, cartunista cujos trabalhos são publicados pela Carlsen, usou as redes sociais para denunciar a Amazon. "Do ponto de vista moral, o que a Amazon está fazendo é jogo sujo", disse Sauer. "Do ponto de vista econômico, não é nada fora do comum."

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