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A banda La Santa Cecilia, que concilia música e mensagem, é formada por Miguel Ramírez, José Carlos, Marisol Hernández e Alex Bendaña (da esq. para a dir.) | J. Emilio Flores para The New York Times
A banda La Santa Cecilia, que concilia música e mensagem, é formada por Miguel Ramírez, José Carlos, Marisol Hernández e Alex Bendaña (da esq. para a dir.)| Foto: J. Emilio Flores para The New York Times

Eles começaram como artistas de rua por aqui, jovens latinos, imigrantes e proletários, cantando "Bésame Mucho" e "Sabor a Mí" para turistas. Portanto, há seis semanas, quando os membros da banda La Santa Cecilia subiram ao palco do Staples Center para receber o Grammy de melhor gravação latina de rock ou música alternativa, eles haviam percorrido bem mais do que alguns quilômetros.

A vitória foi dedicada por eles "aos mais de 11 milhões de indocumentados que vivem e trabalham de forma realmente árdua neste país e que ainda precisam levar uma vida mais digna". Esse gesto foi realmente apropriado, já que uma canção sobre o drama desses imigrantes, "El Hielo", foi responsável pelo sucesso de "30 Días", álbum de estreia de Santa Cecilia por uma grande gravadora.

Neste mês, o grupo lançou um álbum chamado "Someday New". Trata-se de uma eclética mistura de material original, canções tradicionais e "covers" cantados em espanhol e inglês, com a intenção de fazer o ouvinte dançar e pensar ao mesmo tempo, abraçando uma sensibilidade moderna ao mesmo tempo em que evoca o antigo.

"Sentimos como se estivéssemos retornando um pouco aos estilos que nos inspiraram, às nossas raízes", disse a vocalista Marisol Hernández, mais conhecida como La Marisoul, transitando entre o inglês e o espanhol. "Sinto que ‘Someday New’ é onde o nosso coração está —com a música tradicional, mas com a nossa interpretação dela."

Os membros do Santa Cecilia, banda fundada em 2007, cujo nome homenageia a padroeira da música, foram criados aqui, de forma totalmente bilíngue e multicultural. Eles citam uma estonteante lista de músicas que os influenciaram: Nirvana, Santana, Rush, punk rock e reggae e, pelo lado clássico latino, Ramón Ayala, Trio Los Panchos, Los Alegres de Terán, cúmbia e boleros.

Os integrantes do grupo, todos com 30 e poucos anos, trabalham para plateias que, assim como eles, "têm um shuffle do iPod na cabeça", conforme as palavras do percussionista Miguel Ramírez, abordagem que torna sua música difícil de categorizar e vender. O fato de a banda se tornar, de certa forma, porta-voz da reforma da imigração era algo que não estava nos planos. "Queríamos algo que representasse a nossa fé na música, os nossos sonhos e o que conseguimos com a música", disse Ramírez. "Não tínhamos uma intenção ou pauta política no início."

Isso mudou com o lançamento, há um ano, de "El Hielo", cujo título contém um trocadilho. "Hielo" em espanhol é "gelo", palavra que em inglês se diz "ice" —justamente as iniciais da agência norte-americana de Fiscalização de Imigração e Alfândegas. A canção fala com simpatia dos imigrantes latinos que vivem com medo de serem deportados, com "a ICE correndo à solta nestas ruas".

"Someday New" restabelece o compromisso da banda com as causas migratórias por intermédio de um veículo improvável, "Strawberry Fields Forever". A banda mexicanizou o clássico dos Beatles com floreios dos ritmos norteño e son jarocho e a politiza sobre o palco contando ao público a história de como ela passou a ser incluída no repertório do grupo. "Começamos a viajar por lugares onde você vê trabalhadores migrantes e plantações de morango [‘strawberry fields’, em inglês]. Sentimos uma louca conexão que deu outro sentido à canção", explicou Hernández. "Agora apresentamos a música e dizemos que ela nos lembra todas as pessoas que estão trabalhando, cultivando as suas plantações de morango para sempre. Só não se esqueçam quem são elas e de onde elas vêm."

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