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O estudante Ethan Yorke disse que uma bebida energética o ajudou a melhorar o desempenho em games | /The New York Times
O estudante Ethan Yorke disse que uma bebida energética o ajudou a melhorar o desempenho em games| Foto: /The New York Times

Dois jogadores de videogame famosos posaram como atiradores, segurando semiautomáticas de verdade em um evento ao ar livre, estourando frutas e copos de um líquido laranja escuro em câmera superlenta. “Com vocês, Laranja Sanguínea”, anunciava o vídeo do espetáculo.

Nos dias posteriores ao evento, os seguidores dos rapazes encomendaram barris do novo sabor de uma bebida energética chamada G Fuel, anunciada como sendo a “arma secreta” para melhorar a concentração e a resistência nas batalhas virtuais.

“Ah, tem um gosto tão bom!”, exclama Michael, um YouTuber com cara de anjo.

O G Fuel e o concorrente, chamado GungHo, são a nova encarnação da bebida energética – e ganham popularidade enquanto o setor vem sendo investigado por causa das mortes e hospitalizações ligadas ao consumo do produto, cheio de cafeína e açúcar. Os fabricantes tradicionais também apostam no filão da cultura dos games, que não para de crescer.

A Dra. Marcie Schneider, especialista em medicina para adolescentes de Greenwich, Connecticut, teme que a maioria dos pais não reconheça os perigos da nova tendência.

“A impressão que eu tenho é a de que o pessoal sabe muito bem quantos garotos estão fumando maconha, mas não sabe quem bebe energético”, afirma a autora de um estudo para a Academia Americana de Pediatria, que recomenda que crianças e adolescentes não consumam a bebida por causa da cafeína, responsável por alterações no padrão do sono, aumento da frequência dos batimentos cardíacos e atraso no desenvolvimento do cérebro.

Segundo os analistas, o setor se aproveita do status de celebridade e dos fãs dos chamados “atletas eletrônicos profissionais”, patrocinando competições e jogadores. A Gamma Labs, empresa que vende o G Fuel, investe pesado na equipe do Call of Duty, inclusive nos supostos “atiradores” do comercial.

Enquanto a maioria dos fabricantes — incluindo Red Bull, Rockstar e Monster — concordou voluntariamente em parar de anunciar seus produtos para crianças menores de doze anos, um relatório do Congresso dos EUA, divulgado este ano, condena não só essas como outras empresas por continuarem a atrair adolescentes.

A novidade não contém açúcar e é rica em vitaminas, mas também traz cafeína na mistura, em doses que geralmente superam as dos “ingredientes bons”, de acordo com a Caffeine Informer, que fornece informações sobre os níveis da substância em alimentos e bebidas.

A verdade, porém, é que o negócio está bombando. A projeção é que as vendas internacionais das bebidas energéticas subam de US$12,5 bilhões, em 2012, para US$21 bilhões em 2017, segundo a Packaged Facts, empresa de pesquisas de mercado.

Em Melbourne, na Austrália, Finlay Sturzaker gastou 100AUD para encomendar várias caixas da versão em pó do G Fuel só para ver seu pai confiscar tudo. O garoto de 14 anos conta que ficou sabendo da bebida por causa dos comerciais do FaZe Clan, no YouTube.

“Me deixa mais concentrado para jogar Call of Duty. Com certeza melhora muito, me dá mais energia”, garante. Porém, são 150 mg de cafeína para 355 ml, proporção mais alta que as versões da Monster e Red Bull, segundo a Caffeine Informer.

O FDA já pediu aos fabricantes que forneçam mais dados sobre a cafeína – mas a Dra. Schneider rebate, dizendo que a substância não é a única preocupação. A taurina e o extrato de guaraná também agem como estimulantes.

Ethan Yorke, que está no primeiro ano do ensino médio em Lancaster, Califórnia, disse que o G Fuel o ajudou a aumentar muito a média de home runs no game de beisebol que joga.

“Dá mesmo a impressão de que estou cheio de disposição, tipo, que acabei de tirar uma soneca de meia hora. É energia pura”, garante.

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