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Pode ser difícil imaginar um “ménage à trois” satisfatório para todos, principalmente quando um participante tenta desalojar outro com um gás tóxico, e um terceiro come a prole dos outros dois. Mas esse acordo existe.

A história começa com as borboletas-azuis, a espécie Phengaris arion, que botam ovos em plantas de orégano silvestre. Durante duas semanas, a lagarta devora os botões das flores da planta, até que uma noite cai no chão. Em seguida, a lagarta é adotada por uma formiga vermelha do gênero Myrmica. A lagarta engana a formiga para que esta ache que se trata uma larva extraviada do formigueiro. Para isso, adota a postura da larva e exala um odor que imita o dessa espécie de formiga.

Levada para o formigueiro, a lagarta se alimenta durante dez meses com as larvas das formigas, aumentando o seu peso em cerca de 50 vezes, até que chega a hora de se transformar em pupa e depois em borboleta.

A associação da borboleta-azul com as formigas é conhecida há um século. No entanto, só recentemente os cientistas começaram a explorar como a borboleta realiza esse feito. Pesquisadores liderados por Dario Patricelli e Emilio Balletto, da Universidade de Turim (Itália), e por Jeremy Thomas, da Universidade de Oxford, provaram que o orégano é o mediador crucial entre as formigas e a borboleta-azul.

Para afastar as formigas e outras ameaças, o pé de orégano exala vapores tóxicos. Mas as formigas Myrmica desenvolveram a capacidade de desintoxicar o carvacrol, principal ingrediente do sistema defensivo do orégano. As formigas Myrmica não têm especial apreço pelo carvacrol, mas gostam de viver perto da planta, porque a substância afasta formigas concorrentes.

Os pés de orégano não gostam quando as formigas Myrmica escavam formigueiros sob suas raízes. Eles então dobram a produção de carvacrol, segundo relatou o grupo de Thomas na revista “Proceedings of the Royal Society B”. Isso é a senha para que fêmeas das borboletas azuis depositem seus ovos. O odor intensificado do carvacrol sinaliza que debaixo dessa planta há um ninho de formigas Myrmica.

O sistema borboleta-orégano-formiga traz vantagens para todos. O orégano sacrifica parte de seus botões para as lagartas, mas se beneficia porque a lagarta em crescimento pode acabar com as formigas que irritam suas raízes. As formigas perdem algumas colônias para as futuras borboletas, mas o orégano fornece proteção contra formigas rivais. Já a borboleta-azul explora a associação orégano-Myrmica para obter viveiros subterrâneos e protegidos para sua ninhada.

A borboleta Phengaris arion pertence à família Lycaenidae, que surgiu cerca de 80 milhões de anos atrás.

A maioria dos licaenídeos mantém algum tipo de relação com as formigas. E várias espécies, incluindo a borboleta-azul, evoluíram independentemente a capacidade de transformar o habitual relacionamento alimento-defesa em uma associação predatória com seus protetores.

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