• Carregando...
Protestos como o realizado na Cidade do México se espalharam pelo país todo depois da notícia de que os 43 estudantes desaparecidos passaram por uma batida policial | Tomas Bravo/reuters
Protestos como o realizado na Cidade do México se espalharam pelo país todo depois da notícia de que os 43 estudantes desaparecidos passaram por uma batida policial| Foto: Tomas Bravo/reuters

O destino de 43 estudantes que desapareceram e provavelmente foram mortos e queimados em setembro gerou fúria e indignação nos quatro cantos do México.

Milhares de pessoas, na maioria professores, alunos e jovens simpatizantes, lotaram as ruas da Cidade do México, bloqueando as principais vias de acesso da metrópole, além de incendiar a porta do Palácio Nacional, das sedes regionais dos partidos políticos e do prédio do Congresso Estadual de Guerrero, onde fica a faculdade em que estudavam os jovens.

As redes sociais ferveram com hashtags que incluiu #YaMeCansedelMiedo ("Estou cansado do medo"), em referência ao comentário do Promotor Geral, que interrompeu uma pergunta em entrevista coletiva sobre o caso dizendo "Ya me cansé" ("Estou cansado").

Muitos se perguntam se o presidente Enrique Peña Nieto apoiará a iniciativa de defesa da obediência à lei e do combate à corrupção e à impunidade.

O México já testemunhou convulsões sociais por causa de crimes sensacionalistas antes. Em 2011, insuflados pelo sequestro e morte do filho de um poeta, Javier Sicilia, milhares de manifestantes marcharam com faixas, sob a hashtag #HastaLaMadre ("Já chega!"), até que Felipe Calderón, então presidente, organizou uma reunião, em cadeia nacional de TV, com parentes de inúmeras vítimas de sequestro e assassinato durante a guerra às drogas de seu governo.

O resultado não foi além da criação de uma agência com poucos recursos para atender às necessidades das vítimas da violência.

Para Andrew Selee, acadêmico mexicano do Centro Internacional Woodrow Wilson, em Washington, áreas isoladas como Ciudad Juárez e Monterrey ganharam mais atenção depois das chacinas, o que resultou em queda da criminalidade, mas os políticos não conseguiram implantar medidas eficazes contra a corrupção.

"Os políticos de todos os partidos têm uma grande oportunidade de reforçar a transparência e combater a corrupção que eles tanto querem deixar para trás, mas a grande questão é se isso vai mesmo ocorrer", diz ele.

A tolerância geral à corrupção talvez explique a ausência de reação dos partidos de oposição à descoberta da residência de US$7 milhões que a mulher do presidente está comprando, a crédito, de uma empresa cujo dono levou licitações polpudas de construção no estado do México na época em que Peña Nieto era governador.

O dono da casa também tem uma empresa parceira de um consórcio liderado pelos chineses na disputa da instalação do trem-bala, que Peña Nieto cancelou abruptamente, depois de surgirem reclamações da falta de transparência do processo de licitação.

Porém, os relatos chocantes sobre os estudantes de Iguala – que, segundo as autoridades federais foram detidos pela polícia local por ordem do prefeito, entregues a uma gangue, mortos e incinerados – mexem com a frustração e a revolta que o público há muito sente em relação aos políticos corruptos e à polícia.

E está se espalhando em setores geralmente calmos – como os participantes da conferência dos bispos católicos e o Chefe de Justiça do Supremo Tribunal.

O analista político Alfonso Zárate diz: "Acho encorajador o fato de as vozes inconformadas estarem se multiplicando. Há muito tempo a corrupção é vista como um lubrificante que humaniza o poder; essa visão cínica impediu que fosse encarada como o verdadeiro câncer que é – e que já virou metástase e se espalhou por todos os setores".

Juan Francisco Torres Landa, da Mexico Unido Contra la Delincuencia, grupo cívico que já organizou protestos, mas desistiu de fazê-lo, comenta: "Agora estamos questionando qual a nossa expectativa em relação ao governo. Não queremos que os políticos saibam que não estamos satisfeitos e não façam nada; nosso objetivo é vê-los em ação, em busca de resultados específicos".

Os eventos em Iguala desacreditaram o Partido da Revolução Democrática, de esquerda, conhecido como PRD, que geralmente é rápido em condenar a corrupção do partido de Peña Nieto, o Revoluccionário Institucional, pois tanto o prefeito de Iguala como o ex-governador do estado são afiliados a ele.

Na direita, o Partido da Ação Nacional também tem que lidar com o fardo do papel de seu garoto-propaganda, Calderón, na guerra contra o tráfico, além da corrupção entre integrantes antigos e atuais.

"Os partidos políticos estão paralisados. A frustração social está crescendo e é expressa pacificamente pela maioria, mas o poder político ainda não se transformou", afirma Ernesto López Portillo, diretor do Insyde, instituto de pesquisas da Cidade do México que há muito defende melhor treinamento e definição de responsabilidades para as polícias municipais e estaduais.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]