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Células-tronco embrionárias foram induzidas a se tornar células fabricantes de insulina, a serem implantadas em diabéticos | Bjarki Johannesson/NYSCF, via Reuters
Células-tronco embrionárias foram induzidas a se tornar células fabricantes de insulina, a serem implantadas em diabéticos| Foto: Bjarki Johannesson/NYSCF, via Reuters

Edgar Irastorza tinha apenas 31 anos quando seu coração parou de bater, em outubro de 2008. Administrador imobiliário em Miami e dançarino de break, ele teve um ataque cardíaco. Minutos depois, estava sem pulsação.

Ele sobreviveu ao ataque, mas a cicatriz no coração reduziu a capacidade de bombeamento do órgão. Ele não conseguia segurar os filhos no colo. Não conseguia mais dançar. E ia dormir se perguntando se iria acordar.

O desespero foi o que motivou Irastorza a se voluntariar para que células-tronco fossem injetadas no seu coração. "Eu acreditei nos meus médicos e na ciência por trás deles, e disse: ‘Esta é a minha única chance’", afirmou.

Nos últimos cinco anos, ao estudar células-tronco em laboratórios, animais e pacientes, pesquisadores trouxeram para mais perto da realidade as promessas vagas e grandiosas sobre terapias com células-tronco.

Mas o progresso tem sido lento, embora os pesquisadores estejam aprendendo sobre qual o melhor meio de usar as células-tronco, que tipos usar e como transferi-las —descobertas que não são notavelmente transformadoras, mas progressivas e pragmáticas.

Cerca de 4.500 testes envolvendo células-tronco estão em andamento nos EUA, para tratar pacientes com doença cardíaca, cegueira, Parkinson, Aids, diabetes, cânceres e lesões na medula espinhal, entre outras condições.

Estudos sugerem que a terapia de células-tronco pode ser realizada, segundo a médica Ellen Feigal, do Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia, que concedeu mais de US$ 2 bilhões (R$ 5,8 bilhões) para pesquisas com células-tronco desde 2006.

Além de continuar as pesquisas sobre a segurança da prática, "o que queremos saber é: vai funcionar, e será melhor do que o que já existe por aí?", disse Feigal.

Células-tronco retiradas de um embrião podem se transformar em qualquer um dos 200 tipos de células do corpo. A ideia básica das terapias é simples: injete-as em um cérebro cujas células estejam morrendo e células substitutas poderão crescer.

O mesmo se daria com músculos, sangue e ossos. Teoricamente, células-tronco podem fazer reparos, conduzir a um novo crescimento e substituir partes.

Mas os comentários em público podem dar a entender que a pesquisa com células-tronco está mais avançada do que a realidade demonstra, disse o médico Charles Murry, codiretor do Instituto para Células-Tronco e Medicina Regenerativa na Universidade de Washington, em Seattle.

De fato, poucas terapias além dos transplantes de medula se mostraram eficazes, disse ele.

Mas as células-tronco estão oferecendo novas ferramentas aos pesquisadores. Usando células criadas a partir de pacientes com enfermidades específicas, é possível reproduzir e estudar doenças em laboratório.

Kevin Eggan, do Instituto de Célula-Tronco de Harvard, usa esses avanços para estudar a esclerose lateral amiotrófica (ELA), ou doença de Lou Gehrig.

Em 2008, ele extraiu células de pele de mulheres que estavam morrendo pelo mesmo tipo de ELA e as transformou em células-tronco, com base em pesquisas do japonês Shinya Yamanaka.

Quando depois ele as implantou em células nervosas, percebeu que elas não se comunicavam com as outras de modo apropriado, o que provavelmente causava a degeneração que caracteriza a esclerose lateral amiotrófica.

Ele reproduziu essas células nervosas e testou componentes de drogas para ver quais poderiam corrigir o problema. E descobriu uma candidata que será testada ainda este ano.

Ainda falta definir o modo mais viável de administrar as células-tronco. Os cientistas presumem, por exemplo, que o coração de um paciente irá se regenerar melhor por si só se nele forem injetadas suas próprias células-tronco.

Mas o estudo para o qual Irastorza se voluntariou na Universidade de Miami mostrou que os resultados eram semelhantes com células de outros pacientes, pois os organismos não as atacavam.

Se isso for endossado, significa que pacientes futuros não vão precisar de imunossupressores e que células-tronco poderão ser produzidas em grande quantidade —e a um custo menor.

O tratamento de Irastorza começou com a retirada de um pouco de sua medula óssea. Pesquisadores colheram células que supostamente seriam células-tronco da medula e as enxertaram no coração de Irastorza.

Cerca de um terço do ventrículo esquerdo tinha sido destruído pelo ataque cardíaco. É impossível saber se as descendentes das células da medula se tornaram células do músculo cardíaco ou se a sua reconstituição foi desencadeada por outro motivo, mas hoje os médicos dizem que seu coração já está um terço normalizado.

Para Irastorza, foi o suficiente para que ele voltasse a dançar. "Minha qualidade de vida mudou da água para o vinho."

Por que não há muitas histórias de sucesso? "O progresso vem aos trancos e barrancos", disse o médico David Scadden, do Instituto de Célula-Tronco de Harvard, comparando a interrupção dos avanços à "guerra contra o câncer", declarada em 1971.

"Ninguém diria que o objetivo foi amplamente alcançado, mas muitos estão vivos hoje por causa dela e houve triunfos muito reais. Daqui a 20 anos, acho que a medicina e a saúde humana terão sido transformadas por isso."

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