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No novo filme de Jim Jarmusch, o amor de um casal se espalha pelos continentes | Chad Batka para The New York Times
No novo filme de Jim Jarmusch, o amor de um casal se espalha pelos continentes| Foto: Chad Batka para The New York Times

O cineasta Jim Jarmusch escreve todos os roteiros à mão e depois os dita para um digitador. Ideias são anotadas em pequenas cadernetas coordenadas por cor. Ele tem iPad e iPhone, mas não possui e-mail.

"Eu já não tenho tempo suficiente para ler um livro, tirar um som nem ver meus amigos", ele disse. "As pessoas também não acreditam em mim. Para elas, só digo isso porque não quero lhes dar meu endereço, mas, não, eu não tenho e-mail".

O interesse por vampiros, tema de seu filme mais recente, "Only Lovers Left Alive" (ainda sem título no Brasil), começou com uma das primeiras histórias inglesas de vampiro, que data de aproximadamente 1816.

Lançado nos Estados Unidos em abril, o filme tem como astros Tom Hiddleston e Tilda Swinton como Adam e Eve, casal de sugadores de sangue cujo amor se espalha por séculos e continentes. Eles estão unidos tanto pelos apetites criativos e literários – ele é músico, ela, leitora – quanto por compulsões mais obscuras. Segundo Jarmusch, de muitas formas é um filme muito pessoal.

Atuando há mais de três décadas como cineasta, Jarmusch, 61 anos, continua sendo o raro tipo de diretor independente que conquistou sucesso da crítica (e quatro prêmios em Cannes) e prestígio suficiente para escalar astros do cinema lucrativos como Cate Blanchett e Johnny Depp, e, mesmo assim, nunca tentar se aproximar de Hollywood.

"Para a minha geração de fanáticos por filmes europeus, ele foi praticamente o primeiro que nos mostrou os EUA pelos olhos de um alienígena norte-americano", disse Swinton, que fez três filmes com ele. Quando estudante, ela viu "Estranhos no Paraíso", seu sucesso de 1984, e, desde então, "ele tem sido um guia coerente para mim, uma nota grave confiável, idiossincrática, sob o hino de sons genéricos que o cercam", ela escreveu por e-mail.

O novo filme é o primeiro no qual a Sqürl, sua banda há cinco anos, faz boa parte da trilha sonora, em colaboração com o compositor e alaudista Jozef van Wissem; ao lado de músicos como Zola Jesus e Yasmine Hamdan, eles fizeram shows em Berlim, Paris e Nova York para promover seu disco, pela ATP Recordings. Jarmusch, que tocava em bandas antes de fazer cinema, sempre gostou da companhia de compositores.

"Com certeza ele não é um diretor que faz um pouco de música, é um músico de verdade", afirmou Deborah Kee Higgins, que ao lado do marido, Barry Hogan, dirige a ATP Recordings.

Sua obra tem similaridades tonais excêntricas – tomadas longas e lentas, queda pelo preto e branco, música obscura, evocativa, humor seco – e Jarmusch as aplicou em gêneros conhecidos, tais como o faroeste ("Homem Morto", com Depp), filmes de gângsteres com artes marciais ("Ghost Dog: Matador Implacável" com Forest Whitaker) e comédias românticas sombrias ("Flores Partidas", com Bill Murray, seu longa de maior bilheteria até hoje).

Jarmusch concebeu "Only Lovers Left Alive" como um romance terno. John Hurt interpreta um Christopher Marlowe morto-vivo, agora escrevendo em Tânger; em Detroit, Adam e Eve apontam a casa onde Jack White passou a infância. A parede da fama inclui retratos de amigos ilustres, tais como Mark Twain, Franz Schubert e Rodney Dangerfield – todos sugestões do cineasta. Adam é um virtuose relutante que compartilha a afinidade de Jarmusch por rock drone de vanguarda.

"Ele tem a fraqueza de querer ouvir a própria música ecoar", disse Jarmusch. "Não é uma coisa inteligente a se fazer quando você quer ficar escondido. Ao contrário de Eve, que não tem essa necessidade, ela se maravilha com tudo, e isso lhe basta".

Como um cineasta sempre tímido em relação à popularidade, "eu tenho a mesma fraqueza que ele". "Acho que ela é mais inteligente."

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