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Os irmãos Angulo, a partir da esquerda: Mukunda, Bhagavan, Govinda, Narayana, Jagadisa (hoje Eddie) e Krsna (hoje Glenn); por anos, eles viveram confinados em um apartamento em Manhattan; abaixo, Mukunda em sua fantasia caseira de Batman | Christian Hansen /Magnolia Pictures
Os irmãos Angulo, a partir da esquerda: Mukunda, Bhagavan, Govinda, Narayana, Jagadisa (hoje Eddie) e Krsna (hoje Glenn); por anos, eles viveram confinados em um apartamento em Manhattan; abaixo, Mukunda em sua fantasia caseira de Batman| Foto: Christian Hansen /Magnolia Pictures

Muita coisa mudou na família Angulo desde que Crystal Moselle terminou de filmar o documentário “The Wolfpack” (a matilha).

Depois de passar a maior parte de suas vidas trancados pelo pai em um apartamento em Manhattan, os seis irmãos Angulo agora podem ir e vir. Hoje eles têm amigos, empregos e páginas no Facebook.

Em janeiro, eles viajaram ao Festival de Cinema Sundance, onde o filme ganhou o grande prêmio do júri. Visitaram a família de sua mãe em Michigan e fizeram um filme de arte para a Vice. Um deles se mudou, outro tem uma namorada. Quatro cortaram os cabelos compridos. Os dois mais moços mudaram de nome.

Apesar de todos esses momentos luminosos, porém, o filme levanta questões sobre algo que os irmãos tentam deixar para trás: um passado perturbador. “Não há nada de bom em relação a isso”, disse Narayana Angulo, 22. “Não desejo essa situação para nenhuma família do mundo.”

Moselle, 34, localizou os seis irmãos, então com idades entre 11 e 18 anos, andando pelo East Village em Nova York há cinco anos.

Escritores rejeitam limites da nacionalidade

Quando Dany Laferrière tomou posse na Academia Francesa, a mais excelsa instituição literária da França, o Québec e o Haiti se apressaram em celebrá-lo, numa onda de orgulho nacional. Ele nasceu e cresceu no Haiti, mas migrou para Montreal em 1970 e assumiu a cidadania canadense.

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Ela perguntou se eram irmãos. Timidamente, eles responderam que sim e acrescentaram, como lembra Moselle: “Não devemos falar com estranhos”.

No entanto, a curiosidade os dominou depois que souberam que Moselle estava envolvida com cinema. Ela fez amizade com os meninos e começou a filmá-los enquanto reproduziam cenas de seus filmes preferidos, como “Cães de Aluguel” e “Batman: o Cavaleiro das Trevas”.

Ela achou a criatividade dos irmãos incrível: eles usavam cartolina, caixas de cereais, tinta e até tapetes de ioga para criar figurinos e cenários elaborados.

Seis meses depois, Moselle soube por que os irmãos adoravam tanto os filmes: eles tinham passado a maior parte de suas vidas fechados em um apartamento de quatro quartos no 16° andar de um conjunto habitacional no Lower East Side.

Desde que havia se mudado para o apartamento com a mulher, Susanne, e sua prole, em meados dos anos 1990, Oscar, o pai dos meninos, temendo as drogas e o crime na cidade, proibira a família de se aventurar lá fora. As pessoas eram mal-intencionadas e perigosas, disse-lhes Oscar, e eles não deviam confiar nelas. A família vivia da assistência social, e só Oscar saía para buscar comida.

“Quando você é jovem, não sabe por que as coisas são como são”, disse Govinda Angulo, 22, irmão gêmeo de Narayana. “Você simplesmente as aceita.”

Susanne, que educou os meninos em casa, disse que se sentia impotente frente às ordens do marido. “Eu achava que não tinha opção”, disse ela.

No entanto, Oscar fornecia liberalmente à sua família filmes clássicos, campeões de bilheteria e independentes. Eles tornaram-se a janela dos meninos para o mundo.

A trajetória singular dos Angulo começou no final dos anos 1980, quando Susanne Reichenbichler, um espírito livre do meio-oeste americano, conheceu Oscar, um aspirante a músico peruano. Eles se apaixonaram e sua primogênita foi Visnu, uma menina com problemas de desenvolvimento, seguida pelos seis meninos.

Devotos de Hare Krishna, os pais deram aos filhos nomes em sânscrito: Bhagavan, Govinda, Narayana, Mukunda, Krsna e Jagadisa, por ordem de nascimento.

Foi Mukunda quem desafiou as ordens do pai em abril de 2010 e se esgueirou para a rua, usando uma máscara inspirada na de Michael Myers em “Halloween”. Lojistas assustados chamaram a polícia, que pegou Mukunda. Como ele não respondia a suas perguntas, os policiais o levaram ao Hospital Bellevue, pensando que fosse doente mental.

Ele foi devolvido para casa uma semana depois.

A fuga de Mukunda foi um ponto de inflexão para a família e levou os outros irmãos, e a mãe, a fazerem o mesmo. Os irmãos referem-se a essa época como “a libertação”.

Govinda mudou-se para um apartamento no Brooklyn. O resto da família, inclusive Oscar, ainda mora com ele. No entanto, com exceção de Bhagavan, nenhum dos meninos fala mais com o pai.

“Eu quero avançar, não recuar”, disse Mukunda, 20, que é assistente de produção freelance. “Sinto que, se começarmos a voltar à antiga maneira de falar, não conseguirei progredir em minha vida.”

Hoje os irmãos parecem prosperar. Bhagavan ensina ioga jivamutki e é dançarino no conservatório de dança hip-hop. Govinda trabalha como assistente de câmera freelance e diretor de fotografia. Narayana trabalha no grupo de pesquisa de interesses públicos de Nova York.

Nenhum deles parece ter grandes problemas por ter exposto suas vidas ao mundo.

Os gêmeos, Govinda e Narayana, decidiram não assistir ao documentário, alegando timidez aguda, mas Govinda disse que o trailer o fez sentir-se hesitante.

“Há definitivamente uma sensação de Família Adams, com os cabelos compridos”, disse ele.

Quanto a seu pai, ele disse que aprendeu a perdoar e a aceitar que às vezes é assim que o universo funciona.

“Você sabe, ainda temos um longo caminho a percorrer”, disse Narayana. “Mas tenho cada vez mais esperança de que conseguiremos sair de onde estivemos.”

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