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Espécime de Walliserops que viveu há 400 milhões de anos; Huber, como outros cientistas, é fascinado pelos trilobitas | Chip Clark/Smithsonian
Espécime de Walliserops que viveu há 400 milhões de anos; Huber, como outros cientistas, é fascinado pelos trilobitas| Foto: Chip Clark/Smithsonian

Os olhos do trilobita eram diferentes dos de todos os outros animais, pois os cristalinos eram de cristais de calcita, não de proteína

Os trilobitas talvez sejam os fósseis arquetípicos, símbolos de um mundo arcaico de eras remotas. Mas todos nós deveríamos parecer tão garbosos após meio bilhão de anos.

No Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian em Washington, Brian T. Huber, responsável pela cadeira de paleobiologia, aponta para um espécime de Walliserops em perfeito estado. Esse trilobita de 13 cm nadava nos mares devonianos cerca de 150 milhões de anos antes do surgimento dos primeiros dinossauros.

Perto dele fica um tetigonióideo Boedaspis ainda mais antigo e com um espalhafatoso nimbo de filamentos espinhosos. O doutor Huber abre uma gaveta para mostrar um trilobita escuro do tamanho de um camundongo e meticulosamente blindado, que ainda não foi identificado.

"Quando veem esses fósseis, muitas pessoas não acreditam que eles sejam reais", comentou o doutor Huber, 54. "Elas acham que são modelos artísticos."

Os fósseis são reais, assim como a paixão dos cientistas por trilobitas. Parentes distantes dos crustáceos da ordem dos xifosuros, esse grupo diversificado e esclarecedor de animais marinhos antigamente dominava seu ambiente, assim como os dinossauros e os humanos posteriormente dominariam os seus.

Em uma série de relatórios, cientistas descrevem novas descobertas sobre o sistema visual do trilobita e sua marcante constituição corporal, que permitiam que o animal se enrolasse, formando uma bola, por questão de defesa. Outros descobriram provas de que alguns trilobitas eram altamente sociáveis, percorrendo longas distâncias em fila para procurar alimento ou reunindo-se durante a temporada de muda da carapaça para encontrar parceiros.

Alguns pesquisadores sugeriram que muitas características identificadas em fósseis de trilobitas —as antenas enormes na cabeça, as espinhas onduladas nas espáduas e talvez os pedúnculos oculares— são equivalentes à cauda do pavão.

"Se você examinar hoje a diversidade da vida, a maioria das coisas exageradas e estranhas que vemos se deve à seleção sexual", disse Robert J. Knell, da Universidade Queen Mary de Londres. "Não há razão para achar que a evolução funcionava de maneira diferente no passado."

Resta um enigma: os pesquisadores não têm pistas para descobrir qual é o sexo de um fóssil de trilobita. Segundo Carlton E. Brett, professor de geologia na Universidade de Cincinnati, em Ohio, as "partes íntimas" não se fossilizam rapidamente.

Os trilobitas viveram por quase 300 milhões de anos —quase o dobro do tempo dos dinossauros. Pesquisadores estudam seu padrão de desenvolvimento, a maneira como cada um crescia simplesmente gerando novos segmentos para trás do corpo e depois "se desmembrando", disse Nigel Hughes da Universidade da Califórnia em Riverside.

Pesquisadores identificaram 20 mil espécies de trilobita, que variam no tamanho adulto de menos de 1 centímetro às dimensões de um tampo de mesa de cozinha. Eles podem ter conchas ou pás, ser espinhosos ou belamente aerodinâmicos", comentou Hughes. "Eles se diversificaram para explorar ao máximo seu espaço evolutivo, mas mantêm a constituição corporal comum" —os três lobos verticais, ou trilobos, que dão nome à classe.

Os olhos do trilobita diferiam dos de outros animais conhecidos, pois os cristalinos eram de cristais de calcita, não de proteína. Na maioria dos trilobitas, cada olho tinha centenas de minúsculos cristalinos de calcita. Bem mais tarde na evolução do trilobita, um grupo desenvolveu um tipo de olho diferente, composto por um número menor de cristalinos de calcita, que eram maiores e separados. Conforme descreveram na publicação "Scientific Reports", Brigitte Schoenemann, das Universidades de Colônia e Bonn na Alemanha, e Euan N. K. Clarkson, da Universidade de Edimburgo, examinaram espécimes desses olhos de trilobitas tardios.

Sua conclusão foi que os olhos tinham a função de enxergar extremamente bem em luz baixa, indício de que alguns trilobitas desciam até águas mais profundas ou se entocavam mais fundo na lama para escapar da proliferação de predadores marinhos dotados de dentes e novos crustáceos rivais. Mais para o final da Era Paleozoica, a outrora florescente tribo dos trilobitas fora reduzida a poucas espécies, que também desapareceram na extinção em massa do Período Permiano, há 252 milhões de anos. O fascínio exercido pelos trilobitas, porém, é atemporal. Todos se encantam com seus olhos grandes e a cabeça redonda.

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