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 | Owen Smith
| Foto: Owen Smith

O professor de sociologia Michael Kimmel, 64, estava diante de uma sala de aula. Ele perguntou aos alunos, quase todos da graduação: “O que significa ser um homem bom?”

“Gentil”, disse um estudante.

“Priorizar as necessidades dos outros, mais do que as suas”, respondeu outro rapaz.

“Honesto”, opinou um terceiro.

Kimmel anotou cada resposta na lousa, sob o cabeçalho “Homem Bom”. “E agora”, falou, “me digam o que significa ser um homem de verdade.”

“Assumir o comando das situações, ter autoridade”, respondeu um aluno de segundo ano.

“Correr riscos”, opinou um pós-graduando em sociologia.

“Reprimir qualquer tipo de fraqueza”, sugeriu outro.

“Acho que, para mim, ser um homem de verdade significa falar como homem”, disse um jovem criado na Turquia. “Nunca chorar.”

Kimmel apontou para a lista “Homem Bom” e depois para a lista “Homem de Verdade”. “Vejam a disparidade. Acho que os homens americanos estão confusos em relação ao que significa ser homem.”

Esta é a disciplina de estudos masculinos: o estudo acadêmico do significado de ser homem no mundo de hoje. Parece que, a cada dia que passa, a mídia divulga uma nova notícia sobre homens em crise: doenças mentais, suicídio, terrorismo, estupro, chacinas, desastres aéreos ou rapazes negros sendo mortos pela polícia.

“De poucas em poucas semanas, temos nos EUA um atirador cometendo um massacre”, disse Kimmel. “Cada vez que isso acontece, falamos das armas de fogo. Falamos da saúde mental. Mas não falamos do fato de que todos esses atiradores são homens. Precisamos entender como a masculinidade afetou sua vivência.”

Kimmel é fundador e diretor do Centro de Estudos dos Homens e das Masculinidades da Universidade Stony Brook, em Long Island, Nova York, que vai lançar o primeiro programa de mestrado em “estudos das masculinidades” —no plural, para reconhecer que existe “mais de uma maneira de ser homem”, segundo Kimmel.

O professor promove a compreensão dos homens e meninos há mais de 40 anos. Ele é autor de mais de uma dúzia de livros, entre os quais “Angry White Men” (Homens brancos irados), “Manhood in America: A Cultural History” (A masculinidade na América: uma história cultural) e “Guyland: The Perilous World Where Boys Become Men” (A terra dos caras: o mundo perigoso onde meninos se tornam homens).

Os argumentos em favor dos estudos feministas são claros há muito tempo. Os primeiros programas do tipo foram fundados na década de 1970, no auge do movimento feminista. Esses estudos produziram pesquisas, teorias e ativistas que se esforçaram para escrever livros de história incluindo as mulheres, que até então tinham estado em grande parte ausentes deles. Para Barbara J. Berg, historiadora americana e autora de “Sexism in America”, é válido afirmar que, sem os estudos feministas, muitos dos avanços conquistados nos últimos 45 anos não teriam ocorrido.

Até recentemente, porém, os estudos masculinos nunca pareceram ser realmente necessários. A literatura era essencialmente um estudo de coisas escritas por homens; a história da arte, o estudo de obras pintadas por homens.

Mas, para Kimmel, um programa de estudo da masculinidade deve incorporar elementos de várias disciplinas, desde a assistência social até a saúde, passando pela literatura. Ele colocaria perguntas como “o que faz os homens ser homens?” e “como estamos ensinando os meninos a cumprir esses papéis masculinos?”. Ele analisaria os efeitos da raça e da sexualidade sobre a identidade masculina e a influência da mídia e da cultura pop. Permitiria aos estudiosos tentar ligar os pontinhos entre fenômenos diversos —por exemplo, o suicídio masculino e o fato de que os homens têm tendência menor a falar de seus sentimentos, ou o colapso financeiro e a tendência masculina a correr riscos.

“Estamos encarando isso como uma ciência”, disse Daphne C. Watkins, presidente da Associação Americana de Estudos Masculinos. Ela é a primeira mulher a ocupar o cargo. “Muitos homens ainda definem a masculinidade como sendo a característica de uma pessoa que é a provedora de sua família, que consegue lutar e proteger. Eu gostaria muito que ampliássemos essas definições.”

O estudo das masculinidades é acompanhado de graus diversos de ceticismo. Alguns acadêmicos sugerem que o tema seja um modismo, não digno de pesquisas acadêmicas sérias. Outros temem que ele possa desviar recursos de estudos feministas.

Mas o público de Kimmel vem crescendo. A ONU Mulheres, braço das Nações Unidas dedicado à igualdade de gêneros, vai trabalhar com Kimmel para desenvolver uma série de workshops para homens em campi universitários.

Para Kimmel, essa urgência se deve a alguns fatores. Para começar, a discussão da igualdade parece estar por toda parte. Mais atenção passou a ser dedicada ao papel exercido pelos homens em ajudar as mulheres a conquistar a igualdade e o porquê de isso ser positivo também para os homens.

Uma pesquisa recente constatou que quatro em cada nove homens disse que é mais difícil ser homem hoje do que era para a geração de seus pais, e a maioria citou a ascensão econômica das mulheres como a razão.

Se tivéssemos um entendimento melhor dos homens, perguntam os estudiosos, quantos dos males do mundo poderíamos resolver —ou, pelo menos, procurar resolver?

“Há um documento do Pentágono”, disse Kimmel, “em que Lyndon Johnson é citado como tendo dito que não queria ordenar a retirada das tropas americanas do Vietnã porque ele não seria visto como homem. Estamos falando do presidente dos Estados Unidos provando sua virilidade.”

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