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Pacientes psiquiátricos no México; “limpeza” do sistema de saúde mental resultou em poucos progressos | Adriana Zehbrauskas para The New York Times
Pacientes psiquiátricos no México; “limpeza” do sistema de saúde mental resultou em poucos progressos| Foto: Adriana Zehbrauskas para The New York Times

Numa manhã recente, um grupo de pessoas com doenças mentais vagava por um hospital psiquiátrico daqui, entrando em salas sujas e dilapidadas, intercambiando histórias angustiadas e cobrindo os administradores de perguntas.

Mas não eram pacientes. Eles empunhavam notebooks, canetas e câmeras ao documentarem as condições do deteriorado hospital, como parte de um novo movimento de ex-pacientes que buscam responsabilizar o sistema de saúde mental do México por um histórico de negligências e abusos, numa situação que é vista como uma das piores nas Américas nesse campo. "Nós nos tornamos ativistas a fim de proteger nossos próprios direitos", disse Raúl Montoya, diretor-executivo do Colectivo Chuhcan, organização de pessoas com transtornos psiquiátricos que exige o fim dos problemas sistêmicos.

Um relatório de 2010 da entidade de direitos humanos Disability Rights International encontrou indícios de tortura e outras formas de tratamento cruel ou desumano nas instituições psiquiátricas mexicanas. Em janeiro, o presidente Enrique Peña Nieto, prometendo cumprir promessas anteriores do México no sentido de "limpar" o sistema de saúde mental, sancionou uma lei destinada a aliviar a superlotação dos hospitais psiquiátricos, a melhorar o tratamento e a reduzir o estigma associado às doenças mentais, por meio da reintegração desses pacientes à população geral. Mas especialistas dizem que o progresso foi muito tímido.

Formado em 2011, o Colectivo Chuhcan começou como um projeto da Disability Rights International, mas depois ganhou vida própria. Seus membros se encorajam mutuamente em sua reabilitação, dão apoio emocional a pacientes psiquiátricos e realizam campanhas informativas para erradicar o estigma associado à doença mental. Em agosto, o grupo começou a visitar hospitais psiquiátricos e a pressionar o governo para melhorar as condições.

As questões de saúde mental são tratadas como tabu e costumam ser mal compreendidas no México. Mas sinais de aceitação estão surgindo. O programa radiofônico Radio Abierta, criado por pacientes psiquiátricos mexicanos, vem crescendo solidamente desde seu início, em 2009. Ele permite que convidados, muitos dos quais com transtornos psiquiátricos, ocupem as ondas radiais durante uma hora por semana, e foi ampliado para incluir especialistas e estudantes de psicologia.

"Não há mais vozes que ninguém escuta", disse a psiquiatra Sara Makowski, que criou e apresenta o programa.

Numa recente edição, Jaime Gustavo, paciente de um hospital próximo do improvisado estúdio do programa, contava os abusos que sofreu. "Eles me davam banho com água fria; eu me oponho a isso!", disse.

Em visita a essa instituição recentemente, Natalia Santos, presidente do Colectivo Chuhcan, e dois outros membros do grupo fizeram anotações detalhadas sobre os pertences que os pacientes são autorizados a manter, suas expressões faciais e sua prolongada inatividade. Eles perguntavam com frequência aos pacientes sobre como eles se sentiam e do que precisavam. "Quem melhor para fazer esse trabalho do que alguém que tem essa deficiência?", perguntou Santos, que sofre de esquizofrenia paranoide e depressão. "Posso ver que eles não estão bem. Alguns refletem medo; outros, raiva; outros, impotência."

Alguns pacientes que os reconheceram de visitas anteriores tentaram avisar —alguns por meio de grunhidos e gestos— sobre casos de abuso no hospital, e outros simplesmente ansiavam por uma oportunidade de contato humano com pessoas de fora.

O grupo pareceu abalado durante a visita, oprimido por odores fétidos e tendo de caminhar por pisos imundos. "Às vezes paramos para pensar como podemos acabar se não nos controlarmos", disse Santos, que foi internada duas vezes. "Tento ser forte."

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