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Shannon Sun-Higginson, diretora do documen-tário “GTFO”, que analisa o trata-mento dado às mulheres na indústria de games | Mark Makela/The New York Times
Shannon Sun-Higginson, diretora do documen-tário “GTFO”, que analisa o trata-mento dado às mulheres na indústria de games| Foto: Mark Makela/The New York Times

No documentário “GTFO”, Jenny Haniver está descontraída em sua sala em Wisconsin, com os polegares no controle de seu Xbox, pronta para iniciar mais uma sessão de Call of Duty. Mas, quando seus colegas on-line descobrem que o atirador entre eles é uma mulher, começam os comentários.

Um jogador faz críticas às mulheres —elas jogam mal, não sabem dirigir—, antes de pedir que Haniver saia do jogo. “Vocês são inúteis depois que seu hímen é rompido”, diz ele.

Ao longo dos anos, Haniver sofreu todo tipo de abuso como jogadora. Você deve ser gorda, os homens lhe dizem, ou feia, ou ter muitos gatos. Vários já ameaçaram estuprá-la e matá-la. “Um cara disse que ia me engravidar de trigêmeos e depois me forçar a ter um aborto no fim da gestação”, disse ela.

A história de assédio on-line de Haniver é um dos momentos mais assustadores do filme, que estreou neste mês nos EUA.

O assédio on-line na indústria de videogames tem ganhado manchetes —sobretudo com a chamada controvérsia do GamerGate, em que jogadores anônimos ameaçaram estuprar e assassinar as desenvolvedoras de jogos Zoe Quinn e Brianna Wu—, e o filme “GTFO” (sigla de uma expressão obscena para se rejeitar alguém) defende que esses não são incidentes isolados.

O tratamento dado às mulheres no mundo dos games —como jogadoras, desenvolvedoras ou críticas culturais— está sendo explorado em novos documentários. Além de “GTFO”, a ideia também é explorada em “GameLoading: Rise of the Indies”, sobre as desenvolvedoras de jogos independentes, e em “No Princess in the Castle”, sobre as experiências de jogadoras e desenvolvedoras de jogos.

Shannon Sun-Higginson, diretora de “GTFO”, começou a trabalhar no documentário depois que viu um clipe de Cross Assault (competição em live-streaming) em que um jogador, Aris Bakhtanians, assediou sexualmente sua companheira de jogo Miranda Pakodzi durante vários minutos no programa. Mas a abordagem de Sun-Higginson se ampliou quando ela falou com outras mulheres. “Eu decidi dar um passo atrás e explorar o que significa ser uma mulher nos jogos em geral”, disse ela.

O filme inclui intertítulos animados divertidos, fotos de telas de textos com erros de digitação e gravações de técnicos de computação do início da era da informática, nas quais raramente aparece uma mulher.

Nas cenas com Haniver, ouvimos as mensagens em toda a sua terrível grosseria. Em 2012, Haniver, hoje com 26 anos, começou a gravar comentários ao vivo e mensagens de e-mail em voz dirigidas a ela e as publicou em seu site na web, NotintheKitchenAnymore.com.

“Muita gente diz: ‘Oh, é apenas um bando de meninos de 13 anos’”, disse ela. “As gravações de voz permitem perceber que não são só crianças.”

Quando Lester François começou a falar com desenvolvedoras independentes para seu documentário “GameLoading”, histórias semelhantes surgiram espontaneamente.

Entre as entrevistadas está Quinn, que criou o Depression Quest em 2013. Em vez de combater dragões e demônios, os jogadores lutam contra a depressão clínica. O tema enfureceu alguns. Anônimos lhe enviaram ameaças de estupro e morte e publicaram na rede o endereço e o telefone de sua casa, forçando-a a se mudar.

As entrevistadas em “GTFO” e “GameLoading” oferecem possíveis remédios para a indústria: mais codificadoras e criadoras de jogos; um leque maior de personagens femininas; mais pressão dos pares contra a minoria que estraga o ambiente; e mais mulheres participando de eventos de videogames.

“Meu maior medo é que o filme afaste as jovens dessa indústria, que agora está crescendo e prosperando”, disse Sun-Higginson. “Obviamente, quanto mais diversidade houver no setor, melhor.”

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