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Fábrica de maconha medicinal prometeu gerar empregos para cidade canadense, mas a atividade preocupou alguns moradores | Dave Chan /The New York Times
Fábrica de maconha medicinal prometeu gerar empregos para cidade canadense, mas a atividade preocupou alguns moradores| Foto: Dave Chan /The New York Times

O aroma de chocolate antes onipresente sumiu de Smiths Falls, Ontário, desde que a Hershey transferiu sua unidade de produção para o México há seis anos. Agora, o armazém exala um odor diferente: o aroma penetrante de 50 mil pés de maconha.O novo proprietário da fábrica é a Tweed Marijuana, uma das cerca de 20 empresas autorizadas a plantar maconha medicinal no Canadá.

Após um tribunal obrigar o governo a disponibilizar maconha para fins medicinais em 2000, houve uma enxurrada de queixas da polícia e de governos locais. Então o governo canadense resolveu montar um sistema com regulações estritas. As novas regras permitem que usuários com receitas médicas comprem apenas de produtores comerciais em grande escala autorizados, como a Tweed, medida que visa acabar com milhares de plantações informais.

As exigências, que entraram em vigor em abril, estão fomentando uma nova indústria, que muitos apostam que será lucrativa.

O governo calcula que o setor poderá gerar vendas equivalentes a mais de 3,1 bilhões de dólares canadenses (R$ 6,5 bilhões) por ano na próxima década. "É uma raridade um setor industrial iniciante já ter um enorme mercado consolidado", disse Chuck Rifici, presidente da Tweed.

O Canadá não é o único que transformou a outrora proibida cannabis em uma proposta legal —ou no mínimo tolerada. Há muito tempo, a Holanda permite a posse individual, o cultivo de pequenas quantidades e a venda em cafés autorizados. A Espanha permite o cultivo para uso pessoal. Portugal descriminalizou a posse.

Nos EUA, 20 Estados e o Distrito de Columbia legalizaram a maconha medicinal. Os Estados de Washington e Colorado legalizaram o uso recreativo. A maconha, porém, continua ilegal sob a legislação federal.

Em compensação, o Canadá tem um conjunto coeso de regulações que estabelecem as diretrizes para que um grupo de empresas possa montar operações.

"Isso foi muito importante para nós como investidores", comentou Brendan Kennedy, presidente da Privateer Holdings, fundo de private equity que criou a Tilray, um dos novos produtores legais no Canadá.

A fábrica da Hershey em Smiths Falls, que teve cerca de 800 funcionários em seu auge, era vital para a economia local.

"A fábrica foi uma grande atração turística da cidade", afirmou o prefeito Dennis W. Staples. Ela atraía cerca de 400 mil visitantes por ano.

A Hershey fechou em 2008. Em 2012, vendeu a fábrica para uma holding. Por volta da mesma época, Rifici foi a Smiths Falls. Staples e os vereadores lhe deram apoio, pois acreditavam que a Tweed ajudaria a impulsionar a geração de empregos e o fluxo de investimentos. "Se isso vai acontecer em algum lugar do Canadá, por que não em Smiths Falls?", indagou Staples.

A Tweed teve de vencer o estigma de um negócio que era ilícito. Rifici disse que o proprietário da fábrica não queria alugá-la para uma empresa iniciante especializada em maconha. Então Rifici e seu sócio tiveram que comprar a fábrica. Rifici disse que foi impossível conseguir um empréstimo bancário. Inicialmente, a Tweed angariou dinheiro de investidores privados. Recentemente, a empresa passou a vender ações na Bolsa.

Outras operações têm enfrentado obstáculos semelhantes. Quando a Privateer resolveu criar a Tilray, Kennedy percorreu o Canadá até achar o lugar certo. Era óbvio, disse ele, que a Privateer enfrentaria resistência em muitas áreas. Por fim, o Royal Bank of Canada concordou em abrir uma conta para a Tilray.

Até agora a Tweed não conquistou todo mundo em Smiths Falls. Como muitas cidadezinhas com trabalhadores braçais em zonas rurais da América do Norte, ela tem um problema com drogas ilegais, sobretudo com crack e maconha. "Muitas pessoas aqui têm antecedentes criminais", disse Andrew Brinkworth, 18. "E elas não vão conseguir um emprego na fábrica se forem fichadas pela polícia."

Habituado a desenvolver start-ups rapidamente com pouco capital, Rifici e seu sócio calcularam por baixo o dinheiro de que precisariam, em grande parte devido às exigências regulatórias do governo. Os produtores devem ter sistemas para filtrar o ar, para que o odor da maconha não vaze, e implantar medidas de alta segurança como leitores de impressões digitais e dados biométricos. Os funcionários devem passar por verificações de segurança que podem durar seis meses.

"Se soubesse desde o início que havia tantas exigências, é provável que eu continuasse empolgado com a atividade", disse Rifici. "Mas também poderia achar que não conseguiria chegar lá."

Além da questão da regulamentação, o setor enfrenta uma batalha árdua, pois renomados médicos e pesquisadores e até a Associação Médica do Canadá são totalmente contra a prescrição de maconha. Segundo eles, a maconha não passou por testes e pelo processo de aprovação exigidos para outros produtos farmacêuticos.

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