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 | Afolabi Sotunde para The New York Times
| Foto: Afolabi Sotunde para The New York Times

O dinheiro foi entregue em grandes sacos, com US$ 15 milhões em notas de US$ 100. James Ibori, governador de um Estado petrolífero no sul da Nigéria, estava tão desesperado para evitar um processo por acusações de corrupção que tentou subornar Nuhu Ribadu, então comissário de combate à corrupção da Nigéria. Ribadu aceitou o dinheiro, mas era tudo uma farsa.

Ribadu não ficou com a bolada, um ato notável em uma nação onde a corrupção é endêmica. Em vez disso, ele o depositou no cofre de um banco público, como prova dos muitos delitos de Ibori, que foi preso em 2007. No final das contas, porém, o governador foi inocentado por um tribunal nigeriano. Ele foi condenado no Reino Unido por lavagem de dinheiro e conspiração para cometer fraude.

O desfecho do caso é, em vários aspectos, um emblema da carreira de Ribadu como combatente anticorrupção na Nigéria: uma série de vitórias parciais contra um inimigo aparentemente imbatível.

Hoje em dia, Ribadu passa o tempo sentado na sua casa, uma mansão governamental nesta capital pré-fabricada da década de 1980, ruminando qual será seu próximo passo. Aos 53 anos, ele é festejado na Nigéria e no exterior por seu período de cinco anos como chefe da unidade anticorrupção. De 2003 a 2008, ele processou dez destacadas figuras públicas do país, incluindo nove governadores.

Sua reputação ganhou brilho depois que ele foi retirado do cargo e forçado a se exilar —após tentativas de assassinato, afirma. Ele voltou à Nigéria para disputar a Presidência em 2011, mas não chegou nem perto da vitória. Desde então vem enfrentando dificuldades para encontrar um lugar na vida pública nigeriana.

"Para a população em geral, ele é um obstinado cruzado anticorrupção", disse Femi Falana, proeminente advogado nigeriano defensor dos direitos humanos. Desde a abrupta demissão de Ribadu, "há uma sensação de que a guerra contra a corrupção é uma batalha perdida", disse.

Com um jeito tranquilo de falar, Ribadu usou um termo nigeriano para o suborno, ao dizer: "A maioria das pessoas com quem você se depara vai querer ‘se acertar’ com você. Até o meu último dia de trabalho, as pessoas ficavam tentando me subornar.".

Sua reputação não está inteiramente imaculada. Alguns críticos acusavam seu departamento de perseguir seletivamente inimigos do homem que o nomeou, Olusegun Obasanjo, o então presidente do país. De fato, antes das eleições nacionais de 2007, o departamento comandado por Ribadu publicou uma lista de 135 candidatos "corruptos", afirmando que eles não deveriam ter permissão para disputarem um cargo público.

Nenhum dos aliados mais próximos de Obasanjo era citado, observou a Human Rights Watch, grupo de defesa dos direitos humanos. Outros críticos dizem que o órgão usou as repulsivas prisões do país para obter confissões dos réus, que procuravam evitar longos julgamentos e longas permanências em celas fétidas e superlotadas.

A HRW disse em agosto de 2011 que o legado de Ribadu "foi manchado" por tais práticas. Mas, segundo a organização, um "momento importante" ocorreu em 2005, quando Ribadu levou para os tribunais, algemado,o principal chefe policial da Nigéria, Tafa Balogun. O policial confessou que havia deixado de declarar bens avaliados em US$ 150 milhões.

A reputação de Ribadu no que se refere à honestidade pessoal permanece relativamente intacta. Ninguém de credibilidade o acusou de roubar ou aceitar suborno.

Resta ver se essa imagem incorruptível poderá alçá-lo à política. Ribadu não descarta a possibilidade de uma nova candidatura. O partido governista, diz ele, "está no poder há 15 anos, promovendo a corrupção, o egoísmo e a incompetência. Chegou ao ponto em que é igual a uma quadrilha."

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