• Carregando...
Adam Khan, de 45 anos, deixou a família para fumar heroína em um abrigo cavernoso de pedra | Daniel Berehulak Para The New York Times
Adam Khan, de 45 anos, deixou a família para fumar heroína em um abrigo cavernoso de pedra| Foto: Daniel Berehulak Para The New York Times

Os viciados andam pelas ruas desta cidade fronteiriça, magros feito esqueletos, com os cabelos ensebados e os olhos vidrados. Os vilarejos que cercam a estrada são verdadeiras cidades de zumbis, onde famílias de homens, mulheres e crianças escondem o vício em pequenas cabanas de barro.

"Às vezes eu acho melhor morrer do que viver desse jeito", afirmou Haidar, de 30 anos, sentado no chão da sala, ao lado de uma latinha com um pó parecido com açúcar. Sua esposa e o filho pequeno têm a mesma cara assombrada pelo vício.

Na província ocidental de Herat, considerada uma ilha de estabilidade e progresso no Afeganistão, esta cidade na fronteira do país exibe uma crise cada vez maior: o Afeganistão, que por muito tempo foi o maior produtor mundial de derivados do ópio, também se tornou uma das sociedades mais viciadas do mundo.

Estima-se que o número de usuários de drogas no Afeganistão chegue a 1,6 milhão, ou cerca de 5,3 por cento da população, uma das taxas mais altas do mundo. Em todo o país, uma em cada dez famílias urbanas tem ao menos um usuário de drogas, de acordo com um relatório recente do Bureau Internacional de Narcóticos e Relações Policiais. Na província de Herat, o número é de uma em cada cinco.

Em um país afetado pela adversidade, da guerra à corrupção generalizada, tratar dependentes químicos é uma das menores prioridades nacionais. Desde o início da guerra em 2001, os americanos gastaram mais de 6 bilhões de dólares para atacar a indústria afegã do ópio. Mas nos dois últimos anos, o cultivo de ópio chegou ao nível mais alto desde 2008, uma vez que a demanda global e os preços continuam altos.

A oferta é grande o suficiente para alimentar a demanda doméstica. "Isso é um tsunami passando por nosso país", afirmou o ministro da saúde pública, Dr. Ahmad Fawad Osmani.

Em nenhum outro lugar do Afeganistão a situação parece ser pior do que na província de Herat, que segue em franca ascensão, tem uma sociedade relativamente progressiva e cuja capital é vibrante.

Porém, sob a superfície tranquila, Herat enfrenta o problema mais sério de dependência de drogas do país. Durante muito tempo, Islam Qala serviu de base para os homens que trabalhavam durante o dia no Irã, mas agora, a cidade também serve ponto de passagem para os viciados que retornam a Herat. A maioria dos homens diz ter adquirido o vício no Irã.

O chefe do ministério de combate aos narcóticos de Herat afirma que existem entre 60.000 e 70.000 dependentes na província, embora autoridades de saúde afirmem que o número se aproxima de 100.000. O uso de drogas também infectou vilarejos inteiros em torno de Islam Qala, incluindo até crianças viciadas pelo fumo passivo de ópio.

Na capital de Herat, os viciados enchem as ruas e parques, pedindo dinheiro para pedestres e motoristas. Regiões da cidade se transformaram em guetos de dependentes, como Kamar Kulagh, uma favela de sacos de areia, pedras e trapos à beira de uma estrada onde, há poucos dias, formas humanas se confundiam com a paisagem macilenta da estrada que fica no extremo norte da cidade.

Era possível ver o vidro quebrado jogado na beira de um morro que levava ao local. Um sofá improvisado feita com a grade dianteira de um caminhão e assentos quebrados de vasos sanitários oferecia um abrigo do sol. O cheiro de fezes se espalhava por toda a parte.

Azim Niazi, de 30 anos, carregava dois sacos cheios de garrafas vazias, que reciclava para financiar o hábito de usar drogas, adquirido, segundo ele, quando trabalhava no Irã. Outro dependente, Wahid Ahmad, de 27 anos, afirmou que vivia ali desde que foi deportado do Irã há dois anos.

Os dois começaram a falar sobre a morte de um dos moradores da favela naquela manhã, um homem que conheciam apenas como Reza.

"É o terceiro dia seguido em que alguém morre por aqui", afirmou Ahmad, listando as doenças que acometem os moradores do local. Ele parou, refletiu por um instante enquanto o trânsito rugia mais adiante, os olhos vermelhos encravados em sua face carcomida.

Os dois caminharam para dentro da favela, onde encontraram o corpo de Reza esticado em uma toca de pedra com telhado de plástico amarelado. Reza estava deitado de costas e a parte inferior da camisa cinza cobria seu rosto magro. Moscas zumbiam dentro e fora do casebre enquanto um perfume forte mascarava o cheiro do cadáver.

Niazi apontou para um homem, um esqueleto coberto de pele, deitado em um cantinho de sombra próximo dali, e disse: "O amigo dele vai morrer amanhã".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]