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Michael Stevens, suboficial-chefe mestre da Marinha: dificuldade para redefinir uma posição com mais de 100 anos. | Zach Gibson/NYT
Michael Stevens, suboficial-chefe mestre da Marinha: dificuldade para redefinir uma posição com mais de 100 anos.| Foto: Zach Gibson/NYT

Dias depois que o Departamento de Defesa dos EUA abriu todas as funções de combate para as mulheres em 2015, o secretário geral da Marinha, Ray Mabus, decidiu que uma mudança mais sutil era necessária para sinalizar a igualdade de gênero. De acordo com Mabus, a Marinha e os Marine Corps teriam de criar novos nomes para as dezenas de títulos terminados por “man” (ou “homem” em inglês), como em “rifleman”, “mineman” e “assault man”.

“Man” pode ser substituído por “técnico”, “especialista” ou “profissional”, o que significa que foi relativamente fácil resolver esse problema. Contudo, um título foi mais complicado para as autoridades da Marinha: “yeoman”, o nome tradicional dado aos membros que trabalham nas posições burocráticas que em muitos casos são ocupadas agora por mulheres.

O problema com o título, que é parte da terminologia naval há séculos, é que sem o sufixo “man”, resta apenas o radical – “yeo” – que não significa praticamente nada. “Não dá pra chamar alguém de especialista em yeo, ou de yeotécnico, né?”, questionou Michael D. Stevens, suboficial-chefe mestre da Marinha, o cargo máximo para um marinheiro da ativa e que foi encarregado de encontrar novos títulos para seu pessoal. “Pessoa Yeo? Não dá pra usar isso.”

A questão pode parecer irrelevante, se comparada a alguns dos problemas que o Pentágono encontrou na tentativa de cumprir a ordem de tornar o serviço militar mais inclusivo, dada pelo presidente Barack Obama. Além de abrir todas as vagas de combate para as mulheres, o Pentágono não proíbe mais a presença de homossexuais assumidos na carreira militar, aumentou a licença maternidade e está procurando a melhor forma de incorporar pessoas trans em sua hierarquia.

Mas na iniciativa de eliminar as marcas de gênero dos títulos, a Marinha precisou tirar décadas de atraso em relação à sociedade civil, embora esteja bem à frente de outras áreas militares. Com o crescimento do feminismo nos anos 1970, muitas pessoas lutaram por uma linguagem mais neutra em termos de gênero. Desde então, palavras como “fireman” (bombeiro) e “stewardess” (aeromoça) foram substituídas por “firefighter” (bombeiro) e “flight attendant” (comissário de bordo). Além disso, os juízes da Suprema Corte norte-americana pararam de se referir uns aos outros como “brother” (irmão).

Mabus, ex-governador do Mississippi pelo Partido Democrático e embaixador dos EUA na Arábia Saudita, tem lutado há anos para que a Marinha evolua. Em 2010, abriu os submarinos para as mulheres e, no ano passado, triplicou o tempo de duração da licença maternidade. Além de insistir para que os títulos fossem neutros, Mabus queria que os oficiais da marinha criassem nomes que fossem mais fáceis de entender para pessoas de fora da Marinha.

Títulos como “hospital corpsman” – utilizado para médicos – podem ser confusos, o que dificulta a vida dos marinheiros que procuram empregos civis depois de saírem da ativa. Recentemente, Mabus recebeu recomendações sobre como modificar os títulos das funções. Ele esperava tomar uma decisão formal nas semanas seguintes.

“É preciso ter um serviço militar que reflita o país que ele protege, e se ficamos distantes demais do restante do país isso é ruim, especialmente em uma democracia. Estabelecemos padrões e não os diminuímos ou alteramos para as pessoas, com isso o gênero ou quem você ama não são mais relevantes”, afirmou em uma entrevista por telefone.

Alternativas

Mas no caso dos yeomen, que fazem parte da Marinha há quase 200 anos, os comandantes tiveram de abrir uma exceção. Não existem alternativas muito boas e Mabos afirmou que talvez se decida pela manutenção de alguns títulos, consciente de que a decisão pode atrair críticas. “Existem alguns títulos icônicos que não podemos mudar porque estão arraigados e fazem parte de nossa história há tanto tempo que já não denotam mais o gênero”, afirmou Mabus.

Uma razão para manter o “yeoman” tem relação com sua pronúncia, afirmou Deborah Tannen, linguista da Universidade de Georgetown que escreveu em 1990 o best-seller “You Just Don’t Understand: Women and Men in Conversation” (Você não entende: conversas entre homens e mulheres).

“Existe uma diferença entre as palavras em que ouvimos ‘man’, como ‘mineman’, e nas que são como ‘yeoman’, onde o som se parece mais com ‘min’. Caso se trate de um título em que é possível ouvir ‘man’ e uma mulher aparece para fazer o trabalho, isso é uma ruptura que pode dar a entender que ela não é adequada para o serviço. As pessoas pensam que ela não pode ser um ‘mineman’; já que é uma mulher’. Mas se ela aparece na qualidade de ‘mine specialist’ (ou especialista em minas), ao menos a língua está a seu favor”, afirmou Deborah.

Vários escritores tentaram encontrar uma alternativa para “yeoman”. Na peça “The Foresters”, encenada em Nova York pela primeira vez em 1892, o poeta Alfred Tennyson fez uma piada utilizando uma alternativa durante um diálogo entre um casal apaixonado. “Sou um yeoman inglês”, afirmou Robin Hood para Marian. Ao que ela responde: “Então, sou uma yeo-woman. Que palavra desajeitada!”.

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