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A mina de Belchatow, na Polônia, é chamada de “o maior buraco do país” pela população | Maciek Nabrdalik para The New York Times
A mina de Belchatow, na Polônia, é chamada de “o maior buraco do país” pela população| Foto: Maciek Nabrdalik para The New York Times
  • Belchatow tem a maior usina movida a carvão na Europa; seis das dez cidades europeias com maiores níveis de poluição estão na Polônia

Eles a chamam de o maior buraco no chão da Polônia. A mina de carvão nesta cidade tem mais de 13 quilômetros de comprimento, quase 3 de largura e cerca de 300 metros de profundidade. "Toda a população do mundo caberia neste buraco", disse Tomasz Tarnowski, administrador do local, com certo exagero, enquanto conduzia um grupo que passava perto de uma montanha de carvão marrom na entrada da mina.

A Polônia é o colosso do carvão europeu. Mais de 88% de sua eletricidade vêm do carvão. Belchatow é uma de suas enormes fontes e o maior emissor de carbono da Europa.

Neste mês, uma conferência da ONU sobre mudança climática se realiza na Polônia, local que muitos ativistas ambientais consideram a escolha menos apropriada que se poderia imaginar. Enquanto a União Europeia traçou metas ambiciosas de energia limpa, destinadas a reduzir os gases do efeito estufa ligados ao aquecimento global, a Polônia tem sido contra a redução dos combustíveis fósseis.

Dentro da UE, a Polônia foi atuante no bloqueio de regulamentações mais rígidas para conter a mudança climática, em contraste com a Alemanha, que apostou seu futuro energético em tecnologias limpas e renováveis como a eólica e a solar.

A Polônia também tentou derrubar propostas contra o fraturamento hidráulico, ou fracking, um meio de extração de gás natural que grande parte da UE —com a notável exceção do Reino Unido— observa temerosamente como um risco ambiental.

As autoridades polonesas mostraram-se pouco inclinadas a abandonar sua obsessão pelo carvão, dizendo que o país não tem condições de se converter rapidamente para fontes alternativas de energia.

Tudo isso acontece enquanto os cidadãos poloneses vão às ruas de Cracóvia em protesto contra a má qualidade do ar da cidade. Indagado sobre sua opinião pessoal sobre a mudança climática, o ministro do Meio Ambiente, Marcin Korolec, disse: "Não sou cético quanto a mudança climática. Sou cético quanto a algumas das maneiras europeias de abordá-la".

A estratégia do carvão da Polônia tem implicações tanto para os poloneses quanto para a Europa de maneira geral. Seis das dez cidades europeias com maiores concentrações de material particulado (poeira) no ar estão na Polônia, incluindo Cracóvia, que fica em terceiro lugar, logo após as cidades de Pernik e Plovdiv, na Bulgária, segundo dados do governo europeu. O material particulado consiste em pequenas gotas ou partículas de gás transportadas pelo ar que vêm de chaminés e exaustores ou da queima de madeira ou carvão para aquecimento doméstico. Apesar de grandes cidades como Cracóvia e Zabrze não terem uma poluição comparável à de Pequim, seus níveis estão muito além das concentrações consideradas seguras por especialistas em saúde.

Nos últimos anos, a Polônia exerceu um papel mais ativo na União Europeia e no Conselho Europeu, que inclui líderes nacionais e governa por decisões unânimes entre os 28 países membros. Em junho de 2011 a Polônia foi a única contrária às metas climáticas que deveriam começar em 2020.

Em março de 2012 a Polônia efetivamente vetou um plano semelhante de reduções de emissões em longo prazo, exasperando as autoridades europeias. "A UE não pode trabalhar assim", disse a comissária europeia do Clima na época, Connie Hedegaard. "Não podemos avançar se o [país] mais relutante dita o ritmo dos demais." Mas a Polônia se manteve firme.

O governo de centro-direita, que chegou ao poder em 2007, não mudou seu rumo quanto à energia. O primeiro-ministro Donald Tusk disse em setembro que o carvão é uma das bases da economia polonesa. O principal partido de oposição, Lei e Justiça, é ainda mais de direita. Ele é liderado por Jaroslaw Kaczynski, segundo o qual o dióxido de carbono não tem impacto sobre o clima.

A esquerda tem pouca voz nessa questão, pois está em um turbilhão há vários anos por causa de uma série de escândalos de corrupção.

A estratégia do carvão foi parcialmente influenciada pelo relacionamento frágil da Polônia com a Rússia, que usa suas reservas de petróleo e gás natural como arma política. Esse é um dos motivos pelos quais a Polônia buscou maior independência energética, dependendo de seu próprio carvão.

A Polônia já foi um dos maiores exportadores do produto. Mas hoje sua economia industrial cresceu tanto que o país não pode mais suprir suas próprias necessidades.

Hoje ela importa o minério e, em uma ironia energética, a Rússia responde por cerca de dois terços dessas importações. No ano passado, a Polônia comprou mais de 6 milhões de toneladas de carvão russo, segundo a Euracoal, um grupo setorial.

Os cidadãos poloneses estão reagindo. Recentemente em Cracóvia centenas protestaram contra a poluição do ar.

Lena Kolarska-Bobinska, membro do partido governante da Polônia que serve no Parlamento Europeu, disse que quer diversificar a matriz energética da Polônia, mas em seu próprio ritmo. "O único problema para nós é ir cada vez mais longe e mais rápido", disse ela. "O que tentamos fazer é influenciar a velocidade com que a UE está pressionando."

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