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A liberdade religiosa ainda não existe no Egito. Partidários da Irmandade Muçulmana bloqueiam uma rua no Cairo | Aly Hazzaa/El Shorouk Newspaper, via Associated Press
A liberdade religiosa ainda não existe no Egito. Partidários da Irmandade Muçulmana bloqueiam uma rua no Cairo| Foto: Aly Hazzaa/El Shorouk Newspaper, via Associated Press

Quando os arquitetos da tomada militar do poder no Egito depuseram o presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, no ano passado, prometeram uma nova era de tolerância e pluralismo.

Contudo, nove meses depois de suprimir os partidários islâmicos de Mursi, o novo governo apoiado pelos militares caiu nos velhos padrões sectários.

Promotores continuam a encarcerar cristãos coptas, muçulmanos xiitas e ateus pela acusação de desrespeito à religião.

Muitos coptas e membros de outras minorias religiosas aplaudiram o golpe militar liderado por Abdul Fatah al-Sisi, porque temiam a Irmandade Muçulmana, movimento cujos líderes têm um histórico de difamação de não muçulmanos.

As autoridades militares fecharam as redes de TV por satélite ultraconservadoras islâmicas que estigmatizavam cristãos ou xiitas. E os militares promoveram revisões constitucionais que reduziram as referências a tradições islâmicas e declararam que a liberdade religiosa passava a ser absoluta.

Mas as tensões sectárias se agravaram sob alguns aspectos: os coptas, que compõem 10% da população, enfrentam violência e são feitos de bodes expiatórios por islâmicos revoltados com o apoio que a igreja deu ao golpe.

"Nada mudou realmente", disse Kameel Kamel, copta de Asyut cujo filho Bishoy, 26 anos, foi encarcerado no governo de Mursi, acusado de postar blasfêmias no Facebook.

Kamel esperava que o afastamento do governo islâmico possibilitasse a libertação de seu filho, e em novembro passado sua família se alegrou quando um tribunal de apelações ordenou um novo julgamento. Cinco meses mais tarde, porém, seu filho continua atrás das grades. Promotores se negaram a dar declarações.

A Constituição revista limita a liberdade religiosa a muçulmanos, cristãos e judeus. Estipula, também, que crimes como o desacato à religião sejam regulados pelo Parlamento.

Ishak Ibrahim, da Iniciativa Egípcia de Direitos Pessoais, disse que os dissidentes cristãos e religiosos talvez "sintam-se melhores, psicologicamente" porque os islâmicos foram postos na clandestinidade. Mas, na prática, ele disse, a cultura do sectarismo persiste.

Na cidade de Ismailia, o estudante Sherif Gaber está preso desde o outono passado, sob a alegação de ter aberto uma página no Facebook para ateus. Quando o ateísmo declarado em Alexandria foi comentado num talk show, o chefe de segurança da cidade prometeu lançar uma operação de repressão.

De acordo com Ibrahim, muçulmanos xiitas também vêm sendo alvos "na caça às minorias religiosas". Um xiita foi preso quando tentava visitar a mesquita Hussein, um marco xiita, num dia santo do calendário xiita. Condenado por blasfêmia, foi sentenciado a cinco anos de prisão.

Mesmo assim, as queixas ligadas ao sectarismo ainda presente não impedem líderes da igreja de apoiar el-Sisi, que os protegeria contra o perigo de tratamento pior por parte da maioria muçulmana.

O papa copta, Tawadros II, saudou el-Sisi como "patriota competente" e "aquele que salvou o Egito".

Michael Hanna, acadêmico americano de origem egípcia na Century Foundation e cristão copta, descreveu as declarações do papa como "estúpidas e míopes", dizendo que perpetuam uma associação entre religião e política que prejudica as minorias.

Mas Yousef Sidhoum, editor de um jornal copta, considerou natural que os líderes da igreja copta sintam simpatia e gratidão por el-Sisi. Para ele, a maioria dos egípcios sente o mesmo.

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