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Palha de trigo e talos de milho são matéria-prima para usina da Abengoa Bioenergy no Kansas, que produzirá etanol celulósico | Kevin Moloney para The New York Times
Palha de trigo e talos de milho são matéria-prima para usina da Abengoa Bioenergy no Kansas, que produzirá etanol celulósico| Foto: Kevin Moloney para The New York Times

Uma velha piada na indústria da energia diz que os biocombustíveis avançados são o combustível do futuro, e sempre serão.

A Abengoa Bioenergy, uma empresa espanhola, apostou US$500 milhões contra essa gracinha. Ela está construindo um conjunto de cabos elétricos e canos de 15 hectares que logo começará a produzir etanol celulósico, visto como alternativa pouco poluente aos produtos do petróleo.

Mas mesmo quando a Abengoa e outras empresas se preparam para produzir quantidades significativas de etanol celulósico, usando talos de milho e palha de trigo em vez do milho em si, o apetite por tais combustíveis parece estar diminuindo.

O mercado está saturado do etanol de milho. As indústrias automotiva e do petróleo estão resistindo a iniciativas para elevar a quantidade de etanol misturada à gasolina. E nesse ano, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) está considerando reduzir a quantidade de biocombustíveis avançados misturados aos combustíveis automotivos em mais de 40 por cento – frente à meta estabelecida pelo Energy Independence and Security Act, de 2007. "É muito frustrante", declarou Christopher Standlee, vice-presidente executivo da Abengoa.

As coisas vêm mudando desde 2007. O crescimento na perfuração de xisto gerou um súbito jorro de petróleo nacional. E carros cada vez mais econômicos e uma economia lenta reduziram a demanda por combustível.

A meta do ato de energia de atingir 79 bilhões de litros de biocombustíveis avançados até 2022 é hoje considerada praticamente impossível, mesmo por entusiastas do produto. "Isso exigiria um esforço absurdo de implantação de mão de obra e engenharia", afirmou Paul Winters, porta-voz da Biotechnology Industry Organization.

Durante anos, o futuro dos biocombustíveis foi debatido no Congresso dos Estados Unidos e em diversas agências federais, jogando empresas e refinarias de petróleo contra a indústria da biotecnologia e os produtores de milho. Executivos do petróleo sustentam que o etanol de milho e os biocombustíveis avançados são antieconômicos. Os produtores de biocombustíveis dizem que as empresas de petróleo querem apenas esmagar um possível concorrente. Eles insistem que podem competir, desde que o preço do petróleo permaneça acima de US$70 o barril (hoje está em torno de US$100) e os postos ofereçam misturas com mais etanol.

Um grande obstáculo para a indústria do biocombustível é o "muro da mistura", o atual limite de 10 por cento de etanol na maioria dos postos de gasolina dos Estados Unidos. Algumas montadoras afirmam que, acima desse patamar, o combustível pode danificar os motores de veículos mais antigos. O Departamento de Energia americano contestou esses temores, e a EPA aprovou o uso de misturas com 15 por cento de etanol para carros fabricados após 2001. Mas os postos demoram a instalar os equipamentos necessários.

"O biocombustível celulósico promete entregar dezenas de bilhões de galões de etanol aos Estados Unidos, mas é preciso existir um mercado para isso", disse Brian Foody, chefe da empresa canadense de biocombustíveis Iogen.

Executivos do biocombustível dizem que, se a EPA adotar a proposta num percentual menor de biocombustíveis, eles provavelmente teriam de limitar novos investimentos americanos e construir usinas na Europa, China e América do Sul. Mais de US$5,7 bilhões já foram investidos no desenvolvimento de biocombustíveis avançados, de acordo com a Biotechnology Industry Organization.

A maior usina de etanol celulósico fica na Itália, e produz 38 milhões de litros por ano. Algumas usinas pequenas abriram nos Estados Unidos no ano passado, com níveis variados de sucesso.

Mas neste ano, segundo executivos da indústria, a produção de biocombustíveis vai finalmente decolar. Até o verão, a produtora de etanol Poet, sediada na Dakota do Sul, em parceria com a empresa holandesa Royal DSM, concluirá a construção de sua planta em Emmetsburg, no Iowa, projetada para produzir até 95 milhões de litros por ano usando espigas, cascas e folhas de milho. No próximo ano, a DuPont deve concluir uma usina de US$225 milhões perto de Nevada, no Iowa, com capacidade para produzir 114 milhões de litros por ano a partir de dejetos de milho.

Mas a Abengoa, que recebeu uma garantia de empréstimo de US$134 milhões do Departamento de Energia, será a primeira da fila – sua usina deve estar operacional até início de maio. A empresa pretende produzir 95 milhões de litros de biocombustível por ano nessa planta, e já iniciou a construção de uma usina de eletricidade de 21 megawatts no local, movida a biomassa.

A Abengoa desenvolveu uma enzima proprietária que, misturada aos talos de milho e palha de trigo, produzirá açúcares que serão fermentados e destilados para produzir o etanol celulósico. Esse processo mais eficiente pode aumentar a produtividade e reduzir custos. Ao longo dos últimos quatro anos, a Abengoa ampliou a produção de 229 para 333 litros por tonelada métrica de biomassa.

"Estamos muito otimistas com a ideia toda", garantiu Standlee. "E é por isso que estamos indo em frente".

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