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Homens levam produtos da cidade de Hekou, na China, para Lao Cai, no Vietnã | Aaron Joel Santos/The New York Times
Homens levam produtos da cidade de Hekou, na China, para Lao Cai, no Vietnã| Foto: Aaron Joel Santos/The New York Times

Bandeiras nacionais flutuavam nas duas margens do rio Vermelho, mas nada mais se mexia neste cruzamento de fronteira normalmente movimentado.

Um motorista de caminhão disse que sete de uma dúzia de caminhões estacionados na estrada que leva ao cruzamento não se moviam há dois meses. Outro se queixou de que manter refrigerada sua carga de asas de frango lhe custava quase US$ 7 por hora.

Os altos e baixos políticos geralmente não têm grandes consequências para as relações comerciais entre o Vietnã e a China. No entanto, impactam profundamente os pequenos comerciantes vietnamitas que operam junto à fronteira de 1.300 quilômetros com a China.

Em maio, por exemplo, uma rodovia de 245 quilômetros partindo de Hanói foi prolongada até a fronteira em Lao Cai, a capital da província, e autoridades dos dois países se reuniram para discutir planos de criar uma zona de cooperação econômica.

No entanto, alguns dias depois, os ministros da Defesa do Vietnã e da China se encontraram para discutir a administração da fronteira, e os comerciantes locais disseram que o resultado foi uma repressão ao comércio entre os dois lados.

“Os comerciantes nas fronteiras não se importam com o interesse nacional”, disse Alexander Vuving, especialista em Vietnã no Centro Ásia-Pacífico para Estudos de Segurança. “Eles podem ter a sensação de ‘orgulhamo-nos de ser independentes’, mas seu maior interesse são os negócios.”

Isso vale para Nguyen Duy Manh, comerciante que costumava contrabandear carne e peixes para a China, e frutas, legumes e cigarros para o Vietnã. “Se vendermos tudo o que temos para a China, o Vietnã não se desenvolverá, e isso é muito ruim”, disse Manh. “Mas muitos trabalhadores não pensam na política. Só pensam em quanto dinheiro podem ganhar.”

O relacionamento entre o Vietnã e a China deteriorou-se no ano passado, depois que a China fundeou uma plataforma de petróleo ao largo da costa vietnamita. A tensão permaneceu enquanto Pequim construía ilhas artificiais em partes do mar do Sul da China reivindicadas pelo Vietnã e por outros países do Sudeste Asiático.

A dependência mútua e os mal-entendidos entre os dois países remontam a séculos.

A China governou o norte do Vietnã durante mais de mil anos, e a fronteira China-Vietnã foi fechada depois de uma rápida guerra de fronteira em 1979. A fronteira reabriu em 1991, e o comércio intensificou o crescimento econômico nos dois lados, segundo Yuk Wah Chan, professor-adjunto na City University de Hong Kong.

Enquanto a madrugada rompia no centro de Lao Cai, Ha Thi Huong, comerciante que trabalha perto da ponte que é a travessia oficial para pedestres para a China, corria para terminar a venda de um carregamento de mangas.

Ela havia vendido cinco caixotes de 50 quilos por volta das 3h para comerciantes que contrabandearam as frutas para a China na escuridão, disse ela. Mas agora eram quase 7h e as mangas dos dois últimos caixotes estavam amolecendo sob o calor.

“Se as pessoas daqui não pudessem comercializar com a China por alguns dias, todos ficaríamos sem trabalho”, disse Huong.

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