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Motor desenvolvido para o caça a jato Typhoon será usado no Bloodhound, veículo para estabelecer o recorde de velocidade | Andrew Testa/ The New York Times
Motor desenvolvido para o caça a jato Typhoon será usado no Bloodhound, veículo para estabelecer o recorde de velocidade| Foto: Andrew Testa/ The New York Times

A ambição de se tornar o homem mais rápido em quatro rodas teve suas origens modestas em 1898, em uma aldeia no que era então a periferia de Paris.

Um francês, o Conde Gaston de Chasseloup-Laubat, guiando o que era pouco mais que uma carroça aerodinâmica com um motor elétrico, atingiu 63 quilômetros por hora. Cronistas dos jornais parisienses se perguntaram se ele tinha ficado "fou furieux", louco varrido, como dizem os franceses quando alguém empolgado pela ambição ou imaginação fértil perde toda a noção da realidade.

Richard Noble sabe tudo sobre Chasseloup-Laubat e outros que entraram nos anais quixotescos e, às vezes, mortais do mundo dos recordes de velocidade em terra. Como um membro respeitado do clube – Noble aumentou o recorde para 1.020,4 quilômetros por hora com um carro movido a jato, o Thrust II, em 1983 – ele tem boas credenciais em sua tentativa de atingir a marca de mil milhas (1.609 quilômetros) por hora até o final de 2016.

Em um armazém comercial gelado em Avonmouth, bem no sul de Bristol, Noble e sua equipe de 60 designers, engenheiros e membros de apoio estão trabalhando em um carro míssil em forma de dardo chamado Bloodhound, em homenagem a um míssil terra-ar de fabricação britânica da era da Guerra Fria. Ele vem com o preço de 70 milhões de dólares, a tentativa mais cara já registrada.

Após décadas de busca do recorde, Noble (67) admite certa exaustão com os desafios técnicos e financeiros. "As pessoas sempre me dizem, ‘Deve ser empolgante’, e eu respondo, ‘É um pesadelo e tanto’", declarou. Mas acrescentou: "Sabe, nós britânicos sempre fomos bom nesse tipo de travessura. E é a coisa mais empolgante que podemos fazer no mundo". A equipe do Bloodhound declarou que o empreendimento deles é motivado basicamente pelo desejo de inspirar uma nova geração de engenheiros britânicos. A abordagem ajudou o projeto a conseguir o apoio do governo. As aulas de Ciência em mais de 5.000 escolas do ensino médio britânico agora estão ligadas ao projeto através do site do projeto Bloodhound, o BloodhoundSSC.co.uk.

Desde que bateu o recorde há duas décadas, Noble passou as responsabilidades do volante a um piloto de caça da Força Aérea Real, Andy Green (51), que mantém o recorde atual de velocidade, 1.223,657 quilômetros por hora. Matemático formado em Oxford, Green é o único homem a ultrapassar a velocidade do som em terra.

A equipe do Bloodhound quer atingir a meta de velocidade em Hakskeen Pan, o grande leito de um lago que secou no deserto do Kalahari na província do Cabo Norte na África do Sul.

Para alguns, fabricar um carro mais veloz que uma bala disparada de um revólver de calibre .357 parece banal, no final das contas, na era onde aeronaves tripuladas atingiram 38.624 quilômetros por hora. Porém, o Bloodhound está tentando realizar algo que os líderes do projeto afirmam ser mais difícil que um lançamento espacial.

O veículo – com 13,4 metros de comprimento, um metro e 82 centímetros de largura e que pesa seis toneladas métricas – funcionará com três motores: um motor a jato Rolls-Royce desenvolvido para o Typhoon, o atual caça da linha de frente da Força Aérea Real; uma versão adaptada do motor do foguete Nammo, de fabricação americana, posicionado perto do jato; e um motor V8 da Fórmula Um que atuará como a bomba de combustível do foguete. A expectativa é de que os motores a jato e o foguete produzam mais de seis vezes a potência dos carros de Fórmula Um que se alinham para as corridas do Grande Prêmio.

Serão necessários quase oito quilômetros para parar Bloodhound, com freios pneumáticos, paraquedas e, abaixo de 320 quilômetros por hora, freios internos em suas rodas de alumínio fundido. Green fará a tentativa sem um assento ejetável, ou qualquer coisa no sentido de sobrevivência embutida caso sofra um acidente; os engenheiros do projeto determinaram, na prática, que uma falha catastrófica em tal velocidade seria fatalmente catastrófica.

Eles também determinaram que a segurança de Green será garantida pelo design rigoroso do Bloodhound e as milhares de horas gastas com simulações computadorizadas para impedir que o veículo decole – o maior medo de todos os aspirantes à quebra de recordes – ou se desvie da rota em linha reta que ele precisa seguir.

"Fundamentalmente, resolvemos os problemas de segurança da velocidade supersônica em terra", declarou Green. Para esse projeto, ele disse, os engenheiros usaram supercomputadores "1 mil vezes mais potentes" daqueles que foram usados em 1997, quando o veículo que estabeleceu o recorde por pouco não decolou. "Lidamos com o fluxo de ar que cerca o Bloodhound de forma que ele não tire o carro do curso, não rasgue a superfície do deserto e não incline para cima", declarou Green. Mesmo assim, "nem tudo funciona como você espera".

Pilotos britânicos querem atingir o recorde de 1.000 milhas por horaAndrew Testa para The New York TimesUma representação artística do Bloodhound na oficina em Avonmouth, Inglaterra

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