• Carregando...
Pessoas fogem do confronto entre forças de segurança iraquianas e militantes do Estado Islâmico em Mosul, Iraque, em 7 de março de 2017 | IVOR PRICKETT/NYT
Pessoas fogem do confronto entre forças de segurança iraquianas e militantes do Estado Islâmico em Mosul, Iraque, em 7 de março de 2017| Foto: IVOR PRICKETT/NYT

Apesar de quase duas décadas de esforços do governo americano para combater a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, um novo estudo concluiu que o número de militantes operando para essas organizações ao redor do mundo é atualmente quatro vezes maior.  

De acordo com o estudo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington, isso equivale a cerca de 230 mil jihadistas salafistas militantes em quase 70 países, com os maiores números na Síria, Afeganistão e Paquistão. 

Saiba também: Uso de drones para ações terroristas é ameaça crescente nos EUA, alerta FBI

As conclusões do relatório, baseadas em diversos bancos de dados que datam desde 1980 e que têm o intuito de realizar um dos mais extensos estudos do tipo, ressaltam a resiliência desses grupos terroristas e os fracassos das políticas promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados em responder a eles. As conclusões também destacam a potência da ideologia dos grupos e o marketing de rede social feito para angariar dinheiro e atrair recrutas, à medida que acumulam derrotas em suas frentes, como no Iraque e na Síria, com o objetivo de coordenar ataques guerrilheiros em pontos estratégicos. 

Leia também: Cidade do Iêmen sofre com violência de disputas internas de milícias

"Alguns desses grupos querem como alvo direto os americanos no exterior ou no próprio país, principalmente o Estado Islâmico e a al-Qaeda", disse Seth Jones, diretor do projeto de ameaças transnacionais do Centro e um dos seis autores do relatório. "Tudo isso indica que o terrorismo está vivo e vai muito bem, e que os americanos deveriam estar preocupados". 

De fato, o Ocidente não conseguiu chegar às causas mais profundas do terrorismo, responsáveis por perpetuar as ondas aparentemente infinitas de soldados. O relatório apontou que os novos soldados recorrem cada vez mais às novas tecnologias, focando em drones armados, inteligência artificial e comunicações criptografadas para frustrar a superioridade militar convencional dos aliados. 

Campanhas de combate ‘confusas’

"Talvez o componente mais importante da política Ocidental devesse se concentrar em auxiliar os regimes que enfrentam o terrorismo dentro do próprio território. Isso seria feito para que houvesse melhora na governança interna, para lidar de forma mais eficaz com os problemas econômicos, sectários e outros", concluiu o estudo de 71 páginas.  

Segundo o relatório, por exemplo, o ritmo lento da reconstrução de cidades iraquianas como Ramadi, Fallujah e Mosul – antes controladas pelo Estado islâmico – frustrou os residentes nessas áreas de maioria sunita e os tornou mais suscetíveis à cooptação militante. 

Saiba mais: Venezuela, Coreia, Iêmen e mais 6 conflitos que preocupam o mundo

O relatório também adverte que a retirada das forças americanas da África e do Oriente Médio, como o Pentágono começou a fazer agora, poderia servir como uma vantagem para esses grupos terroristas, enquanto o governo Trump desloca suas prioridades de segurança nacional para o enfrentamento de ameaças da Rússia, China, Coreia do Norte e Irã. 

O estudo intensifica o crescente escrutínio da luta contra o Estado Islâmico e a al-Qaeda, bem como outros grupos sunitas, que por vezes formam alianças de batalha com esses dois grupos ou buscam inspiração em sua ideologia e operações. 

O Soufan Center, uma organização de pesquisa em Nova York, classificou os resultados das campanhas de combate ao terrorismo lideradas pelos EUA como "confusas, na melhor das hipóteses". 

Custo da guerra ao terror

"A boa notícia é que não houve nenhum ataque próximo à escala do 11 de setembro nos EUA, o que é uma conquista significativa. A má notícia é que a ideologia que leva alguém a pilotar um avião para colidir contra um prédio ou dirigir um carro sobre uma calçada lotada parece ter sofrido uma metástase". 

"Muitos dos conflitos que compõem a campanha mundial contra o terrorismo na América têm um componente fortemente local, o que significa que um país ocidental e suas forças armadas podem realmente fazer muito pouco para interferir no território por um período prolongado", acrescentou o Centro. 

Leia mais: Projeto de brasileira combate extremismo islâmico entre jovens

O general Joseph Dunford, presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, reconheceu em uma conferência de segurança em Halifax, Nova Escócia, que a luta contra o Estado Islâmico e outros grupos salafistas jihadistas está longe de acabar. Dunford disse que os Estados Unidos devem manter vontade política e forças suficientes "para garantir que estamos pressionando e rompendo com essas redes terroristas". 

Mas a que custo? O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, da Brown University, lançou seu relatório anual de estudo de custos de guerra, no qual calculou que os Estados Unidos terão gasto US$ 5,9 trilhões com suas atividades relacionadas à campanha mundial contra o terrorismo até outubro de 2019. 

Leia mais: Grupos terroristas islâmicos miram sua atenção para a África Ocidental

Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, avaliar o número de combatentes salafistas jihadistas em todo o mundo é uma tarefa desafiadora. Mas os pesquisadores usaram diversas fontes, incluindo o banco de dados de terrorismo global da Universidade de Maryland e o Jane's Terrorism and Insurgency Center, para determinar variadas estimativas. No geral, segundo o relatório, o número total de combatentes neste ano – entre 100 e 230 mil – está 5% abaixo de um pico ocorrido em 2016, mas ainda muito além do que existia em 2001 – entre 37 e 66 mil. 

Estado islâmico

Os países com maior número de combatentes neste ano são Síria (entre 43.650 e 70.550), Afeganistão (entre 27 mil e 64.060), Paquistão (entre 17.900 e 39.540), Iraque (entre 10 mil e 15 mil), Nigéria (entre 3.450 e 6.900) e Somália (entre 3.095 e 7.240), explicitou o relatório. 

Dos vários grupos salafistas jihadistas, o Estado Islâmico continua a ser a maior ameaça, com cerca de 40 mil membros neste ano. Eram mais de 30,2 mil em 2014, quando os militantes do grupo se apoderaram do terço norte do Iraque. 

Esse número é ainda maior do que o de outros estudos recentes. Dados coletados pelo Pentágono e pelas Nações Unidas neste ano indicaram que o Estado Islâmico tem tantos militantes agora quanto em 2014 – quando ocorreu o ápice do califado –, com 20 mil e 31,5 mil membros no Iraque e na Síria e outros milhares espalhados por todos os países onde conseguiu se firmar. Altos funcionários do Pentágono e da Casa Branca, no entanto, dizem que o número real é muito menor.  

Leia também:  Ataques terroristas estão em declínio em todo o mundo

Apesar do grande número de militantes, um exame feito pelo "New York Times" em setembro descobriu que os ataques do Estado Islâmico no ocidente declinaram muito em 2018, quando comparados com os quatro anos precedentes. E foi a primeira vez que houve queda nesse número desde 2014. Mas o número de tentativas de ataque permaneceu estável, sugerindo que o grupo continua comprometido com a devastação.  

"Os americanos devem entender que o terrorismo não vai acabar. Mesmo que a ameaça terrorista diminua, não vai acabar", o relatório concluiu. 

The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]