• Carregando...
Bandeira chinesa em frente campo de “reeducação” de uigures em Yangisar, em Xinjiang, China, 4 de junho de 2019
Bandeira chinesa em frente campo de “reeducação” de uigures em Yangisar, em Xinjiang, China, 4 de junho de 2019| Foto: GREG BAKER / AFP

O que será necessário para que o mundo reconheça e leve em conta as atrocidades em massa do Partido Comunista Chinês (PCC)?

Ao que parece, o exemplo dos Estados Unidos.

Oito dias atrás, o Canadá se tornou o segundo país a reconhecer como genocídio a repressão do PCC aos uigures e outros povos turcos, após uma votação de seu parlamento. Na quinta-feira, apenas três dias depois, a Holanda se tornou a terceira nação a fazê-lo após uma votação em seu parlamento. Talvez o apoio político para esses votos existisse sem a designação de última hora do governo Trump da campanha antiuigur de Pequim como um genocídio, em janeiro.

Mas está cada vez mais claro que essa decisão – supostamente tomada pelo então Secretário de Estado Mike Pompeo, apesar das objeções dos funcionários de carreira de sua equipe jurídica, e posteriormente endossadas por seu sucessor Antony Blinken – fez toda a diferença para estimular mais ações internacionais.

Pelo menos, é isso que Sjoerd Sjoerdsma, o membro do parlamento holandês que escreveu a resolução aprovada na quinta-feira, disse ao National Review. Seu partido vinha acompanhando os acontecimentos na região de Xinjiang, no oeste da China, há meses, propondo uma legislação para exigir várias sanções aos responsáveis. “Quando os EUA e o Canadá se moveram, faz sentido seguir o exemplo”, disse Sjoerdsma em uma mensagem na noite da votação.

Se quisermos tirar uma lição dos votos da semana passada, o que se destaca é que a condenação às atrocidades do PCC cruza amplamente as linhas ideológicas. Embora a determinação dos EUA tenha sido feita pelo ramo executivo com o apoio de ambos os principais partidos, tanto em Ottawa quanto em Haia, as forças políticas da oposição fizeram questão de destacar as falhas de seus governos em responsabilizar a China.

“É vergonhoso que Justin Trudeau e o governo liberal se recusem a chamar a conduta horrível do Partido Comunista Chinês do que ela é, um genocídio”, disse Erin O’Toole, líder do Partido Conservador do Canadá, durante uma coletiva de imprensa após a votação. (Trudeau e a maior parte de seu governo se recusaram a comparecer à votação.)

Sjoerdsma, que pertence ao partido de centro-esquerda D66, fez críticas semelhantes ao partido conservador VVD, liderado pelo primeiro-ministro Mark Rutte. “O VVD sempre foi lento em reconhecer que os países que maltratam seus cidadãos não são apenas uma ameaça aos direitos humanos que prezamos, mas, em última análise, à ordem internacional que nos fornece estabilidade para florescer”, disse ele.

Além das fronteiras ideológicas

Assim como a lista de partidos políticos com aparente interesse em varrer as atrocidades em massa da China para baixo do tapete cruza as fronteiras ideológicas, o mesmo acontece com a lista de partidos com um desejo ardente de reconhecê-las.

Claro, seria ideal se Trudeau e Rutte tivessem liderado essas moções, reunindo coalizões partidárias determinadas a punir Pequim por seus crimes. Mas os esforços bem-sucedidos de seus respectivos oponentes parlamentares são a segunda melhor coisa que poderia acontecer e sugerem vitórias mais concretas – por exemplo, sancionando e boicotando os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que estão programados para acontecer em Pequim – que podem acontecer no futuro.

Já se passou um pouco mais de um mês desde que os EUA se tornaram o primeiro país do mundo a oficialmente chamar de genocídio as investidas contra os uigures pelo PCC, e também a investida relacionada a todas as minorias turcas de Xinjiang de crimes contra a humanidade. Outros países podem aceitar agora esse movimento, assim como os votos canadense e holandês, como razão para finalmente fazer o mesmo.

Há semanas, o parlamento britânico vem considerando uma “emenda genocídio”, que permitiria aos tribunais britânicos determinar que um genocídio está ocorrendo. Essa luta opôs deputados conservadores rebeldes ao governo de Boris Johnson, que teme que tal determinação possa proibir legalmente a ratificação de novos acordos comerciais com a China. Johnson, que tem um longo histórico de promoção de fortes laços comerciais com Pequim, recentemente enfrentou críticas por se autodenominar “fervorosamente sinófilo”. E embora seu governo tenha condenado as atrocidades uigures da China no Conselho de Direitos Humanos da ONU na semana passada, ele propôs uma alternativa mais branda à proposta dos parlamentares rebeldes em um esforço para proteger esses laços.

“Não é como a Guerra Fria, em que você poderia simplesmente dizer: ‘Bem, a Rússia [é] ruim [então] não precisamos negociar com a Rússia’”, disse Charles Parton, ex-diplomata britânico e membro associado sênior do Royal United Services Institute, a National Review. Mas, ele acrescentou que os movimentos dos EUA, Canadá e Holanda podem aumentar a pressão sobre Johnson para agir com mais força. “Não acho que nosso governo queira ser visto como se estivesse em uma situação difícil quando se trata de algo tão desagradável como o genocídio.”

Com discussões semelhantes ocorrendo nos parlamentos belga e australiano, deixar de chamar de genocídio os atos pérfidos de Pequim, e agir de acordo com isso, pode em breve isolar um país desenvolvido entre seus pares. Antes tarde do que nunca.

Jimmy Quinn é pesquisador em Jornalismo Político no National Review Institute.

© 2021 National Review. Todos os direitos reservados. Original em inglês.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]