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Apoiadores do presidente dos EUA, Donald Trump, lutam com a tropa de choque do lado de fora do prédio do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 em Washington, DC.
Apoiadores do presidente dos EUA, Donald Trump, lutam com a tropa de choque do lado de fora do prédio do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 em Washington, DC.| Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP

Por que a horrível cena no Capitólio aconteceu? Por que a certificação do Colégio Eleitoral atrasou? Por que aquela pobre mulher morreu em meio a confusão?

Tucker Carlson pediu em seu programa na noite passada para que os líderes da América dessem um passo além da condenação do tumulto que atrasou a contagem dos votos do Colégio Eleitoral e deixou vários mortos. Carlson exigiu que eles tentassem compreender (e também nós) por que é que aconteceram, por que é que milhares de pessoas invadiram o edifício do seu próprio governo no Capitólio. Carlson reconheceu que elas acreditam que a sua democracia está manipulada contra eles.

"Em vez de tentar mudar as ideias deles, convencê-los e tranquilizá-los de que o sistema é real", disse Carlson, "os nossos líderes vão tentar silenciá-los". E acrescentou: “Se você não se preocupa em parar e aprender nada com isso, então você é um tolo. Você carece de sabedoria e autoconsciência.”

Carlson tem razão. A cena muito provavelmente será usada para justificar a vigilância ampliada de grupos de direita e mais supressão de discurso de direita nas redes sociais.

Grande parte da ação foi apenas caótica, com os ocupantes do Capitólio se divertindo, tirando selfies, cantando e batendo nas portas. Uma insurreição? Um golpe de estado? Isso parece até dignificá-lo. Mas também não foi certamente um simples protesto.

Ouça com atenção novamente uma frase que ganhou popularidade durante o verão norte-americano, e que pode ter sido o que essa turba de apoiadores do Trump chamaria de sua ocupação do Capitólio: “maioria pacífica” .

Isso soa tão eufemístico aqui quanto no verão, com certeza. Mais uma vez o ato foi ilegal e mal gerenciado, com consequências mortais.

Mas Carlson trouxe à tona a questão da confiança e da liderança. Um líder não tentou mudar mentes suspeitas, mas procurou espalhar e lucrar com a desconfiança.

O presidente dos Estados Unidos, poucos dias depois de pressionar o secretário de Estado da Geórgia para "encontrar" 11.780 votos para reverter a eleição, iniciou uma campanha de pressão em particular e em público contra o vice-presidente dos Estados Unidos.

Ele encorajou a teoria delirante - uma que havia circulado de forma viral nos pântanos ferventes do QAnon - de que Mike Pence poderia de alguma forma se recusar a contar os votos dos estados que Trump perdeu e, assim, tornar Trump presidente. Na frente de seu comício "Stop the Steal", Trump ameaçou Pence com seu descontentamento.

Quando a manifestação terminou, o vice-presidente divulgou uma carta afirmando que ele obviamente não tinha o poder de privar os Estados à vontade. Então, Trump tuitou isso:

Mike Pence não teve a coragem de fazer o que deveria ter sido feito para proteger nosso País e nossa Constituição, dando aos Estados a chance de certificar um conjunto corrigido de fatos, e não os fraudulentos ou imprecisos que foram solicitados a certificar previamente. Os EUA exigem a verdade!

Então as coisas esquentaram na capital Washington.

Mas vamos dar um passo além e tentar entender o que aconteceu. Eu também estive tentando entender. Meu velho amigo James Poulos observou a cena ontem e comentou: “Quando é absolutamente impossível remover do poder aqueles que as odeiam, as pessoas acabam por ficar furiosas. Politics 101 [Manual de política americano]”.

Eu perguntei para outro amigo favorável a Trump se ele estava fantasiando e imaginando que Mike Pence tinha o poder de manter Trump no comando. Sua resposta: “A resposta correta para esta questão é: não importa. Eu não acho que a CIA tenha o poder para secretamente conspirar contra o presidente usando relatórios de inteligência falsos. E mesmo assim, aqui estamos.”

Acho que meus amigos expressaram a questão com exatidão. Uma parte substancial das pessoas, identificadas com a direita, não acredita mais que as normas e as instituições dos Estados Unidos as protegem. Eles acreditam que as regras são aplicadas pelos ditames de um inimigo implacavelmente hostil. Para eles, a evidência está em toda parte.

Um governo no qual eles tivessem uma palavra significativa teria notado mais cedo o declínio da expectativa de vida entre os brancos de meia-idade e tratado isso como uma emergência. Um governo no qual eles tivessem uma palavra significativa não promoveria ideologias sintéticas sobre o transgenerismo. Se a verdade não é uma defesa para eles e as mentiras não são uma desvantagem para seus inimigos, por que deveriam continuar a jogar?

“Maioria pacífica” é agora a principal piada entre os conservadores para descrever os distúrbios que a mídia tentou minimizar no verão de 2020. Mas, de certa forma, é adequada para os vândalos apoiadores do Trump também.

Tal qual o movimento Black Lives Matter, eles acreditam que as instituições norte-americanas são irremediavelmente corrompidas por uma ideologia hostil. Em vez de “Desfinancie a Polícia”, seria algo como “Desfinancie a Ciência Social e a Mídia”.

Isso não o torna justo ou correto, é claro. Penso que ir adiante com fantasias e mentiras levará, no longo termo, ao mesmo fracasso e frustração que eles têm com o sistema como ele é.

Mas temos que enfrentar esse problema de frente. Setores crescentes e cada vez mais influentes da opinião pública estão desistindo da política e do governo tal qual os conhecemos. Um futuro “de maioria pacífica” está adiante.

Michael Brendan Dougherty é escritor sênior da National Review Online.

© 2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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