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A partir de 2035, o número de jovens em idade de trabalho na África será maior do que a soma do resto do mundo. Esta situação continuará até o final do século. Em 2050, uma em cada quatro pessoas será africana. No final do século, cerca de 40% da população mundial estará nesse continente. 

O iminente dividendo demográfico só aumentará a importância africana. Desde 2000, pelo menos metade dos países com as maiores taxas de crescimento econômico no mundo estão na África. Em 2030, a expectativa é de que 43% dos africanos sejam considerados, pelo menos, de classe média. Nesse ano, o consumo doméstico na África deve alcançar US$ 2,5 trilhões, mais do que o dobro dos US$ 1,1 trilhão de 2015. E o consumo combinado e os gastos com negócios devem superar aos US$ 6,7 bilhões. 

A rápida mudança da África também apresenta desafios que não estão restritos ao continente. De fato, o persistente alto número de pessoas na pobreza, o subdesenvolvimento da infraestrutura, os conflitos em andamento e os contínuos problemas de governança democrática fizeram com que a África se tornasse a principal fonte de emigrantes no mundo. 

Muitos países têm percebido antecipadamente o potencial e os desafios na África e decidiram ampliar suas parcerias com o continente. Muito se tem falado sobre a crescente presença da China. A União Europeia tem aprofundado seus laços com o continente. Mas, também há uma crescente lista de outros países reforçando suas ligações com o continente: é o caso da Índia, Brasil, Turquia, Japão e os países do Golfo Pérsico.

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Para contrastar, a relação dos Estados Unidos com o continente tem, desde o 11 de setembro, crescentemente se definido pela militarização da política externa. Em 2003, o presidente George W. Bush estabeleceu a primeira base militar no continente no Djibuti. Em 2007, o Comando Militar Americano para a África foi criado. 

O governo Obama solidificou esta abordagem política ao aumentar os gastos militares e enviar mais tropas. Donald Trump está seguindo o caminho de seus antecessores. No ano passado, o número de tropas americanas na África aumentou em 1,5 mil pessoas, levando o total para 7,5 mil pessoas, não incluindo as tropas de operações especiais. 

Os Estados Unidos tem 34 acordos militares com países africanos, dos quais 14 foram assinados ou atualizados na última década. As tropas americanas são frequentemente usadas em países com os quais não há acordo. Somente no ano passado, tropas americanas estiveram em 50 dos 54 países africanos. Muitas vezes em operações clandestinas. 

A crescente presença americana está substituindo a diplomacia. O número de assessores militares é maior do que o de diplomatas em todo o continente. Diplomatas de carreira especializado na África são frequentemente ignorados em favor de comandantes militares. Um alto funcionário do Departamento de Estado americano estima que há sete militares para cada diplomata trabalhando na política externa para a África.

Abordagem militar não fortalece laços

Não é de se surpreender que a agressiva presença militar americana têm feito pouco para fortalecer os laços entre os Estados Unidos e a África. Protestos contra bases e uso de tropas tem acontecido em Gana, Níger, Camarões, Libéria e vários outros países. O Comando Militar Americano para a África está baseado na Alemanha, porque nenhum país africano quer sediá-lo. A insatisfação com o militarismo americano só tende a crescer, especialmente em países que se tornam menos dependentes da ajuda americana. Certamente missões militares americanas tem o potencial de provocar um aumento na violência extremista.

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Deveria ser obvio que o militarismo não pode ser a base para as relações dos Estados Unidos com uma África emergente. O Pentágono pode ser capaz de fornecer armas, treinamentos e veículos para os militares africanos, mas não pode oferecer acordos comerciais, projetos de infraestrutura ou assessoria na agricultura. 

Os militares americanos podem tentar, com diferentes graus de sucesso, profissionalizar as forças armadas africanas, mas não pode trabalhar com governos civis, partidos políticos ou movimentos sociais para promover a democracia e os direitos humanos. 

O obsessivo enfoque antiterrorista de Washington na África tem pouco efeito positivo . Os riscos de violações de direitos humanos por governos africanos adeptos de usar a força contra seus opositores civis está aumentando. 

Simplesmente falando, os militares americanos são uma tentativa de preparar os países africanos a lutar contra um inimigo que realmente pode não haver (ou no mínimo não no nível que existe), enquanto o governo americano está falhando em não ajudar esses países a lidar com os reais problemas, principalmente a pobreza e a corrupção.

Salih Booker é o diretor-executivo do Center for International Policy. Ari Rickman é pesquisador do mesmo instituto

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