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Donald Trump.
Donald Trump.| Foto: AFP

A confirmação da vitória de Joe Biden (Partido Democrata) pelo Colégio Eleitoral nas eleições presidenciais dos Estados Unidos praticamente colocou fim ao período de Donald Trump (Partido Republicano) no cargo. Embora tenha cumprido apenas um mandato, as ações de Trump para a política mundial deverão permanecer. O presidente americano plantou sua bandeira na política global, com ações que deverão ter um impacto duradouro no Afeganistão, na China, Coreia do Norte e até mesmo no Brasil.

Onda conservadora

A vitória de Trump em 2016 pode parecer um caso isolado político, mas é parte de um processo maior de fortalecimento do conservadorismo. Seu sucesso foi facilitado por uma crescente frustração com as instituições, aumento da desigualdade de renda e do desemprego no interior do país. Essas mesmas condições impulsionaram o crescimento do conservadorismo em todo o mundo, da Europa ocidental ao Brasil.

“Estamos em um ponto agora em que é muito difícil imaginar que o conservadorismo como o conhecemos ressurja. O mundo político pós-Trump será muito diferente”, diz o comentarista político David Frum, ex-redator de discursos de George W. Bush e autor do livro “Trumpocracy: The Corruption of the American Republic”.

EUA x China

Trump mudou a atenção da política externa dos EUA para um novo desafio geopolítico: a China. Seu governo adotou uma postura mais agressiva, acusando Pequim de quebrar suas promessas ao Ocidente, esconder do resto do mundo a realidade da Covid-19 e tentar espionar os norte-americanos.

Com uma postura combativa em relação à China, Trump lançou medidas que incluíram acabar com o status especial de Hong Kong, sancionar altos funcionários por abusos de direitos humanos e esforços para banir as empresas chinesas de tecnologia, como o aplicativo TikTok, agora novamente autorizado a operar nos EUA.

Enquanto isso, no Leste Asiático, os países estão dispostos a construir sua integração econômica com a China e, ao mesmo tempo, manter um forte relacionamento político e de segurança com os Estados Unidos, equilibrando as forças das duas potências na região.

Fim das guerras infinitas

No Afeganistão, Trump retirou milhares de soldados americanos das tropas que estavam no país desde 2001. A medida do republicano foi a concretização de uma promessa do ex-presidente Barack Obama que nunca saiu do papel. Obama havia prometido uma retirada sistemática de soldados e equipamentos do país em 2011, mas até maio de 2017 cerca de 13 mil militares estrangeiros (a maioria americanos) ainda estavam no Afeganistão. Em 2019, Trump negociou com o Talibã um compromisso de redução da violência e em fevereiro de 2020 os dois países assinaram um acordo de paz em Doha, Qatar.

A recuada das tropas no Afeganistão não significa que os EUA abandonaram todas as missões no Oriente Médio. No Irã, Trump empreendeu uma campanha de pressão máxima, estabelecendo sanções desde a receita do petróleo até os minerais e o banco central do Irã. Em Israel, realocou a Embaixada dos Estados Unidos e ajudou a intermediar acordos históricos entre a nação judaica e os Emirados Árabes Unidos.

Democracia frágil

Trump expôs a fragilidade da democracia, levantando suspeitas de fraude eleitoral e questionando a legitimidade da eleição do seu oponente em outubro. Segundo Trump, o Partido Democrata teria roubado as eleições com votos ilegais – o sistema de contagem de votos permite, em alguns estados, receber cédulas de votos após a data final da eleição.

As contestações de Trump foram consideradas legais e avançadas pelo Partido Republicano, levando a pausas e recontagens de votos em alguns estados que alongaram o processo eleitoral por quase dois meses. Agora, o sistema de votos dos EUA poderá ser mais centralizado com orientações da Casa Branca para os estados, refletindo sua influência em outros países, como o Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro defende o voto impresso para maior transparência nas eleições.

Conciliação com a Coreia do Norte

Em movimento histórico, Trump abriu canais de diálogo com o líder norte-coreano Kim Jong Un: os dois se encontraram pessoalmente três vezes, incluindo duas cúpulas formais. Apesar de não ter persuadido Pyongyang a abandonar os testes com armas nucleares, os encontros alimentam o otimismo de uma reaproximação duradoura entre os países.

O encontro histórico realizado em 2017 entre Trump e Kim Jong-Un em Hanói, Vietnã, na fronteira sul-coreana, abriu uma porta para a paz e reconciliação depois de uma longa história de hostilidade entre as duas nações. Outros encontros aconteceram nos anos seguintes e, em 2019, a Coreia do Norte e os Estados Unidos anunciaram a retomada das negociações nucleares, reavivando um processo de desnuclearização iniciado no mesmo ano.

Segundo John Delury, estudioso da Ásia Oriental na Universidade Yonsei, em Seul, os encontros são especialmente importantes para o povo norte-coreano, que passou por uma longa lavagem cerebral sobre como os americanos são os vilões.

“Os americanos devem ficar felizes se os norte-coreanos receberem uma visão diferente dos norte-americanos, uma visão que seja menos hostil”, diz.

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