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Entrevista com Phil Peters, pesquisador do Instituto Lexington (EUA).

Segundo o pesquisador Phil Peters, do Instituto Lexington, na Virgínia, EUA, o sucesso das reformas em Cuba dependerá de ajustes e regulamentações, mas não significa que os 500 mil funcionários públicos demitidos ficarão sem rumo.

Nos anos 90, Cuba também deu passos rumo à abertura, mas o governo sempre deixou claro que via as medidas como um mal necessário.

Ainda não se fala em reforma política. Então, por que hoje esta abertura é diferente?

É diferente por ser um caminho sem volta. São mudanças sérias que vão mudar a rotina e a qualidade de vida de milhares de cubanos. Ao contrário dos anos 90, Raúl Castro decidiu expandir o setor privado para atingir um objetivo estratégico de sobrevivência, não por uma razão temporária. Ele compreendeu que o maior problema de Cuba é a produção, a falta de produtividade. Se não resolverem isso, não resolverão nada.

Na prática, como os cubanos poderão criar cooperativas ou investir no próprio negócio se não há investimentos? Com que capital?

É um problema a ser considerado. Acho que pode ser um obstáculo para alguns, não para todos. Se o governo decide, por exemplo, transformar suas próprias empresas estatais em cooperativas, a infraestrutura já existe. O que será necessário é mudar as regras do jogo, as normas de trabalho.

Se o Estado decide transformar suas próprias empresas em cooperativas privadas, isso se chama privatização, como no capitalismo...

É o que parece, não? Mas o regime jamais irá admitir isso. Sem dúvidas, é parecido, mas o governo terá de decidir e tornar claras as regras. A cooperativa, a estrutura em si, pode ser propriedade do governo, podem ser criados impostos, mas os lucros ficariam administrados pelos funcionários. É uma possibilidade.

A pobreza atual permitirá que haja mercado consumidor para os novos bens e serviços oferecidos?

Precisamos esperar para ver. Acho que podemos ter uma surpresa. Desde o ano passado, o presidente Barack Obama permitiu que os cubanos nos EUA enviem a quantidade de dinheiro que quiserem à ilha. Esses recursos, que antes eram apenas para assegurar melhor qualidade de vida, podem, além disso, ser usados agora como investimentos. Muitos também têm rendas extras do mercado negro.

Alguns analistas alertam que o paternalismo do regime tornou os cubanos desacostumados ou mesmo incapazes de uma atitude proativa, de ir em busca do próprio negócio.

Eu discordo que exista essa mentalidade em Cuba. Os cubanos são educados, estudam. Se tiverem a oportunidade, acho que a maioria vai atrás. Prova disso é a complexa rede de negócios que existe no mercado negro, na "izquierda", como é chamado.

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