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Membros da Força de Resposta a Desastres (DRF) do Estado de Telangana, usando equipamento de proteção em spray desinfetante em uma rua contra a propagação do coronavírus Covid-19 em Hyderabad em 19 de abril de 2021.
Membros da Força de Resposta a Desastres (DRF) do Estado de Telangana, usando equipamento de proteção em spray desinfetante em uma rua contra a propagação do coronavírus Covid-19 em Hyderabad em 19 de abril de 2021.| Foto: NOAH SEELAM / AFP

Mais de 20 milhões de indianos que vivem em Nova Déli serão afetados por um novo confinamento de seis dias que foi imposto na capital indiana nesta segunda-feira. Autoridades disseram que a medida é justificada pelo grande aumento de casos de Covid-19. O avanço da segunda onda da pandemia está pressionando os hospitais, que reclamam da falta de oxigênio e de medicamentos para tratar os pacientes. Segundo o secretário de Saúde da cidade, Arvind Kejriwal, as medidas visam evitar o colapso do sistema de saúde, que já está em seu limite. Medidas similares foram impostas em outras regiões do país nos últimos dias.

Desde o começo de abril, a Índia vem registrando recordes de contágios do novo coronavírus, que já infectou mais de 15 milhões de indianos e matou mais de 178 mil. Apenas nesta segunda-feira, foram identificados 273 mil novos casos de Covid-19, o número mais alto para o país desde o começo da pandemia. Nas últimas duas semanas houve um aumento de 162% de casos em comparação às duas semanas anteriores, tornando a Índia uma das nações onde a doença está avançando mais rapidamente. Além disso, na semana passada, a Índia ultrapassou o Brasil e se tornou o segundo país com maior número de diagnósticos positivos de Covid, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Considerando os dados proporcionais à população, o surto na Índia parece menos intenso do que o cenário atual no Brasil, no Uruguai e na Argentina, por exemplo – em termos de novos casos. Contudo, a gravidade desta nova onda de covid na Índia é demonstrada pela diferença dos números de agora e dos registrados durante o auge da primeira onda da doença no país: em setembro do ano passado, menos de 100 mil infecções foram reportadas diariamente. A falta de infraestrutura do sistema de saúde também é preocupante: uma cidade como Nova Déli, por exemplo, tem apenas 100 leitos equipados com respiradores e menos de 150 camas para pacientes em estado grave.

Nova variante

Especialistas acreditam que esse surto mais forte de Covid-19 no país esteja relacionado com a propagação de uma nova cepa do coronavírus, de mutações dupla, identificada no país no mês passado. Essas duas mutações, apontam estudos, poderiam diminuir os efeitos dos anticorpos criados pelo organismo após a vacinação ou infecção.

Embora o papel da variante seja minimizado pelo governo, ela está cada vez mais presente nas amostras analisadas. Em alguns estados, como em Maharashtra, onde está localizada Mumbai, a prevalência da cepa era de mais de 60%, segundo Anurag Agrawal, diretor do instituto estatal de genômica do Conselho de Pesquisa Científica e Industrial (CSIR-IGIB). Alguns pesquisadores acreditam que, em breve, ela será a cepa predominante em circulação no país – apesar de o número atual de amostras sequenciadas na Índia ainda ser muito baixo para determinar com certeza o papel da nova variante no surto.

Outras variantes, como a cepa de Manaus, a britânica e a sul-africana, também foram detectadas na Índia.

“Fizemos as contas - acreditamos que muito do aumento no número de reprodução pode ser explicado por essas mutações”, disse à Bloomberg TV Nithya Balasubramanian, chefe de pesquisa de saúde da consultoria Sanford Bernstein Índia, na semana passada. “Então, sim, as mutações são um grande motivo de preocupação”, completou.

Outros fatores são apontados como possíveis causas do aumento, como o relaxamento dos cuidados pessoais – distanciamento social, higienização constante das mãos, uso de máscaras –, aglomerações em festivais religiosos, que recentemente atraíram centenas de milhares de pessoas, e campanhas eleitorais locais em alguns estados.

Vacinação

A Índia, apesar de ser um dos maiores fabricantes de vacina do mundo – a Covishield, desenvolvida pela AstraZeneca/Oxford, é fabricada na Índia pelo Instituto Serum, e a Covaxin é produzida pelo laboratório Bharat Biotech – tem uma campanha lenta de imunização contra Covid-19. Até esta segunda-feira, apenas 7% da população havia sido vacinada com a primeira dose – o que em números absolutos significa mais de 100 milhões de pessoas. Os indianos que já receberam a segunda dose representam menos de 2% da população: 16,4 milhões.

É difícil fazer comparações sobre o ritmo de vacinação em populações tão grandes como a da Índia, mas no país há uma percepção de que o governo precisa acelerar a campanha para conseguir atingir a meta de imunizar 250 milhões de pessoas até julho. No mês passado, em meio a uma escassez de matéria-prima, o país restringiu as exportações das vacinas do Instituto Serum a fim de priorizar a vacinação interna, por causa do aumento de casos. Na semana passada, a Índia também aprovou a primeira vacina anti-covid estrangeira, a Sputnik V, com o mesmo objetivo. Mas mesmo assim, o número de doses aplicadas diariamente na Índia está em queda desde a semana passada. Em algumas regiões do país, as autoridades locais também precisam driblar a desconfiança da população, especialmente os maiores de 70, quanto aos imunizantes.

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