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Foto tirada durante um tour guiado pela Marinha dos EUA mostra o navio petroleiro japonês Kokuka Courageous em 19 de junho. O navio japonês foi atacado no Golfo de Omã na semana passada com uma mina de limpet semelhante a minas iranianas, disseram militares americanos no Oriente Médio em 19 de junho
Foto tirada durante um tour guiado pela Marinha dos EUA mostra o navio petroleiro japonês Kokuka Courageous em 19 de junho. O navio japonês foi atacado no Golfo de Omã na semana passada com uma mina de limpet semelhante a minas iranianas, disseram militares americanos no Oriente Médio em 19 de junho| Foto: Mumen KHATIB / AFP

Dois navios petroleiros foram atacados em 13 de junho na costa de Omã, forçando os membros da tripulação de um navio em chamas a fugir.

Foi o mais recente de uma série de ataques a petroleiros que transportavam petróleo pelo Golfo. Em maio, petroleiros sauditas, noruegueses e emirados foram atacados na costa dos Emirados Árabes Unidos, causando danos, mas sem vítimas. Os ataques não foram reivindicados, então os autores são desconhecidos - pelo menos publicamente.

A Arábia Saudita, aliada dos EUA, rival regional do Irã, culpou o governo iraniano e chamou os ataques de maio de "agressão flagrante". O rei saudita pediu que a comunidade internacional "use todos os meios" para punir o Irã.

O conselheiro de segurança nacional dos EUA, John Bolton, que pediu um bombardeio ao Irã para prejudicar seu programa nuclear, afirmou que o Irã é "quase certamente" responsável pelos ataques. Em maio, Bolton anunciou o envio ao Golfo Pérsico de porta-aviões e de uma força-tarefa de bombardeiros com capacidade nuclear, os ativos militares mais extraordinários ​​dos Estados Unidos.

O objetivo: "enviar uma mensagem clara e inequívoca" ao Irã.

Mas a Casa Branca está discutindo sobre os seus objetivos, que estão longe de ser claros. Funcionários do governo Trump não parecem concordar se os EUA querem mudança de comportamento ou mudança de regime. Os EUA devem usar diplomacia ou força? Os alvos desse envio militar são iranianos frustrados ou americanos frustrados?

O presidente Trump disse ao apresentador de televisão do Reino Unido Piers Morgan que as opções militares estão na mesa, mas "eu prefiro muito mais conversar".

De acordo com o colunista do Washington Post David Ignatius, o presidente Trump “quer parecer forte (popular) desde que isso não o leve a uma guerra (impopular)”. O presidente Trump “não quer ir à guerra com o Irã”, o general aposentado David Petraeus disse à rede de televisão ABC News.

Como acadêmico que estudou o início de várias guerras, acredito que esses comentaristas subestimam a influência de astutos belicistas como Bolton. Eles também não reconhecem a rapidez com que um confronto trivial entre forças industrializadas pode mudar o cálculo de um líder e arrastar as grandes potências e seus aliados para a guerra.

O duelo no Golfo Pérsico não é como os EUA e a União Soviética ajustando gradualmente o equilíbrio de poder, como fizeram durante a Guerra Fria.

Sinais mistos, timing ruim e esse tipo de estratégia perigosa e não calibrada é como a Primeira Guerra Mundial começou e saiu do controle. Esses fatores aproximaram os EUA da próxima guerra no Oriente Médio.

Até o limite

O Irã negociou um acordo com EUA, União Europeia, Rússia, China e Alemanha em 2015 para reduzir seu programa nuclear em troca de redução de sanções.

O atual impasse começou em maio de 2018, quando o presidente Trump renegou o acordo e mais tarde implementou uma nova campanha de “pressão máxima” contra o Irã, que incluiu sanções econômicas que punem os países que compram petróleo iraniano.

Reino Unido, França, China, Rússia e Alemanha se comprometeram a cumprir os termos do acordo. No entanto, as sanções dos EUA contra a indústria iraniana em um momento em que o Irã estava cumprindo o acordo estão colapsando a economia iraniana.

A Casa Branca alega que sua política de "pressão máxima" está funcionando - que o Irã está reduzindo a ajuda a aliados e "proxies" (milícias ou países 'procuradores') malévolos da região, incluindo o ditador sírio, Bashar al-Assad, o Hezbollah e o Hamas.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, mantém, sem evidências ou um cronograma tangível, que as condições econômicas difíceis criadas pelos EUA farão com que os iranianos frustrados voltem-se contra os seus líderes, provocando mudanças de regime.

Essa ideia parece-me ser um tipo de pensamento mágico. A beligerância dos EUA, especialmente quando foi rejeitada pela comunidade internacional mais ampla - como é agora pelas partes do acordo nuclear de 2015 - tem maior probabilidade de fazer com que os iranianos se voltem contra os EUA, polarizar os aliados dos EUA e fortalecer os radicais iranianos.

A juventude cosmopolita iraniana, por exemplo, que é a melhor esperança de paz com os EUA, é o grupo mais provável a se voltar contra seu governo - mas não se o governo Trump estrangular sua economia e ameaçar invadir seu país.

Escolhas limitadas

Enquanto isso, os problemas econômicos do Irã estão estreitando suas opções.

De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica, o Irã acelerou o enriquecimento de urânio e pretende quadruplicar essa produção, em violação do acordo nuclear. Ataques às forças ou aliados dos EUA, incluindo Israel, estão se tornando cada vez mais atraentes para os líderes iranianos para dar ao Irã alguma vantagem em relação aos EUA.

A perspectiva de colapso econômico sob sanções draconianas pelos EUA também leva os líderes iranianos a instigar um confronto o quanto antes, enquanto seus militares e representantes são fortes. O presidente iraniano, Hassan Rouhani, deu à Alemanha, ao Reino Unido, à França, à China e à Rússia 60 dias para honrar sua promessa de fortalecer os setores energético e bancário iranianos antes de adotar medidas adicionais para se retirar do acordo nuclear.

A fraqueza econômica e militar do Irã também encoraja sua liderança a cooperar mais de perto com os adversários estrangeiros dos EUA, incluindo a Rússia, apesar da aversão do Irã a ceder uma influência preciosa na região.

Se a relação entre Irã e Rússia se tornar mais próxima, isso resultará em uma tensão ainda maior com os EUA. A crescente cooperação russo-iraniana também é um convite aos líderes dos EUA para atacar antes que tropas dos EUA se encontrem frente a um exército iraniano reforçado com equipamentos e conhecimentos russos.

Com cada dia de sanções dos EUA, os líderes do Irã se tornam cada vez mais desesperados, com menor vantagem caso os dois países se confrontem no campo de batalha ou na mesa de negociações.

Reduzindo a tensão

Com o aumento das tensões, os EUA enviaram 1.500 soldados adicionais ao Oriente Médio. O ultimato de 60 dias do Irã às partes do acordo nuclear termina no início de julho.

De acordo com o líder supremo, o aiatolá Khamenei, “a negociação não tem benefícios e traz danos”.

Os especialistas em Irã Colin Kahl e Jon Wolfsthal advertem: "As preferências de Bolton, e não as de Trump, estão ganhando."

Ainda há tempo para o presidente Trump retirar os EUA desse perigoso duelo que ele permitiu que se intensificasse.

A maior esperança de Trump está no primeiro-ministro japonês, Abe Shinzo.

O Japão, que não faz parte do acordo nuclear de 2015, é um grande comprador de petróleo iraniano e a Abe é visto como um negociador neutro.

Abe visitou o Irã na semana passada - o primeiro líder japonês a fazer isso em quatro décadas - e se reuniu com o líder supremo Aiatolá Khamenei e com Rouhani para discutir o impasse.

Não está claro o que Abe pode alcançar neste clima tenso. Uma solução potencial está em uma diplomacia intensa e moderada, na qual os EUA, com base no acordo nuclear de 2015, negociam alívio de sanções por limites um pouco mais rígidos sobre o programa nuclear iraniano.

Isso inclui a renegociação das restrições às centrífugas do Irã, inspeções internacionais obrigatórias e do seu acúmulo de materiais nucleares. Um acordo nuclear ligeiramente modificado, como o acordo de comércio ligeiramente modificado de Trump com o Canadá e o México, pode ser reformulado como uma vitória para todos.

Trump sairia como pacificador e potencial candidato ao Prêmio Nobel. Os líderes do Irã poderiam então consertar sua economia.

O resultado vencedor de Trump, no entanto, não é o resultado que Bolton tem defendido há muito tempo.

Durante décadas, Bolton defendeu publicamente ataques preventivos contra o Iraque, a Coreia do Norte e o Irã. Apenas com relutância, talvez por medo de perder o emprego, Bolton concordou com uma política de mudança de comportamento em vez de uma mudança de regime.

Este é o preço que o Bolton paga para continuar sendo o conselheiro de segurança nacional do presidente - a pessoa que filtra os relatórios de inteligência para Trump, e o primeiro a entrar e último a sair da sala sempre que o presidente estiver discutindo assuntos de guerra e paz.

Se Abe falhar, a atual crise do Irã pode ainda se tornar a culminação da ambição de toda a vida de Bolton. Quando novas explosões sacudirem o Golfo Pérsico, militares dos EUA forem feridos ou mortos por proxies iranianos no Iraque, ou drones iranianos pipocarem nos céus da Arábia Saudita, será que o Presidente Trump resistirá ao impulso de escalar o conflito?

*Noah Weisbord é professor de Direito na Queen's University, Ontário (Canadá), e autor do livro "The Crime of Aggression: the Quest for Justice in an Age of Drones, Cyberattacks, Insurgents, and Autocrats" [O Crime de Agressão: a Busca por Justiça em uma Era de Drones, Ciberataques, Insurgentes e Autocratas]

Publicado com permissão. Link para o artigo original em inglês.

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