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Paramilitar nicaraguense manuseia sua arma | MARVIN RECINOS/AFP
Paramilitar nicaraguense manuseia sua arma| Foto: MARVIN RECINOS/AFP

O conselho permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos) aprovou nesta quarta-feira, com 21 votos a favor, três contrários e sete abstenções, uma dura resolução que condena a violência do governo de Daniel Ortega na Nicarágua, envolta em uma crise em meio a fortes protestos contra o presidente esquerdista. 

O documento "condena vigorosamente" os atos de repressão promovidos pela polícia e outros grupos paramilitares e pede, com urgência, que o governo da Nicarágua apoie um novo calendário eleitoral no país e a dialogar com a oposição. 

A CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), que visitou a Nicarágua em missão recente, considerou a situação "alarmante" e denunciou "práticas de terror, com detenções em massa e assassinatos". 

Segundo o presidente da CIDH, o brasileiro Paulo Abrão, a proporção de mortos (entre 285 mortos, 20 são policiais) indica "claramente" que a repressão do Estado é decisiva no confronto. "Para nós, há um único responsável: o Estado", declarou, à agência AFP. 

A Venezuela e a Bolívia manifestaram apoio à Nicarágua e afirmaram que a OEA promovia os interesses norte-americanos e assumia uma postura "intervencionista" com a decisão. 

Defesa

O representante da Nicarágua, embaixador Luis Alvarado Ramírez, acusou a OEA de agir como uma "santa inquisição" e disse que a decisão foi "injusta e improcedente". 

Segundo o diplomata, o objetivo dos opositores é "desestabilizar o Estado da Nicarágua" e promover "uma guerra psicológica de intensidade extraordinária" para tirar do poder um governo eleito legitimamente. Ele aponta que a OEA não tem informações suficientes a respeito da crise no país, e acusou a oposição de manter "centros de tortura e assassinatos" e de ser responsável pela morte de policiais, professores e mulheres. 

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Ele diz que o governo tem sido vítima de uma tentativa de golpe de Estado fomentada por grupos terroristas que querem desestabilizar a administração e tirar do poder um governo eleito legitimamente. 

"Nós estamos diante de um golpe de Estado, que ocorre de forma paulatina e progressiva", afirmou Ramírez. "Grupos terroristas são financiados para tirar do poder um governo legítimo; é inaceitável." 

Divisão

A esquerda brasileira -e latino-americana- está dividida sobre o líder do movimento sandinista, que, nos anos 1970, inspirou milhares na região ao derrubar a ditadura Somoza, mas que hoje comanda uma repressão responsável pela morte de cerca de 360 pessoas em três meses, muitos deles estudantes universitários. 

Entre os mais críticos está o ex-presidente e senador uruguaio José "Pepe" Mujica. "Sinto que algo que foi um sonho se desvia, cai em autocracia", disse ele. "E entendo que aqueles foram revolucionários perderam hoje o senso de que, na vida, há momentos em que devem dizer: 'Vou embora'". 

No Chile, o Partido Socialista, da ex-presidente Michelle Bachelet, manifestou, em nota, "nossa indignação contra a violenta repressão" e defendeu o "restabelecimento da normalidade democrática" no país centro-americano.

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No Brasil, o PSOL tem liderado as críticas de esquerda contra a onda de repressão. "Há muito tempo a gente não via [na América Latina] um governo com esse nível de repressão", diz o dirigente. "Ele está transformando um protesto político radicalizado numa guerra civil", diz Israel Dutra, secretário de Relações Internacionais do partido. 

Membro do Foro de São Paulo, que reúne agremiações da esquerda latino-americana, o PT foi um dos que respaldaram o apoio do grupo à Nicarágua, durante encontro em Havana, nesta semana. "Depois de tantos sucessos, sofremos uma contraofensiva neoliberal, imperialista, multifacetada, com guerra econômica, mediática, golpes judiciais e parlamentares, como ocorre na Nicarágua e ocorreu na Venezuela", disse, durante o encontro, a secretária de Relações Internacionais do PT, Mônica Valente. A declaração foi reproduzida pela Chancelaria venezuelana.

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