• Carregando...
origem covid
Investigadores da OMS acreditam que um animal transmitiu o Sars-CoV-2 de morcegos ao ser humano. Alguns estudos feitos no ano passado indicam que o pangolim pode ter relação com a origem da Covid-19.| Foto: JIMIN LAI/AFP

Uma equipe de investigadores da OMS e da China concluiu que o cenário mais provável para explicar a origem da pandemia de Covid-19 é de que o novo coronavírus tenha sido transmitido de morcegos a humanos por um animal ainda não identificado. A alegação está presente em uma prévia do relatório do grupo de pesquisadores internacionais que visitou a China em fevereiro. O documento, que deve ser publicado nesta terça-feira (30), foi obtido antecipadamente pela agência de notícias Associated Press.

A conclusão do relatório está de acordo com o que pesquisadores da OMS e da China já haviam defendido em coletiva de imprensa após a visita a Wuhan, e também considera que a teoria de que o vírus vazou de um laboratório chinês é “extremamente improvável”. Contudo, a publicação do documento deve ter pouco efeito em mitigar dúvidas a respeito do surgimento da Covid-19, já que há relatos de que a China bloqueou acesso dos investigadores a informações cruciais sobre o surto inicial da doença em Wuhan, além de suspeitas de que as autoridades chinesas tenham influenciado as conclusões do relatório.

Os quatro cenários

O relatório ao qual a AP teve acesso apresenta quatro hipóteses sobre o surgimento do Sars-CoV-2. O mais provável, segundo os investigadores, é o cenário em que o vírus foi transmitido de morcegos para um outro animal, que então teria infectado um humano.

Morcegos são conhecidos hospedeiros de tipos de coronavírus. A relação entre esse animal e o vírus começou a ser estudada com mais profundidade depois da epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) que atingiu principalmente a Ásia entre 2002 e 2003.

Até agora, o “parente” mais próximo do Sars-CoV-2 foi encontrado em morcegos. No entanto, o relatório afirma que “a distância evolutiva entre esses vírus de morcego e o Sars-CoV-2 é estimada em várias décadas, sugerindo um elo perdido”. Até agora não se sabe qual animal foi o hospedeiro intermediário. Há especulações de que possa ter sido pangolins, visons ou gatos.

A hipótese de que o vírus tenha sido passado de morcegos diretamente para humanos é considerada “provável”, embora menos do que a teoria anterior.

Os pesquisadores também analisaram a hipótese de que o vírus tenha chegado a Wuhan por meio de uma cadeia de produtos alimentícios congelados – amplamente defendida dentro da China, mas refutada por cientistas de outros países. O relatório concluiu que essa versão é “possível” mas não “provável” para explicar a pandemia de Covid-19.

“Embora haja alguma evidência de possível reintrodução de Sars-CoV-2 através do manuseio de produtos congelados contaminados importados na China desde a onda pandêmica inicial, isso seria extraordinário em 2019, onde o vírus não estava circulando amplamente”, afirma o estudo obtido pela AP.

O quarto cenário diz respeito a um possível “vazamento” acidental do vírus em um laboratório de pesquisa de Wuhan que estava estudando coronavírus de amostras coletadas em morcegos em cavernas da China. Mas, como já havia sido dito anteriormente pelos próprios investigadores da OMS, essa teoria foi considerada como "extremamente improvável”.

De acordo com a AP, os cientistas da OMS consideram que acidentes de laboratório são raros e os laboratórios em Wuhan que trabalham com coronavírus e vacinas são bem administrados. Também observaram que não há registro de vírus intimamente relacionados ao Sars-CoV-2 em qualquer laboratório antes de dezembro de 2019 e que o risco de o vírus ter sido uma “criação acidental” é extremamente baixo.

A segurança dos laboratórios chineses, contudo, não é consenso. O colunista Josh Rogin, do jornal Washington Post, revelou no ano passado que teve acesso a telegramas diplomáticos entre a Casa Branca e funcionários americanos que visitaram o Instituto de Virologia de Wuhan, laboratório onde pode ter ocorrido o acidente, datados de janeiro de 2018. Esses telegramas, segundo o jornalista, alertavam sobre as fraquezas de segurança e gerenciamento no laboratório e também que o trabalho que os pesquisadores chineses estavam conduzindo com coronavírus encontrados em morcegos criava um risco de pandemia.

Mercado de Wuhan

A equipe também foi inconclusiva sobre como o surto de Covid-19 iniciou na China. Em janeiro do ano passado, ganhou força a narrativa de que os primeiros casos estariam relacionados a um mercado de frutos do mar de Wuhan. Mas casos sem nenhuma relação com o mercado foram detectados antes. Os pesquisadores da OMS apontaram, porém, que pode haver uma relação entre esses casos por meio de pacientes com sintomas leves não detectados.

“Nenhuma conclusão firme, portanto, sobre o papel do mercado de Huanan na origem do surto, ou como a infecção foi introduzida no mercado, pode ser feita atualmente”, afirma o relatório.

Pressão chinesa e americana

O relatório ainda não publicado foi motivo de mais troca de farpas entre diplomatas americanos e chineses no fim de semana.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse em entrevista à CNN no domingo que o governo de Joe Biden tem “preocupações reais sobre a metodologia e o processo que envolveu esse relatório, incluindo o fato de que o governo de Pequim aparentemente ajudou a escrevê-lo”.

Nesta segunda-feira, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China respondeu: “Os EUA têm se manifestado sobre o relatório. Ao fazer isso, os EUA não estão tentando exercer pressão política sobre os membros do grupo de especialistas da OMS?”.

Segundo a AP, membros da OMS, inclusive o diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus já estão com o relatório em mãos.

“Vamos ler o relatório e discutir, digerir seu conteúdo e os próximos passos com os Estados membros”, disse Tedros. “Mas, como eu disse, todas as hipóteses estão sobre a mesa e justificam estudos completos e mais aprofundados do que vi até agora”.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]