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Caixão com um esqueleto de Margaret Thatcher | Cathal McNaughton/Reuters
Caixão com um esqueleto de Margaret Thatcher| Foto: Cathal McNaughton/Reuters

Os opositores de Margaret Thatcher saíram às ruas nesta quarta-feira (17) em vários pontos do Reino Unido para mostrar a rejeição ao seu legado e celebrar com gritos de júbilo a morte de uma primeira-ministra que dividiu o país.

"Maggie, Maggie, Maggie, morta, morta, morta!", era o cântico repetido por uma geração de britânicos que sofreu na própria pele o thatcherismo e a implantação do neoliberalismo na Grã-Bretanha.

Centenas de pessoas também se congregaram em Londres para "dar as costas" ao caixão de Thatcher em passagem em direção à catedral de Saint Paul, onde foi realizado o funeral da ex-primeira-ministra, que, apesar de não ter sido de Estado, teve um custo de R$ 30 milhões, fato que indignou parte da população.

"Estamos aqui porque nos parece escandaloso gastar este dinheiro em um momento que os demais países da Europa vivem um momento de austeridade e para protestar por seu nefasto legado, que foi marcado pela destruição de comunidades inteiras para favorecer ao setor financeiro", afirmou à Agência Efe Jeff Powell, professor de economia da Universidade de Londres, que participou do ato ao lado de sua esposa e seu bebê.

Entre vaias, slogans que faziam alusão a esse suposto "desperdício" e ao som do tema gospel "Oh Happy Day", que era cantado por alguns dos opositores, o caixão com os restos mortais da chamada "Dama de Ferro" chegou ao seu destino também acompanhado por vários partidários que se amontoavam para prestar um último tributo.

Os protestos e celebrações foram mais intensos no norte da Inglaterra, onde os efeitos das políticas de Thatcher, como o fechamento de fábricas e minas, eram mais visíveis durante os anos 80.

O secretário-geral da Associação de mineiros de Durham, David Hopper, um dos principais articuladores das ações de protestos em torno do funeral de Thatcher, ainda fez questão de ressaltar que "toda uma geração de sindicalistas dançará sobre o túmulo" da ex-primeira-ministra, que restringiu os direitos sindicais após a greve de um ano pelo fechamento dos poços.

"Para mim tanto faz que digam que essa ação não é de bom gosto, já que o que ela fez com nossas comunidades foi muito pior", completou o ex-mineiro.

"O fato de o governo ter transformado o funeral de Thatcher em um ato público deram espaço aos opositores também expressar publicamente o repudio à figura de Thatcher, sem deixar de reconhecer o respeito que merece privadamente qualquer falecido", afirmou à Agência Efe o estudante Steve Cogan.

Em Goldthorpe, outra antiga zona mineira do nordeste inglês, os moradores locais penduraram um fantoche de Thatcher em uma corda e, posteriormente, entoaram um grito de "ladra de leite" em referência a sua iniciativa de retirar o leite gratuito das escolas públicas.

Em Liverpool, uma das cidades onde a ex-líder conservadora desperta mais rancor pela redução de empregos nos píeres, a Prefeitura decidiu não transmitir o funeral da ex-primeira-ministra "para evitar possíveis distúrbios", indicou um porta-voz.

Já na Escócia, onde quase não há voto conservador, também foram organizados eventos de protesto, incluindo um ato em Glasgow com deputados e ativistas, enquanto o ministro principal escocês, o nacionalista Alex Salmond, um habitual crítico do thatcherismo, assistia o funeral em Londres.

Os ex-mineiros de Gales, onde há uma forte tradição de solene respeito aos mortos, não organizaram atos públicos de protestos, embora muitos tenham celebrado a morte da líder conservadora de modo privado, segundo o secretário-geral de seu sindicato, Wayne Thomas.

A oposição a Thatcher foi também manifestada na Irlanda do Norte, onde a população republicana lembrou o tratamento dado aos presos do Exército Republicano Irlandês (IRA) durante seu mandato, quando dez presos morreram após a realização de uma greve de fome, entre eles Bobby Sands.

Na cidade inglesa Grantham, onde o pai de Margaret Thatcher tinha uma loja de alimentos - hoje uma clínica -, um manifestante, identificado como John Morgan organizou um protesto solitário e se dirigiu ao local citado com um cartaz para denunciar "o exercício de propaganda política" feito pelo Governo de David Cameron com este funeral.

Morgan, que faz parte do Partido Trabalhista local, criticou "o gasto de milhões para homenagear a pior primeira-ministra que o país já teve", embora seja a favor de que Thatcher seja recordada com uma estátua no museu municipal, pois, segundo ele, trata-se de história, assim como o thatcherismo.

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