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J. William Middendorf
O ex-secretário da Marinha J. William Middendorf II| Foto: Divulgação/James E. Foehl/Marinha dos EUA

O ex-secretário da Marinha dos EUA J. William Middendorf considera que o país entrou numa nova guerra fria com a China em seu novo novo livro "The Great Nightfall: How We Win the New Cold War" (O grande anoitecer: como venceremos a nova guerra fria, em tradução livre). Para o podcast Daily Signal, ele explica a ameaça que a China representa aos interesses dos Estados Unidos. Middendorf, 96, membro do Conselho de Administração da The Heritage Foundation desde 1989, também fala sobre o que os militares americanos devem fazer para estarem preparados para enfrentar os adversários. Confira a entrevista que ele concedeu à jornalista Virginia Allen.

Allen: Sua biografia é incrivelmente impressionante. Você serviu como embaixador dos Estados Unidos na Holanda antes de se tornar o secretário da Marinha em meados dos anos 70. Você também chefiou a equipe de transição da CIA para o então presidente Ronald Reagan. E serviu como representante dos EUA na Comunidade Econômica Europeia, agora conhecida como a União Europeia. E você serviu na Marinha e em posições de liderança no governo americano durante toda a Guerra Fria. Você se importaria de, em apenas alguns minutos, nos contar um pouco sobre como era estar servindo na linha de frente durante a Guerra Fria?

Middendorf: Eu estava principalmente na parte da construção naval. É claro que a função do secretário da Marinha é fornecer o material e as armas e recrutar os homens e mulheres para a Marinha. Assim, durante a Guerra Fria, patrocinei navios e aviões de longo prazo que eram necessários para vencer a Guerra Fria. O longo prazo é de cerca de 10 anos.

Então, para construir qualquer sistema de armas, começamos a produção em um submarino Trident, que é o submarino da classe Ohio, que transporta a ogiva nuclear CBM, ogiva nuclear de longo alcance. Foi o escudo principal da América, 70% de todo o nosso arsenal nuclear foi implantado neles.

Também iniciamos o programa Míssil Aegis, construindo uma frota de 60 navios, os primeiros cruzadores com radar avançado que podiam detectar sistemas avançados de armas da União Soviética e abatê-los.

E, finalmente, construímos o F-18, um avançado caça de ataque aéreo. Dez anos depois, eles estavam na frente e no centro da Guerra Fria e juntamente com eles e as armas avançadas desenvolvidas pela Força Aérea e pelo Exército, conseguimos vencer a Guerra Fria. Os soviéticos tiveram que desistir.

Com base nessa experiência, escrevi o livro "The Great Nightfall: Como Vencemos a Nova Guerra Fria", que é basicamente contra a China. A China ... está construindo alguns sistemas de armas muito avançados e eles representam hoje uma ameaça que é exponencialmente maior do que a ameaça que enfrentamos no final da primeira Guerra Fria.

Allen: Você pode nos falar um pouco mais especificamente sobre essa ameaça? Porque eu acho que muitos americanos, nós vemos a China como uma ameaça, certamente econômica, certamente tecnológica. Mas especificamente, como a China é uma ameaça militar para os Estados Unidos?

Middendorf: De várias formas, tanto convencionais como não convencionais de guerra. A Marinha deles agora supera a nossa. Eles construíram 350 navios e a nossa tem 293 [embarcações]. A maioria das pessoas não está ciente disso. E eles estão construindo seus porta-aviões e estão propondo um quinto porta-aviões, que será nuclear.

As capacidades de mísseis que eles têm são muito avançadas. Eles e os russos desenvolveram mísseis de cruzeiro hipersônicos, de 4.000 milhas [de alcance]. E nós não temos defesa. Como disse o [ex] Secretário [de Defesa James] Mattis: "Não temos defesa contra estes". Isto poderia ser um xeque-mate em uma séria altercação. Eles construíram alguns submarinos avançados muito competentes e têm capacidades de guerra antissubmarina.

Além disso, eles entraram fortemente no sistemas de guerra não convencionais, a ameaça de pulso eletromagnético para os Estados Unidos é vital porque nós ficamos nus, por assim dizer, se eles detonarem uma explosão nuclear a umas 100 milhas sobre Omaha.

Isso incapacitaria a maior parte da nossa rede elétrica por muitos meses. E o Departamento de Defesa há alguns anos disse que perderíamos 80% da população em seis ou oito meses antes que isso pudesse ser totalmente reparado. Estamos trabalhando duro para corrigir esse desequilíbrio, mas ainda não estamos lá.

Além disso, se você considerar uma nova forma de guerra, a guerra cibernética é igualmente importante, na medida em que faz o download de nossa inteligência e, em seguida, de nossos principais segredos.

Há dois anos, em uma ação muito drástica, os chineses baixaram nossos principais segredos nucleares de uma instalação submarina em Newport, Rhode Island. Foram 600 gigabytes, eu acho, algo assim. Foi uma perda devastadora para nós. Isso é um ato de guerra, se é que alguma vez houve um considerando-se uma guerra não convencional.

Portanto, estamos bem dentro da segunda Guerra Fria por esse mesmo ato. Além disso, o fato de eles terem roubado tudo o mais que temos que está nos computadores.

O novo avião de ataque deles se parece notavelmente com nosso F-35 e provavelmente tem quase tantas capacidades, provavelmente porque eles acessaram nossos principais segredos.

Além disso, eles desenvolveram uma capacidade antissatélite tremendamente capaz no espaço, onde podem danificar todos os nossos sistemas GPS. Os russos estão com eles nisso. E ambos têm essas capacidades.

Estamos montando uma Força Espacial e estamos tentando alcançar essa área, mas temos um longo caminho a percorrer. Não é apenas a guerra cinética - que ainda é a Segunda Guerra Mundial, a guerra dos sistema de armas pesadas contra sistemas de armas pesadas - mas também a não convencional, onde enfrentamos nossas maiores ameaças.

Allen: O que os EUA estão fazendo a respeito disso? Como estamos nos preparando para poder enfrentar a força da China?

Middendorf: Bem, infelizmente, estamos atrasados, porque durante oito a dez anos, duas administrações anteriores reduziram nossos gastos militares, especialmente com sistemas avançados de armamento. E tiraram 800 bilhões de dólares de nosso orçamento militar e os desviaram para outros programas.

Então acabamos em 2017 e 2018 em uma situação difícil, realmente muito difícil. E agora adicionamos algumas centenas de milhões de dólares a cada ano ao orçamento, mas temos um longo caminho a percorrer.

E um dos sistemas avançados de armamento ... é realmente os submarinos da classe Virginia, que são muito silenciosos e têm os mísseis Tomahawk e Harpoon. Temos que acelerar o desenvolvimento deles de dois para três por ano.

Temos que construir o submarino da classe Columbia, que podemos começar a produzir para substituir o programa do submarino Trident, de 45 anos. O primeiro deveria começar a entrar em linha em 2031 e completaríamos esse programa no início da década de 2040. Depois poderíamos substituir o submarino Trident, que teria então 56 anos de idade. Essa é a única escolha que temos.

E a bordo do Columbia estará 80% de todo o nosso arsenal nuclear. E este, é claro, será o grande pacificador. É um submarino extremamente silencioso. Tem mais de 6.000 milhas de alcance e estas ogivas nucleares terrivelmente poderosas, o que deve neutralizar qualquer adversário em potencial.

Allen: Neste momento, os EUA estão no caminho certo? Já reconhecemos a verdadeira ameaça que a China representa? Você mencionou todas essas ações que estão mais ou menos em andamento, estamos nos movendo rapidamente nestas coisas ou a América realmente precisa acelerar o ritmo para realmente vencer a China nesta Guerra Fria?

Middendorf: Como eu disse, temos que avançar muito mais rápido se quisermos manter o nosso poder contra a China, a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte.

Além disso, lembre-se disso, existem 50.000 ogivas nucleares, provavelmente oito, 10 países que têm essas capacidades. E há muitos pontos críticos dos quais falo em meu livro, onde foram usadas ogivas nucleares – como a Índia, a China e o Paquistão.

O problema com o uso de ogivas nucleares é que uma vez que elas começam a ser usadas, elas proliferam muito rapidamente. Não haveria tempo nenhum antes que a retaliação ocorresse fora de controle. E em tempo de guerra, toda a moralidade desaparece muito rapidamente.

Meu pai e meu tio serviram ambos na Primeira Guerra Mundial e foi dito a eles, foi nos dito a todos que a guerra do gás não ocorreria. Era muito devastadora, mas foi usada instantaneamente. Ambos os lados a utilizavam com efeito devastador, quer queira ou quer não, e ela ocasionou ... muitas baixas em todos os lugares.

O mesmo seria verdade quando a guerra nuclear começasse a ser usada, primeiramente por esses países desonestos, possivelmente, que proliferarão [o uso das armas nucleares] para os países maiores. Muitas das grandes cidades, por exemplo, Pequim, ou Nova York, ou Los Angeles, poderiam ser reduzidas muito rapidamente a pistas de patinação no gelo.

© 2020 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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