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Curitiba – O anúncio do pacote de US$ 50 bilhões que o Grupo dos Oito (Alemanha, Canadá, França, Estados Unidos, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia) decidiu destinar à África até 2010 foi abafado pelas atentados de 7 de julho contra Londres. Mas as poucas discussões sobre o tema mostram que a ajuda não é uma unanimidade. Há quem diga que ela só reproduz o perverso sistema econômico do continente. Outros acham que é tudo uma questão de aplicar bem os recursos.

As Nações Unidas consideraram a ajuda importante para promover a auto-suficiência do continente africano, mas por outro lado, lamentaram que o G8 não tenha estabelecido uma data para pôr fim aos seus subsídios, que seria o caminho mais curto para que os países africanos ganhassem acesso aos mercados externos em condições de competir.

A situação do continente é grave. Mais de 40% dos 800 milhões de africanos sobrevivem com menos de US$ 1 por dia. Quase 2 milhões de doentes de aids morrem todos os anos. Cerca de 200 milhões passam fome. Ainda assim, o líder da Líbia, Muammar Kaddafi, é um dos que acha que a África deveria recusar as doações dos países ricos, argumentando que a solução seria a união dos africanos em uma só nação.

Também contrário às ajudas financeiras ao continente africano, o professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Argemiro Procópio, alega que somente a abertura dos mercados europeus à Àfrica poderia trazer desenvolvimento para a região.

Já Oscar Vilhena, diretor da organização não-governamental (ONG) Conectas Direitos Huma-nos e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acha que toda a ajuda é positiva, mas também concorda que a ativação das economias locais é essencial.

O planejamento será a palavra-chave na distribuição dos recursos do G8 aos países africanos até 2010, avalia Vilhena. "É preciso não repetir os erros de ajudas financeiras anteriores para garantir que o dinheiro beneficie quem precisa, alavancando os mercados locais."

Fernando Mourão, especialista em Relações Internacionais do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo (USP), considera o pacote positivo desde que haja um sistema adequado para a promoção do desenvolvimento econômico da região. De início, esse desenvolvimento passaria pela agricultura, pela expansão do turismo e pelos pequenos comércios.

"Os países africanos não têm reservas monetárias, qualquer alteração no mercado internacional tem grande impacto sobre o continente", diz Mourão.

Corrupção

Oscar Vilhena expõe ainda o entrave da corrupção na decisão de como e onde investir as doações. "Os investimentos precisam ser direcionados para governos (democráticos) de toda a nação e não para grupos. No fim dos anos 80, 70% do PIB de Moçambique era proveniente de ajuda externa. Sem fiscalização, o governo usava mal os recursos".

Dentre todos os problemas que a África enfrenta, a grande preocupação está centrada em dois países, Níger e Zimbábue, disse na sexta-feira o subsecretário da ONU para Assuntos Humanitários, Jean Egeland, que defende a intervenção internacional urgente. Nos dois países há milhões de pessoas sofrendo de subnutrição grave.

O funcionário das Nações Unidas também chama a atenção para as restrições do governo de Zimbábue para que as equipes de assistência humanitária da entidade possam atender os necessitados.

Além de enfrentar as conseqüências da seca, a situação se agravou pela administração negligente de Robert Mugabe. "Apesar disso, não é correto parar com as doações para castigar um governo com políticas incorretas, porque isso afeta a população", diz Egeland.

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