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O presidente americano Donald Trump no Rose Garde, na Casa Branca, em Washington, 11 de julho
O presidente americano Donald Trump no Rose Garde, na Casa Branca, em Washington, 11 de julho| Foto: Jabin Botsford / Washington Post

Em 2016, Paul Ryan, então presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, disse que os ataques de Donald Trump ao juiz Alonzo Curiel – Trump chamou o juiz americano de “mexicano” e alegou que por isso ele não seria imparcial para presidir o processo litigioso da Universidade Trump – eram a “definição literal de um comentário racista”. Essa crítica também se aplica ao tuíte de Trump de domingo, comentários que obviamente tinham como alvo as deputadas Ilhan Omar, Alexandria Ocasio-Cortez e outros membros do seu chamado "Esquadrão".

Estas são as palavras de Trump, na íntegra:

"É tão interessante ver mulheres congressistas democratas “progressistas”, que vieram originalmente de países cujos governos são uma catástrofe total e completa, os piores, mais corruptos e ineptos em todo o mundo (se é que eles ao menos têm um governo em funcionamento), agora em voz alta dizendo ferozmente ao povo dos Estados Unidos, a maior e mais poderosa nação na terra, como o nosso governo deve ser administrado. Por que elas não voltam e ajudam a consertar os lugares totalmente quebrados e infestados de crime de onde vieram? Depois voltem e nos mostrem como se faz. Esses lugares precisam muito de sua ajuda, vocês precisam ir o mais rápido possível. Tenho certeza de que Nancy Pelosi [presidente da Câmara] ficaria muito feliz em providenciar rapidamente viagens gratuitas!"

Com exceção de Omar, o país "de onde vieram" são os Estados Unidos da América. Todas essas mulheres congressistas, incluindo Omar, têm o direito constitucional de “dizer ao povo dos Estados Unidos” como nosso “governo deve ser administrado”. A própria noção de que americanos não-brancos deveriam deixar esse país e voltar às suas terras ancestrais para provar seu valor é profundamente repugnante.

Além disso, é especialmente grave quando um homem que foi fraco demais para enfrentar o recrutamento durante a guerra de sua própria geração agora pretende definir como os americanos devem reformar seu governo. Ele é a última pessoa que deve ser o árbitro do patriotismo ou da lealdade nacional.

O quase total silêncio (pelo menos até agora) dos líderes do Partido Republicano é profundamente desanimador. Eles não entendem a mensagem que o líder do seu partido está enviando – especialmente para os cidadãos não-brancos dos Estados Unidos? Eles não entendem que a malícia racial como estratégia política não apenas é uma proposição perdida, mas também profundamente divisiva, que mexem nas feridas políticas, culturais e espirituais mais profundas da América?

Mas o problema se estende muito além de Washington. Há muitos líderes do Partido Republicano que, francamente, entendem que criticar até o discurso racista do presidente seria uma decisão por sua própria conta e risco. As bases já deram o seu recado. A lealdade ao presidente deve ser absoluta ou o risco é de ser desafiado nas primárias. No entanto, os eleitores individuais também têm responsabilidades e precisam entender que a lealdade extraordinária a um homem malicioso demonstra o seu próprio desdém por seus concidadãos.

Vamos também comentar a ideia de que a única imigrante real criticada por Trump tenha uma dívida especial de gratidão ao país e, portanto, deve moderar suas críticas à política e à cultura americanas. Eu acredito que Ilhan Omar seja uma presença tóxica na política americana. Suas críticas são profundamente equivocadas. Mas ela deve moderar suas críticas porque elas estão erradas, não porque ela é uma imigrante.

As bênçãos da liberdade servem para todos os americanos, incluindo os imigrantes. E enquanto todos os americanos devem ser profundamente gratos por suas liberdades e pela oportunidade americana, é um fato simples que os cidadãos imigrantes realmente fizeram algo para ganhar seu status. Muitas vezes, eles migraram para cá com grande custo pessoal, aprenderam uma nova língua, construíram uma vida em uma nova terra, passaram em um teste que a maioria dos americanos não passaria e fizeram um juramento que a maioria dos americanos nunca fez.

Em contraste, o que os cidadãos naturais precisam para ganhar sua cidadania? Sobreviver ao trabalho de parto e nascer. E é isso. Na verdade, os cidadãos nascidos aqui devem exercer a maior gratidão. O que fizemos para ganhar nossa liberdade?

A polarização americana está chegando a uma fase perigosa. Em uma base bipartidária, as críticas aos presidentes e a nossos oponentes políticos estão aumentando. Tenho idade suficiente para lembrar-me de 2015, quando o ódio do Partido Republicano por Barack Obama, mesmo ocasionalmente, passou por cima do patriotismo republicano. Lembra quando Mike Huckabee chegou a pedir aos cristãos americanos que não se juntassem às forças armadas enquanto Obama – ou alguém como ele – fosse o presidente? Para qual país ele deveria voltar para que, de alguma forma, pudesse recuperar o nosso respeito?

Trump está empregando a malícia como estratégia política. Não é inteligente. Não é sagaz. É destrutivo e errado. O fato de tão poucos republicanos terem coragem suficiente para afirmar essa verdade óbvia fala de uma triste realidade – a podridão vai muito além do número 1600 da Pennsylvania Avenue.

*David French é escritor sênior da National Review, membro sênior do National Review Institute e veterano da Operação Liberdade do Iraque.

©2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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